domingo, 24 de setembro de 2023

Regra de Taylor Pode se Beneficiar de Novas Evidências

Política monetária é afetada pelo mercado financeiro, prêmios de risco e pela economia mundial

regra de taylor política monetária


Depois de alguns meses difíceis em termos de publicação (avaliadores exigindo que meus artigos sejas reescritos, que os modelos econométricos sejam reestimados - em outras palavras, que o estudo seja repensado), consegui minha terceira publicação internacional neste ano de 2023. O artigo é A Endogeneidade da Política Monetária de Economias Emergentes (The endogeneity of monetary policies of emerging market economies). Link do artigo é esse aqui

No artigo eu analiso como os bancos centrais de 5 países emergentes (Brasil, Chile, México, Índia e África do Sul) reagem a choques externos e internos. O choque externo é quando o banco central dos Estados Unidos, o Fed, eleva sua taxa de juros. Em geral, espera-se que as demais economias reajam também elevando suas taxas de juros. Todavia, recentemente um estudo questionou esse resultado, argumentando que os bancos centrais de economias emergentes reduziam suas taxas de juros a choques provenientes dos EUA. Meus resultados refutam essa hipótese: quando o Fed aperta a política monetária (subida da taxa de juros), países emergentes tendem a também subirem suas taxas de juros. 

A principal parte do meu artigo, entretanto, é analisar a Regra de Taylor. Essa famosa regra nos diz que, quando a taxa de inflação sobe em, digamos 1%, o banco central deveria reagir subindo a taxa de juros em valor superior a 1%, para que ele consiga tanto reduzir o aumento dos preços (inflação) quanto controlar as expectativas inflacionárias. Atualmente, a maioria dos bancos centrais segue a Regra de Taylor.

Essa regra é construída por meio de um modelo no qual se relaciona a taxa de juros do banco central com a taxa de inflação e o PIB. Nesta construção, o arcabouço é de uma economia fechada (não há comércio internacional). Eu expando essa construção com três contribuições. A primeira é que eu realizo o estudo em um sistema de economia aberta (há comércio internacional). A segunda é que eu acrescento o mercado financeiro (mercado de câmbio e mercado de ações). A terceira é que eu argumento que o banco central também é influenciado pelo prêmio de risco

Falando do primeiro ponto. O modelo econométrico que eu construí se aproxima mais da realidade, pois toda economia, em variado grau, realizada comércio com outras nações. Portanto, o mundo no qual vivemos é de uma economia aberta, e não fechada. Mesmo economias muito fechadas, como Cuba e Coreia do Norte, em baixo grau, realizam comércio internacional. 

O segundo ponto é o de que o banco central é um participante do mercado financeiro. Além disso, o próprio mercado financeiro afeta decisões do banco central. Pense na taxa de câmbio. Quando a taxa de câmbio desvaloriza (real perde valor em relação ao dólar, ou seja, o valor do câmbio aumenta), há a tendência de que os importados se tornem mais caros. Produtores e vendedores podem repassar esse aumento ao consumidor. Neste caso, a inflação tenderia a se elevar, provocando uma possível reação do banco central. Eu mostro que existem dois efeitos da inflação no banco central: um efeito direto, e outro indireto, vindo do mercado financeiro. Por isso eu incluí o mercado financeiro na Regra de Taylor. 

Finalmente, o terceiro ponto utiliza o termo prêmio de risco. Prêmio de risco significa a remuneração adicional para o investidor que aceita tomar um risco adicional ao investir em um país emergente. Usarei o Brasil e os Estados Unidos como exemplo. Essas duas economias emitem títulos públicos para financiar o gasto do governo. Todavia, o risco de um possível calote é muito menor nos EUA, detentor da moeda mais forte do mundo, além de ser uma economia moderna e avançada em vários quesitos, em especial o tecnológico. O Brasil, por outro lado, tem um problema fiscal crônico, é uma economia em desenvolvimento, com vários setores atrasados. O investidor racional colocaria o seu capital nos EUA, e não no Brasil. Por que incorrer em risco se há um ativo livre de risco? Mas esse investidor poderia optar pelo Brasil caso a dívida pública brasileira pagasse maior taxa de juros, para compensar o risco adicional de investir no país. Essa diferença na taxa de juros do título dos EUA e do título brasileiro é o prêmio de risco (embora não seja um dos objetivos do meu estudo, o prêmio de risco é uma das razões do porquê as taxas de juros do Brasil serem maiores do que em outras economias). 

Os resultado empíricos do artigo confirmam essas hipóteses: o banco central, além de se preocupar com a inflação direta e com movimentos do PIB (o prognóstico da Regra de Taylor), também se preocupa com flutuações no mercado financeiro e com o que ocorre no mundo, portanto, o arcabouço de economia aberta é relevante quando tentamos entender como os bancos centrais reagem. Também mostrei que o prêmio de risco afeta as decisões do banco central.

Em resumo, meu artigo fornece informações sobre o estudo da política monetária dos bancos centrais. Alterações das taxas de juros dependem do ambiente econômico, e este é afetado por prêmios de risco, mercado financeiro, pela economia mundial, e por desvios da inflação e do produto. 






Nenhum comentário:

Postar um comentário