sábado, 21 de setembro de 2024

Ferramentas para Ingressar no Mercado de Trabalho

E elevar a probabilidade de sucesso

qualificar economia



Quando aluno de graduação, eu tinha dúvidas sobre as habilidades que o mercado exigiria de um economista. Talvez por eu ter estudado em uma cidade do interior (Viçosa), ou por ter nascido em uma (Ubá), eu não tinha uma noção apropriada do mercado privado. Nos 4 anos que morei e estudei em São Paulo, capital, notei que a sua população mostrava maior conhecimento nesse quesito - incluindo não economistas. 

Com base nos 4 anos de meu doutorado em São Paulo, percebi que as empresas exigiam 4 habilidades de economistas. Dependendo do mês, nós alunos recebíamos propostas semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente. Essas habilidades são:
1) Noções de macroeconomia (e algumas vezes de microeconomia, mas no geral é de macroeconomia)
2) Experiência com bases de dados
3) Habilidades com softwares, como o R, Stata, Eviews (na maior parte das vezes, é o R)
4) Inglês intermediário e/ou fluente (algumas vezes espanhol é exigido também)

Dada a intensidade com que o mundo vai se tornando digital, com a ascensão da ampla utilização de dados e a difusão da inteligência artificial, imagino que os pontos 2 e 3 continuarão sendo fundamentais para uma boa colocação no mercado de trabalho. Não tem como escapar: goste ou não de econometria, alunos de economia, se desejam um bom posicionamento profissional, deverão mergulhar e se aprofundar em conhecimento estatístico

Alguns cursos de economia estão se adaptando a essa exigência, como é o caso do curso de economia da USP. No meu último ano por lá, houve uma reforma curricular para acomodar disciplinas de bases de dado. A meu ver, no país (e talvez no mundo), o curso de Ciências Econômicas é ainda muito teórico. O problema disso é que a maioria dos formandos não deseja seguir a carreira acadêmica, mas ingressar no mercado de trabalho. Logo, o caminho recomendado seria tornar o curso menos teórico e mais prático, capacitando os alunos com ferramentas estatísticas, habilidades com software e manuseio de bases de dados

Alterar grades de horários e disciplinas é tarefa dificílima. Em primeiro lugar, há de convencer a maioria dos professores da necessidade da mudança. E professores que não concordam com essa guinada em direção à disciplinas de métodos? E professores que construíram suas carreiras apenas com disciplinas de leitura? Como irão se inserir nesse cenário? Há sempre a questão do orgulho pessoal: aceitar tal mudança é concordar que a sua formação baseada em teoria não é mais tão importante. Quem aceita esse tipo de auto crítica? Poucos. 

Minha recomendação para alunos é focarem em disciplinas de econometria (curso que envolve ferramentas de matemática e estatística para estimar modelos), de bases de dados e atuarem empiricamente com softwares. Como quase tudo que é novo, o início é incômodo, pois causa estranheza a linguagem que é utilizada. Mas com o tempo e alguma insistência, essas coisas passam a se tornar menos estranhas. Ficamos familiarizados com elas. E assim o caminho para o domínio vai se abrindo. Tenho a impressão de que adquirir perícia decorre quase que unicamente de insistência, disciplina e tempo gasto. Seguindo essa tríade, o resultado vem. Demora, há altos e baixos, mas vem. Suor e transpiração, leitor, e quase nada de inspiração e talento. 

Obviamente que disciplinas puramente teóricas, baseadas em muita leitura continuam importantes. O conhecimento que temos hoje decorre do passado. Todavia, conforme as exigências do mercado e da sociedade se alteram, também acredito que cursos acadêmicos tenham também de mudar. É injusto com alunos manter a mesma estrutura do curso por comodismo de seus professores e demais profissionais.

Mais um argumento para a guinada de cursos de economia para a parte de métodos: na pesquisa científica, há 3 formas de construir e avançar uma hipótese. A primeira é pela discussão teórica, mostrando como que A pode afetar B. A segunda é mostrando nos dados que isso pode de fato ocorrer. A terceira (e a que considero a principal) é utilizar um modelo econométrico para mostrar que A pode ou não afetar B. Imagine um cientista que usasse somente a primeira forma de argumentação. Sua teoria estaria fragilizada. Ela precisa ser testada com dados. Ela precisa ainda passar no teste empírico, que é a econometria. As principais revistas científicas do mundo exigem essas 3 etapas. Pesquisadores podem decidir evitar as etapas 2 ou 3, mas também não irão conseguir publicar em revistas famosas. 

Nada impede que alunos busquem qualificações de bases de dados e softwares estatísticos fora das universidades. Há vários cursos ofertando esse conhecimento. O mesmo em relação ao aprendizado de línguas estrangeiras, principalmente o inglês. É possível usar a internet e o google para suprir essa lacuna que o curso de Ciências Econômicas apresenta. De novo, o segredo parece repousar em insistência, disciplina e tempo gasto adquirindo habilidades. Atributos invisíveis para quase todos - mas os resultados são concretos, tangíveis e facilmente vistos. 














Nenhum comentário:

Postar um comentário