Era esperado, ainda que não desejado
E depois de muito pessimismo com a economia brasileira, o cenário temido chegou, com a taxa de câmbio batendo 6 reais por dólar. Consequentemente, e para o nosso bem, ainda que não totalmente compreendido por população e políticos, o banco central decidiu – corretamente – subir a taxa de juros Selic. São variáveis que costumam caminhar conjuntamente: câmbio crescente e inflação ascendente andam de mão dadas com taxas de juros também crescentes.
Mas por que
estamos caminhando nesse cenário? A ausência de ajuste fiscal. O Brasil é um
Estado que gasta mais recursos do que arrecada. Portanto, precisa emitir dívida
para financiar o excesso de gasto. Assim o faz, mas os seus credores (eu entre
eles, pois invisto em títulos públicos – seria eu um parasita, como parte dos
críticos ao banco central denotam os investidores?) exigem pagamento de juros
pela postergação do consumo. É a recompensa por adiar o consumo. Esses credores
avaliam o risco de se investir no Brasil. Se a dívida pública está em
crescimento acelerado sem a promessa ou o comprometimento de ajuste fiscal, o
qual viabilizaria a sustentabilidade fiscal, no sentido do Estado conseguir pagar
a sua dívida, as taxas de juros iriam cair. Ativos pouco arriscados pagam baixa
taxa de juros, ao passo que ativos arriscados compensam investidores que
aceitam o maior risco por meio de maior pagamento de juros. Nada de novo sob o
céu, como dizia Eclesiastes.
A percepção
de que o Brasil está se tornando um ativo mais arriscado é a desvalorização
teimosa do câmbio. Fundos institucionais como fundos de pensão, de ações e
multimercados e também pessoas físicas estão retirando capital investido no
país, ou seja, estão resgatando dólares e os investindo em outros lugares. Isso
faz com que a moeda nacional, o real, perca valor.
A taxa de
câmbio desvalorizada torna os importados mais caros, contribuindo para o aumento
dos preços. Outro efeito é o de que se torna mais difícil para multinacionais
venderem os seus produtos em solo nacional. Assim, as empresas já estabelecidas
por aqui têm maior margem para manterem os seus preços um pouco mais elevados.
A entrada de importados é reduzida. Logo, a competição por produtos arrefece um
pouco. A inflação vai ganhando força, ou resiliência para cair.
Aqui entra
o “herói” da estória. Caso o banco central não subisse a taxa de juros Selic, possivelmente
essa dinâmica descrita poderia se converter em inflação de dois dígitos. Se exacerbada,
em hiperinflação, como nossa história recente nos atesta. O banco central
acerta ao combater o câmbio depreciado e a inflação crescente com o aumento da
taxa de juros. É o seu papel defender a moeda. O governo, por outro lado, ao
negligenciar as contas públicas, faz papel pouco honroso, depreciando a sua
moeda e corroendo todo o poder de compra dos brasileiros.
E por que o
governo não realiza o ajuste fiscal, dadas essas considerações? Eis o problema
de tudo: o governo não concorda com esse encadeamento! Ele tampouco acredita em
crise fiscal, necessidade de ajuste fiscal, ou a desejabilidade de ter
equilíbrio orçamentário! Em outras palavras, o governo tem pouca convicção de
que as contas públicas deveriam ser arrumadas e ajustadas. E eu, por outro
lado, defendo que, ainda que o Brasil tivesse equilíbrio fiscal, ele deveria
repensar, refazer e reestruturar toda a forma como o gasto e a tributação são
realizados, pois acredito que há muito espaço para melhora por conta das várias
ineficiências e desperdício de recursos.
Temos um sistema
previdenciário insustentável, um sistema tributário pouco funcional, falta de
critérios na realização do gasto público e na concessão de subsídios, ausência
de análise de custo-benefício para manter e criar programas públicos, várias e
várias isenções e privilégios sem o mínimo de justificativa plausível e pouco
incentivo para o setor público melhorar sua eficiência – adicionalmente, os gastos
são engessados, praticamente 95% de todo o gasto já tem destino. O Estado não
tem como redirecionar o gasto. Por isso, precisamos também da flexibilização do
gasto. Precisamos ainda de regras para limitar o crescimento da dívida e
mecanismos automáticos para contê-la em caso de subida.
Entendo o
governo em desejar evitar de realizar o ajuste fiscal: muitas pessoas irão
reclamar, pois sairão perdendo. Quem gosta de perder uma renda garantida há
anos? Quem gosta de perder privilégios, ainda que injustificados? Ninguém caro
leitor. E tenho a impressão de que o presidente Lula está mirando e visando somente
as eleições presidenciais. Falta ao Brasil um presidente com espírito estatista,
aquele que pensa no futuro e prosperidade da nação, e não em ganhos privados.
Essa crítica se estende aos nossos presidentes anteriores também, como Dilma e
Bolsonaro. Os dois correram do ajuste fiscal. Todos correm. E como o país fica?
Essa é fácil: fica com câmbio de 6 reais e juros crescentes.
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