terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Tarefas Inadiáveis

Na Economia, o custo da postergação sempre chega

câmbio, inflação, pib


Desde que a taxa de câmbio atingiu o valor de 6 reais por dólar, a depreciação do real pareceu ganhar força, com o câmbio atingindo 6,20. A subida do câmbio representará trabalho adicional para o banco central, que terá de elevar a taxa de juros Selic para combater os efeitos inflacionários advindos do câmbio.

Quando a taxa de câmbio sobe, como tem ocorrido, os importados se tornam mais caros: temos de pagar maior quantidade de reais para obter o mesmo produto. Desta forma, a subida do câmbio retira poder de compra da população. Se medir na ponta do lápis, pode ser que essa guinada do câmbio anule o efeito positivo dos programas sociais turbinados pelo governo. 

O aumento do câmbio tende a elevar o preço de diversos produtos devido à importação de componentes. Por exemplo, o pão precisa de trigo. O Brasil importa parte do trigo usado na produção de pães. Logo, pode ser que o aumento do câmbio impacte, indiretamente, no preço dos pães. Idem para o caso de combustível, alimentação, eletrônicos e importados em geral. No caso do combustível, como o país utiliza em grande escala o transporte rodoviário, o aumento do preço dos combustíveis tende a pressionar os demais preços. Mais pressão sobre a inflação. 

Outro efeito do câmbio em ascensão é o enfraquecimento na competição entre produtos no Brasil. Como os importados se tornam mais caros, o produtores nacionais ganham folga em aumentar os seus preços, pois a concorrência internacional apresenta preços ascendentes. Novamente, pode-se esperar impacto negativo no poder de compra de consumidores. 

Daí o meu questionamento de que, mesmo realizando transferências de renda para parte da população, o governo pode até perder popularidade, caso tais transferências não compensem o aumento no custo de vida. Quem trabalha nessa área poderá dar maiores detalhes. 

Relacionada à disparada do câmbio estão acusações sem fundamento. Vou discutir duas. A primeira é a de que investidores estão se aproveitando do país e o explorando. Tal assertiva não faz sentido, pois quando a taxa de câmbio se deprecia (ou sobe, é a mesma coisa), temos o movimento de saída de capital do país, de saída de investidores e de credores. Esses indivíduos e entidades estão abandonando o país. Como estariam explorando-o?

A segunda informação incorreta é a de que o país estaria na iminência de uma crise econômica, que estaria quebrando. O Brasil não irá quebrar, pelo menos não nos próximos meses. A subida do câmbio mostra a piora das expectativas e do otimismo. Assim, investidores abandonaram o país, com a saída de capital gerando a depreciação cambial. O que pode ocorrer é que o país ficará mais pobre relativamente aos demais países. O PIB continua se expandindo (verdade que não ao passo desejado) e o mercado de trabalho gerando vagas. A inflação, embora siga pressionando o banco central, não irá virar hiperinflação. Em outras palavras, o momento não é bom, mas não é apocalíptico.  

O lado bom da disparada do câmbio é que ele evidencia urgências há muito tempo negligenciadas, como i) ajuste fiscal, ii) reformas fiscais, e iii) reformas estruturais. Precisamos alterar a forma como o gasto público ocorre e progride, e também igualmente importante a eficiência desse gasto. Não há como fugir dessa tarefa, seja o político de esquerda ou de direita. É um fato econômico a necessidade de ajustar o setor público

Enquanto tal ajuste não ocorrer, seguiremos tendo problemas com câmbio, taxa de juros, inflação e PIB. O que quero dizer é que para que o Brasil se torne uma economia moderna e sustentável, é necessário possuir contas públicas ajustadas. Por mais que isso incomode os políticos de plantão, essa tarefa precisa ser realizada - talvez mais rápido do que pensado anteriormente. 





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