terça-feira, 25 de março de 2025

É muito Negacionismo para o mesmo país

Situação segue complicada para o Brasil

lula bolsonaro


A isenção de imposto de renda para rendas de até 5 mil reais foi de fato implementada. Uma medida estranha para uma economia que precisa aumentar suas receitas tributárias para melhorar as contas públicas. Há, todavia, uma medida para contrabalancear: tributar os chamados “super-ricos”. Acredita-se que com isso o país conservará o equilíbrio das receitas, sem piorar muito as contas públicas. Enquanto isso, Lula observará atentamente o termômetro de sua avaliação pelos eleitores: o presidente defendeu essa medida puramente por conta do efeito eleitoral.

Nas redes sociais essa medida foi comemorada como avanço no combate à desigualdade de renda. É um equívoco. Há trabalhos e dados mostrando que os brasileiros que têm renda mensal de 3 mil reais estão entre os 10%-30% mais ricos do país (sim, nosso país é de renda média, estagnado, e flertando com a renda baixa). Isso significa que a isenção de renda beneficiará principalmente a classe média, e pouco os mais pobres. Em outras palavras, o efeito sobre a desigualdade de renda será baixo. Mas o efeito eleitoral está em aberto.

Pelo teor do texto, vocês podem notar que eu não gostei da medida. Sou um defensor do ajuste fiscal e do equilíbrio das contas públicas. Não gosto da abordagem de “lutar” contra a pobreza e a desigualdade de renda sem fazer o dever de casa. A ironia é que se o país tivesse as contas públicas arrumadas, tanto a desigualdade de renda quanto a pobreza iriam melhorar.

Contas fiscais em ordem gerariam menores taxas de juros e de inflação. Assim, os indivíduos mais vulneráveis aos aumentos dos preços não teriam esse problema, de crescente custo de vida e perda de poder de compra. A taxa de câmbio iria se reduzir, barateando os importados. Com a taxa de juros mais baixa, o país teria mais recursos sobrando e menor dívida pública. Sobraria recursos para financiar políticas pró-pobreza sem colocar em tensão as contas fiscais. Adicionalmente, com mais recursos e menor custo de financiamento, o investimento cresceria, criando empregos e aumentando a produção. Veja! São muitos efeitos positivos! Não parece bom? Mas como sempre, seguimos o caminho contrário e mais fácil (e, portanto, populista), negligenciando as contas fiscais.

Enquanto isso, Bolsonaro é julgado pelo STF por conta da tentativa de golpe pela perda das eleições. Quem acompanha esse blog sabe que não sou fã de Jair Bolsonaro. Tanto por conta de seu comportamento (inaceitável) durante a pandemia, se colocando contra as vacinas (negacionista), quanto pelo palavriado torpe, populista (Lula não é o único!) e falta de compromisso com o futuro econômico do país, nunca fui seu fã. Confesso que me iludi com Paulo Guedes – minha avaliação é que Guedes sucumbiu ao jogo político, abandonando suas propostas e seguindo a cartilha de falta de ajuste fiscal (mas o discurso de Guedes, principalmente durante as eleições, continua atual e certeiro: é o caminho para o país se tornar uma economia rica. Guedes é um bom economista). Bom, apesar disso, vivemos em um Estado de direito, logo, o direito de defesa deveria ser amplo, transparente e imparcial. Tenho a impressão de que Bolsonaro já entrou como julgado e culpado. Obviamente terá o rito do judiciário, mas vejo pouquíssima probabilidade de que ele receberá imparcialidade no julgamento (esse é o problema de irritar pessoas importantes e influentes durante períodos prósperos; quando a maré é revertida, há as consequências).

Voltando a falar de Lula. Ele não é negacionista no tocante às vacinas, mas o é em relação ao ajuste fiscal – não acredita nele. Suas declarações não deixam dúvida do desprezado que tem com os economistas e analistas que se preocupam com a saúde macroeconômica do Brasil. Outra ironia: o seu governo não foi para o buraco (no tocante à economia) justamente por conta do banco central e sua política monetária de subir as taxas de juros (muito criticada por Lula). Tivesse o banco central se curvado aos desejos de Lula, teríamos inflação de dois dígitos e Deus sabe lá como estaria a taxa de câmbio e as taxas de juros de longo prazo (sem muito exagero, elas teriam subido para valores bem mais altos do que os atuais). 

Como se vê, tivemos/temos dois presidentes negacionistas, um com as vacinas, outro com a economia. E há dúvidas por que o Brasil não avança?





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