sábado, 4 de janeiro de 2025

Capitalismo Melhorou a Desigualdade de Renda

Falta de visão histórica prejudica a discussão de desigualdade

feudalismo


Eu considero um equívoco afirmar que o capitalismo promove o aumento da desigualdade de renda. Primeiramente, não gosto do termo capitalismo. Prefiro economia de mercado. Mas tudo bem, usarei capitalismo, dado que a maioria das pessoas discute esse assunto usando essa denominação. 

Voltemos alguns séculos na história da humanidade. Na Grécia Antiga, com as famosas cidades de Atenas e Esparta, os cidadãos gregos conviviam com escravos - estes não tinham direitos. Mesmo no auge de Atenas, sob o comando de Péricles, os escravos continuavam por lá, executando o trabalho braçal, enquanto os não-escravos podiam discutir política e definir os rumos da cidade.  O que dizer da desigualdade de renda em um regime pautado por escravos?

Avançando alguns anos, por volta dos anos 400 antes e depois de Cristo, temos o Império Romano, que, de forma análoga com o grego, utilizava de escravos para produzir e liberar tempo para os romanos. A guerra era uma ferramenta relevante para os romanos, pois permitia elevar o número de escravos e espólios, além de expandir a base do império e elevar a receita de tributos. O que seria a desigualdade de renda em um regime permeado por povos vencidos, subjugados e por escravos?

Chegamos agora ao Feudalismo, por volta dos anos de 800 a 1499. No Feudalismo, a sociedade era rigidamente segregada entre senhores feudais, servos e cavalheiros. Quem nascia servo, morreria sendo servo. Mobilidade social? Não existia. Cavaleiros poderiam tentar melhorar suas vidas em batalhas, defendendo reinos ou feudos, ou ainda se juntando a determinados grupos. Mas os servos... Estes não tinham muita saída. Servos, além de produzir para os seus senhores, tinham de pagar tributos com a produção própria no parco tempo disponível para trabalhar. 

O Mercantilismo sucedeu o Feudalismo. O mercantilismo se caracterizou pelo esforço de países em conquistar novos mercados para vender os seus produtos, com a preocupação de exportar mais do que importar, além de protecionismo para as empresas nacionais e a regulação pública para proteger mercados. Além disso, o mercantilismo ainda contava com escravos - era comum as exportações e importações de escravos. Era um negócio. Escravo era um tipo de capital e de riqueza, pois entrava como insumo na produção. 

Agora chegamos ao Capitalismo, com a Revolução Industrial de 1750 na Inglaterra, a qual rapidamente se espalhou para outros países. Desde então, o Capitalismo foi adotado em escala global, auxiliando países a se tornarem mais ricos e prósperos. Converse com pessoas idosas, de gerações passadas, e compare o padrão de vida desfrutado por eles e por nós. A diferença será grande e favorável para a geração atual. Mas não esqueçamos o foco desse texto. E a desigualdade de renda?

Com a ascensão do capitalismo e a geração de renda, criou-se o incentivo de elevar sempre que possível a eficiência e a produtividade, pois é o aumento da produtividade que permite o aumento da renda e do padrão de vida. Percebeu-se que escravos não eram muito produtivos; assalariados produziam mais. Se acoplar remuneração por metas, então a produtividade aumenta ainda mais. O incentivo monetário sempre esteve por trás do movimento para a abolição da escravidão. E as mulheres? Na maior parte da humanidade, estas raramente tiveram voz. Com o capitalismo, todavia, essa figura se alterou. Mulheres no mercado de trabalho representariam maior produção e renda. Além disso, o progresso tecnológico promovido pelo desejo de elevar a produtividade e os lucros liberou tempo para todos - tempo para produzir e trabalhar. A criação da máquina de lavar foi revolucionária ao permitir maior tempo disponível para as mulheres. Hoje existe o movimento feminista. Hoje as mulheres tem bons empregos, maior remuneração, maior voz e maior educação. Sem a ascensão do capitalismo, tais coisas seriam impensáveis, como de fato foi. Alguém gritava fim da escravidão e da servidão no Feudalismo? Alguém discutia desigualdade de renda nos regimes passados? Não, leitor, não discutia. A desigualdade de renda é pauta moderna.

Desta forma, o capitalismo melhorou a desigualdade de renda ao liberar os escravos, as mulheres e os servos. Comparado com os regimes anteriores, o capitalismo é o que mais dá espaço à meritocracia. Podemos discutir mobilidade social somente porque o capitalismo abre espaço para esse tipo de mudança nas sociedades. Jovens nascidos pobres podem se educar, se qualificar, trabalhar e subir estratos sociais. Não é um absurdo a transição de indivíduos da pobreza para o nível de renda média. Todavia, esses movimentos no Feudalismo eram impensáveis. Portanto, o capitalismo ajudou a reduzir a desigualdade de renda.

O problema é que como o capitalismo resolveu vários problemas, ele evidenciou outros que já existiam. Concordo que a meritocracia não é perfeita. E concordo que existe desigualdade de renda. Mas note que a desigualdade de renda sempre existiu em sociedades humanas. Não é um produto do capitalismo. É produto do capitalismo a sua redução secular ao compará-la com o Feudalismo e o Mercantilismo

Desta forma, considero errado afirmar que o capitalismo promove a desigualdade de renda. Pelo contrário, ele a reduziu ao longo dos séculos.





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