domingo, 21 de abril de 2024

Espirros dos Estados Unidos e os seus Efeitos

Efeitos recessivos e prolongados

efeitos econômicos


Nessa semana eu tive minha quinta publicação do ano. O artigo é The Influence of the U.S. Uncertainty Shocks on Latin American Economies (A influência de choques de incerteza dos Estados Unidos sobre Economias Latinas), publicado na revista da FGV de São Paulo, a Brazilian Review of Econometrics. O artigo está neste link aqui. A revista teve atrasos, e o artigo, que era para ter sido publicado em dezembro de 2023, foi liberado somente em abril de 2024 (portanto, oficialmente ele consta como uma publicação de 2023).

Eu analiso se oscilações no humor dos norte-americanos em relação às conjunturas financeira e macroeconômica causam efeitos em 5 economias da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Peru e México). Um aspecto interessante é que eu não analiso se mudanças em variáveis econômicas dos Estados Unidos causam efeitos aqui na América Latina. Esse resultado é muito bem retratado por estudos empíricos e pela experiência, os quais sinalizam que sim; o que ocorre nos Estados Unidos (EUA) nos afetam. No meu artigo, por outro lado, eu investigo se mudanças na percepção de risco financeiro e macroeconômico (em outras palavras, na incerteza) pela população dos EUA geraria efeitos na América Latina.

Uma motivação para esse artigo é que muito do que ocorre na economia não precisa de fato ocorrer, basta que acreditemos que possa ocorrer. Crenças na economia importam. 

Exemplo clássico é a corrida bancária. Se todas as pessoas acreditam que o banco A irá quebrar, ele irá de fato quebrar, pois todos correntistas e investidores iriam resgatar os seus capitais com receio de perderem o dinheiro. Logo, uma crença (aqui, sem fundamento) gerou um efeito na economia. É essa relação entre incerteza (humor, ou percepção, ou mesmo crença) e efeitos econômicos que analisei no artigo. 

O primeiro resultado é que o aumento da incerteza na economia dos EUA faz com que o PIB dos países da América Latina caia. Subsequentemente, eu verifiquei como ocorria a queda da produção. Os candidatos foram os mercados de ações e de câmbio, o consumo privado e o investimento total. Essas variáveis caíram após o aumento da incerteza - exceção foram as taxas de câmbio, que subiram, representando a desvalorização das moedas nacionais em relação ao dólar. 

Desta forma, o aumento da incerteza nos EUA nos afetaria inicialmente pelos mercados financeiros, com a queda do mercado de ações e o aumento da desvalorização cambial. Esses movimentos representam a redução na riqueza e de poder de compra da população latino, acarretando a queda do consumo e do investimento. Por fim, essas quedas afetariam o produto (PIB). Eis o encadeamento do porquê o aumento da incerteza nos EUA (um evento, a princípio, desconectado da economia) geraria efeitos econômicos em países distantes.

Eu comparei a influência dos EUA com a de outras grandes economias, como a Zona do Euro, o Japão e o Reino Unido. Será que a incorporação dessas economias iria enfraquecer o efeito do choque de incerteza dos EUA? A resposta foi não. Os EUA ainda continuam com significativo poder de influenciar o que ocorre nas economias aqui na América Latina. 

O último teste foi comparar o efeito de choques locais, regionais, externos e dos EUA sobre as economias latinas. Novamente, o interesse era avaliar o quão influente era a incerteza dos EUA sobre os 5 países latinos. Choque local é o choque doméstico (se estamos vendo o Brasil, seria um choque brasileiro, como o aumento do PIB de forma inesperada); choque regional é um choque sobre outros países latinos; choque externo é o choque advindo de países ricos, exceto os EUA. Os resultados reforçaram a existência de efeitos advindos dos EUA sobre os países latinos. 

Desta forma, o artigo mostrou que incertezas que pairam nos EUA nos afetam. Eu avaliei incertezas nas esferas financeira e macroeconômica. Muito provavelmente outros tipos de incerteza também são relevantes, como as que envolvem o próximo presidente do país, atualmente entre Joe Biden e Donald Trump. 

Incertezas geopolíticas, como a participação dos EUA nos conflitos entre Ucrânia e Rússia, Israel e Hamas, e (talvez) China e Taiwan, também podem gerar efeitos nas economias latinas. Provavelmente trabalhos futuros irão fazer essas análises.

Todos esses eventos mudam e mexem com indivíduos, e a economia dos EUA é formada por esse aglomerado de pessoas, e índices de incerteza captam o humor dessas pessoas. Eu mostrei que existem relações entre as oscilações desse humor e variáveis econômicas. Mais do que isso, os resultados indicaram que o aumento da incerteza lá nos EUA gera efeitos recessivos aqui na América Latina, como as quedas do PIB, do consumo, do investimento e do mercado de ações, além da desvalorização cambial. Portanto, efeitos próximos ao de uma recessão.

 








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