quinta-feira, 4 de abril de 2024

Resenha: Potencial Oculto: A Ciência para Alcançar Coisas Maiores (Adam Grant)

Fatores para crescermos profissionalmente a cada dia

habilidades de caráter


Adam Grant seguiu carreira acadêmica na área de psicologia, publicando e pesquisando artigos sobre o comportamento humano, em especial sobre características que explicam o sucesso pessoal. O livro Potencial Oculto apresenta um guia de seus resultados.

A introdução fornece boa motivação para avançar na obra. Ela nos conta um episódio no qual um grupo de alunos pobres, de lares instáveis, de vizinhança violenta e de escolas de baixo nível venceu o campeonato nacional de xadrez (venceu ou chegou muito perto, agora a memória me falha). O ponto é que esse desacreditado grupo venceu outros grupos favoritos, constituídos de alunos provenientes das melhores escolas dos Estados Unidos, com pais ricos e outras condições propícias para o sucesso futuro. É o potencial oculto

A tese do livro é que todos temos um potencial oculto, mas temos de destravá-lo. Lares estáveis e de renda média-alta geram condições favoráveis para o florescimento desse potencial. Mas isso não é tudo. Atributos pessoais podem fazer toda a diferença. Melhor ainda, podemos aprender e desenvolver esses atributos. 

Antes porém, Grant argumenta que deveríamos olhar o sucesso de forma diferente: ao invés de analisar o quão longe determinado indivíduo chegou, deveríamos ver a distância que o mesmo percorreu considerando o seu ponto de partida. O livro retrata experiências de superação nas quais diferentes pessoas, em condições muito adversas, conseguiram se superar diversas vezes até atingirem o objetivo almejado - ou algo próximo dele.

O potencial oculto pode aparecer por meio de 3 características, que englobam as habilidades de caráter. A primeira é aceitar e se colocar em situações desconfortáveis. Elas irão nos forçar a nos reinventar, a sair da zona de conforto, a tentar novas estratégias, e mesmo aprender novas coisas. Se algo é desconfortável, possivelmente é porque não dominamos ou não o conhecemos totalmente. É preciso enfrentar e aceitar o desconforto - isso é muito comum em pessoas que estão aprendendo uma nova língua; é recomendável conversar com estrangeiros mesmo sem o domínio do idioma, pois esse desconforto impulsiona o aprendizado. 

A segunda característica é ser um esponja: absorver e adaptar. Colete informações para usá-las. Aqui eu lembrei de Jordan Peterson, que nos recomenda a ouvir pessoas que nos aborrecem, pois elas podem nos dar uma informação útil, por mais chato e irritante que seja fazer esse tipo de escuta. O ponto é que não sabemos tudo (nunca saberemos!). Há um mundo de informação e possibilidades, novas formas de atingir o objetivo almejado, ou construir pontes para chegar até ele. 

A terceira é que aceitemos a imperfeição. Na vida acadêmica, já me deparei com professores que se negavam a tentar publicar artigos porque o artigo nunca chegava no ponto de perfeição que desejavam. A verdade é que ele nunca chegará, pois não existe tal coisa. O perfeccionismo pode nos travar, fazer com que julguemos inadequado o nosso trabalho, quando na verdade uma dose de imperfeição é fundamental para avançarmos. 

Desta forma, as habilidades de caráter, consubstanciadas na tríade proatividade, disciplina e determinação, irão nos guiar para escalarmos alturas mais altas. Eu resumo esses atributos como perseverança, com ações ótimas ao longo do caminho. Se não desistirmos, continuarmos investindo constantemente na meta que almejamos, aceitar as derrotas e quedas, e sempre continuar, iremos melhorar. Nas palavras do autor: "Não há valor maior do que aspirar a ser melhor amanhã do que somos hoje". 

Seguir a trajetória que desejamos pode exigir motivação. Aqui entra o segundo grupo de habilidades, as motivacionais. Assim como as habilidades de caráter, essas aqui são formadas por 3 pontos. O primeiro é ter paixão pelo que deseja seguir. Essa paixão pode ser construída. O livro citar o astro do basquete, Stephen Curry, o qual transforma parte de seu treinamento em recreação, fazendo minijogos consigo mesmo para extrair entretenimento ao mesmo tempo em que está exercitando. Há subjetividade nesta parte. Talvez cada um de nós tenha de achar como conciliar paixão com o que fazemos.

Os outros dois pontos são próximos, eles nos dizem que devemos aceitar seguir caminhos diferentes do traçado orginalmente. Em outras palavras, dadas as diversas adversidades e derrotas que teremos, vale a pena recuar para avançar, ou mesmo dar vários círculos até conseguir atingir a meta. Portanto, temos de ser resilientes, lutar com o que temos, ainda que não seja o ideal, mas é o que temos. Como um dos meus professores de mestrado dizia: "A vida é labuta". E de fato é. 

Essa discussão engloba as duas primeiras partes do livro. A última mostra como escolas e empresas podem contribuir para difundir a emergência de potencial oculto de várias pessoas. No tocante às escolas, o autor examina as escolas da Finlândia, país referência na educação básica e secundária (ensino médio). A conclusão não é de que as escolas têm menos alunos por sala, contam com monitores, maior financiamento ou maiores salários para os professores. O diferencial é que há uma cultura na qual todo aluno é considerado detentor de um potencial. Todos são capazes. Não há privilégios para o aluno destaque, pois a meta é fazer com que todos sejam o destaque. 

Há estudos reforçando que o que pensamos de nós mesmos afeta nossas notas e desempenho acadêmico. Por exemplo, alunos negros, quando lembram do passado escravocrata e do racismo existente, tendem a ter notas inferiores em comparação com também alunos negros que não são lembrados dessas coisas. Em certo sentido, somos o que acreditamos ser. E isso se reflete nas notas. (Em paralelo, ontem assisti a um episódio da série Industry, do Max, no qual foi dito que: "Você é a sua visão"). 

Outras discussões são como ativar a inteligência coletiva em grupos (spoiler: o famoso brainstorm não é o ideal, pois ele favorece a voz mais alta, o extrovertido, ao passo que o introvertido e tímido perde espaço) e como alterar processos de seleção para que considerem não o ponto no qual os candidatos atingiram, mas a trajetória que percorreram até chegar onde estão. Há muito espaço para melhoras. Comparando algumas vezes nas quais tive de selecionar candidatos, eu cometi alguns dos erros elencados pela obra. 

Talvez o principal mérito do livro seja dar evidência empírica para características tidas como favoráveis para o nosso sucesso profissional. Perseverança, na minha opinião, ou como o livro coloca, disciplina, proatividade e determinação.  















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