Reduz o Crescimento Econômico e o Nosso Poder de Compra
Nos últimos dias eu tive duas publicações acadêmicas. A primeira foi o artigo escrito com professores da USP, UFF e UFSCAR, Forecasting the Innovation Efficiency of Oil and Gas Industry: remarks about the future in 2030. O segundo foi Política cambial no Brasil: abordagem GVAR (1980-2019), publicado na revista Economia Aplicada, uma das principais revistas nacionais de economia. Falarei do segundo artigo (o tema dele é mais legal). E novidade: ao contrário de todos artigos científicos que apresento neste espaço, este artigo foi escrito em português. Aos interessados, o link do artigo é esse aqui.
A pergunta que eu queria responder no artigo era: depreciar o câmbio brasileiro promove o crescimento econômico? Eu sempre tive dúvidas desse tipo de política, pois a depreciação do câmbio gera vários efeitos econômicos. Mas por aqui no Brasil, há muitos economistas e analistas que acreditam nessa política. E você leitor, o que acha?
Vou primeiro mostrar os possíveis efeitos da depreciação do câmbio brasileiro (lembrando que quando menciono câmbio estou me referindo ao câmbio reais por dólar, atualmente na casa dos 5.66 R$/US$; outra coisa: quando me refiro a "depreciação", isso significa que o valor está subindo, ou seja, o câmbio está subindo e o real está valendo menos comparativamente ao dólar dos Estados Unidos).
A depreciação do câmbio pode gerar:
i) queda do consumo privado (pois os produtos se tornam mais caros pelo encarecimento das importações). Estamos vivenciando esse efeito - amargamente, eu diria.
ii) queda do investimento (pois muitas empresas precisam importar peças, equipamentos, máquinas e matérias primas para produzirem; como as importações ficam mais caras com a depreciação do real, o investimento das empresas também se torna mais caro para elas)
iii) aumento das exportações (países que compram nossas mercadorias conseguem trocar mais dólares por reais, barateando para eles a nossas vendas)
iv) aumento do custo de vida (inflação tende a subir pelo encarecimento das importações). Ficamos mais pobres quando o câmbio se deprecia. Coloquei em vermelho porque estamos vivenciando esse efeito! (altas dos preços do café e do chocolate são em parte por conta da depreciação).
v) aumento da taxa de juros (pois o banco central vigia os preços; como os custos subiram, o banco central teria de elevar a taxa de juros Selic para combater o aumento dos preços). É o que o banco central tem feito nos últimos meses.
Note que os efeitos i, ii, iv e v não são bons! Apenas o efeito iii seria benéfico para o país. Assim, dadas essas considerações, eu sempre me questionei se depreciar o câmbio seria realmente bom para o Brasil.
Outro ponto é que o setor externo do país (empresas exportadoras) não é grande. Portanto, se ele se expandir, é provável que o efeito positivo na economia não seja muito grande. Pense comigo: se o consumo e o investimento despencam, mas as exportações sobem, como o PIB iria se comportar? A próxima figura mostra a simulação da depreciação cambial do real e o efeito das variáveis que mencionei.
Sem falsa modéstia, os resultados da figura ficaram muito bons - no sentido de seguirem a teoria macroeconômica. Veja que a inflação sobe (confirma ponto iv) e o banco central reage subindo a taxa de juros (confirma ponto v). Tanto o investimento quanto o consumo também despencam (confirmam pontos i e ii). Há melhora nas contas externas, com o superávit na conta corrente (confirma ponto iii). E o resultado final: o PIB (produto) cai.
Analisando a quantidade de efeitos negativos advindos da depreciação cambial, a queda do PIB não espanta.
Portanto, a figura mostra que, no Brasil, a depreciação cambial é relacionada com a queda do produto. Ficamos mais pobres com esse tipo de política.
Dessa forma, esse artigo mostra que deveríamos ser céticos com argumentos de "câmbio de equilíbrio" e "depreciar mais o real para tornar o setor externo competitivo". A evidência empírica mostra que essa política é nociva para a atividade econômica do país.
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