sábado, 30 de setembro de 2023

Banco Central Resolveu "Ajudar" o País?

Duração da queda da taxa de juros Selic dependerá de fatores internos e externos

juros selic


Como previsto, o banco central do Brasil (Bacen) tem reduzido a taxa de juros Selic. Quem criticava o Bacen por manter a taxa de juros elevada sob o argumento de inflar os bolsos dos ricos, dos que vivem investindo suas poupanças (respeitosamente cunhados de parasitas) e dos bancos, tem que explicar por que o banco, somente agora, decidiu jogar contra essas pessoas. Repentinamente, o banco central passou a se preocupar com os brasileiros? Tenho colegas de trabalho que fazem várias acusações ao Bacen, ao seu presidente, Roberto Campos Neto, de tentar minar o governo atual. E agora? Por que ele mudou?

Talvez a teoria que usam (ou a falta de uma teoria!) deva ser revista e alterada (eu diria descartada). Mas quem troca de mentalidade, reconhece erros, interpretações equivocadas e mal fundamentadas? É exigir muito. De toda forma, o movimento descendente da taxa de juros se iniciou, e a tendência é que ele continue nos próximos meses. 

Todavia, pelo menos dois fatores podem atrapalhar essa queda. Um é interno, o outro é externo. O interno é a conta pública, as despesas do governo geral. Como o gasto do governo representa mais ou menos 20% de todo o PIB, elevações desse gasto representam forte pressão sobre os preços. É como se os brasileiros passassem a gastar mais dado uma oferta fixa de bens e serviços. O resultado seria o aumento dos preços. Por isso que o banco central vigia de perto as contas do governo. E não, o Bacen não vigia a despesa pública para prejudicar os brasileiros vulneráveis, em outra teoria (?) de um Bacen maquiavélico. 

O segundo fator é a taxa de juros mundial, em especial a taxa de juros do banco central dos Estados Unidos, o Fed. No contexto econômico mundial, o Brasil é uma pequena economia aberta, que participa das trocas comerciais e financeiras, mas que tem baixa influência sobre os preços que regulam essas trocas. Um desses preços é a taxa de juros. O Bacen subir ou descer a taxa de juros Selic é irrelevante para os EUA. Todavia, se o Fed altera sua taxa de juros, há grandes consequências aqui no Brasil. Consequentemente, a Selic tende a seguir o comportamento da taxa de juros estabelecida pelo Fed.

Atualmente os EUA têm lidado com pressão nos preços, culminando na subida da taxa de juros pelo Fed. Caso esse movimento persista, ele irá impor um piso sobre a taxa de juros Selic. O raciocínio é simples. Tanto os EUA quanto o Brasil emitem dívida pública (entre outros ativos atrelados à taxa de juros). O investidor busca a maior rentabilidade, considerando o diferencial de juros entre essas economias e o comportamento da taxa de câmbio. Além disso, há o prêmio de risco, o fator que remunera o risco adicional de se investir em um país instável (é o nosso Brasil). Se a taxa do Fed se aproxima da taxa Selic, iríamos conviver com saídas abruptas de capital (pois o prêmio de risco estaria muito baixo). 

Outro equívoco nesse debate é pensar que uma taxa de juros Selic baixa, por si, resolveria os problemas econômicos do país, em especial o aumento do PIB e a queda do desemprego. No curto prazo, uma Selic baixa de fato ajudaria a melhorar esses indicadores. Mas no longo prazo, onde quem discute crescimento econômico, padrão de vida e desenvolvimento deveria olhar, o efeito da taxa de juros Selic é muito baixo, beirando a irrelevância. Se o desenvolvimento econômico dependesse apenas da taxa de juros, essa questão seria muito fácil de ser solucionada! 

Já escrevi em outros textos, mas aqui reproduzo novamente. Os principais fatores para o crescimento econômico sustentado de longo prazo são: estoque de capital físico (máquinas, equipamentos, softwares), capital humano (qualificação da mão de obra), instituições (Estado de direito, respeito às regras, cultura) e progresso tecnológico. Como o Brasil está nesses quesitos? E a queda da taxa de juros Selic promoveria esses fatores? Não? Bem, então talvez seja melhor deixar que o banco central se concentre na sua tarefa de reduzir e estabilizar os preços, algo que, a propósito, ele tem conseguido entregar.







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