Abrace a ansiedade, a raiva, o pesar e o incômodo
Julie Smith já é uma personalidade famosa. Seja por seu canal no Youtube, suas entrevistas, ou ainda o seu best-seller, Por Que Ninguém me Disse Isso Antes? O seu mais recente livro, Abra Quando (do original: Open When: A Companion for Life’s Twists and Turns), mostra que a autora evoluiu e amadureceu tanto na sua escrita e profundidade quanto no impacto da obra. No primeiro livro, tive a impressão de ausência de profundidade nas discussões. Tal ausência foi suprida na atual obra.
Seguindo a proposta da obra anterior, Julie discute situações tensas em nossas vidas, a maioria sendo ocorrências quase que diárias, e apresenta perspectivas e soluções. Ponto comum é o argumento de que deveríamos procurar nos conectar com outras pessoas - somos incompletos quando sozinhos. E conectar não no mundo digital e virtual - mas no mundo real. Conexões presenciais, em carne e osso. Além disso, deveríamos ter uma mente aberta e disposta a aprender novas coisas, com o esforço direcionado nesse sentido. Embora Smith não tenha falado explicitamente, aqui coloco, portanto, que também é aconselhável certa dose de humildade. Somente assim estaremos abertos para o novo - temos de aceitar que sabemos pouco, que temos limitações.
A obra é dividida em 3 grandes blocos. O primeiro discute situações nas quais é difícil estar com outras pessoas. Isso pode ocorrer por comparações - algo sempre desaconselhável, a não ser que saibamos qualificar a comparação. O desempenho que temos, por exemplo profissionalmente, não deveria alterar o nosso valor. O nosso valor é uma constante. Esse pensamento é muito comum em carreiras e trajetórias de sucesso, nas quais o fracasso, derrotas e rejeições abundam, mas não afeta o valor do indivíduo; ele sabe o seu valor. Portanto, ele continua.
Caso tenhamos problemas com amizades, a recomendação é que não assumamos o papel de vítima. Seja ativo, tome decisões. Se necessário, saia do círculo de amizade. É sempre possível recomeçar. Em situações desafiadoras, talvez em eventos sociais, a dica é enfrentá-las: se coloque na arena. Como na obra anterior, coragem é preciso. Na verdade, desde que venho lendo obras de psicologia e filosofia, coragem é normalmente a resposta para muitos dos desafios.
Teremos e sofreremos rejeições, mas isso não deveria alterar nosso valor e tampouco o que pensamos de nós. Rejeições podem ocorrer por uma miríade de fatores - Smith nos diz que ela poderia escrever um livro apenas detalhando possíveis fatores. Se não funcionou, bola para a frente. Siga e tente de novo.
Outras dicas são: tenha assertividade para buscar e dialogar; escolha suas batalhas (a maioria é apenas ego e perda de energia); cuidado para não ser muito duro consigo: somos todos um trabalho em progresso - longe da última forma. Sempre em transformação - e se possível para melhor.
A segunda parte do livro discute quando é difícil estarmos conosco. São situações nas quais nossa voz interna nos detona, ela se torna o maior crítico que temos - um crítico que não nos deixa em paz! 24 horas nos criticando! Smith diz que um evento (fracasso) não nos define. Lembre-se: nosso valor é constante. Avalie suas ações e não o seu caráter relacionado a esse fracasso. Importante também saber que o mundo não está tão preocupado com nossas falhas e limitações. Como antes, há o incentivo de irmos para cima das metas que temos. Avançar.
Se estamos tentando algo novo, iremos falhar. Se não estamos falhando, é porque não estamos nem mesmo tentando. Fracassos ocorrem, são experiências. Lições que ganhamos. Smith recomenda que sejamos ousados em nossos objetivos e que os busquemos - apenas essa postura já irá melhorar nosso humor.
A última parte nos ajuda quando é difícil estar com nossos sentimentos. A primeira recomendação é coragem para enfrentar seja o que for que esteja ativando o nosso temor. Julie nos diz para erguermos o nosso queixo e jogarmos os ombros para trás (muito semelhante à recomendação de Jordan Peterson na obra 12 regras: postura ereta e ombros para trás). Simultaneamente, tome medidas e decisões firmes. Esse comportamento auxilia nas mudanças hormonais de nosso corpo, melhorando tanto nosso humor quanto nossa perspectiva do problema sendo encarado (funciona! Experiência própria). Onde sentimos medo e somos amedrontados, é exatamente lá que nossa tarefa nos espera, já dizia Carl Jung.
Outras dicas são: i) aceite e vivencia o seu pesar, ii) mova o seu corpo e iii) tenha auto respeito e auto estima. Julie inova, como na obra anterior, ao recomendar que aceitemos sentimentos normalmente rechaçados. Se na obra anterior ela nos dizia para aceitarmos de braços abertos a ansiedade, nesta obra ela recomenda que abracemos o pesar e a raiva. A raiva é útil para nos mostrar algo que está nos incomodando, que precisamos tomar uma posição e que precisamos de proteção. O problema da raiva é que ela observa somente o nosso ponto de vista, negligenciando os dos outros. Assim, devemos aceitar a raiva mas conseguir se acalmar para ter essa perspectiva. Em outras palavras, usar a raiva a nosso favor.
"Às vezes, as decisões mais difíceis são as mais poderosas que podemos tomar". Assim, o livro nos incentiva a aprender a lidar com situações indesejadas, nos convidando a explorá-la, tomando ações e eventualmente superando-a. Sem dúvidas é uma obra que irá agregar conhecimento para os seus leitores.
--------------------------------------------------------------------------------
A resenha do primeiro livro de Julie Smith, Por Que Ninguém me Disse Isso Antes?, está aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário