sexta-feira, 6 de setembro de 2024

PIB e Indicadores Sociais

Vida no Brasil seria muito melhor caso o PIB subisse a níveis meteóricos 

pib produção


Uma crítica aos economistas é que nós focamos somente na parte material da sociedade, em especial, ao PIB. Se o PIB está aumentando rapidamente ao longo dos anos, tanto os mercados financeiros quanto os políticos no poder são bem avaliados. E tudo é tido como funcionando muito bem. Entretanto, basta o PIB deslizar, cair, e demorar para subir, que as críticas abundam. Tudo poderia ser resumido a como o PIB se comporta?

Sim e não. Vamos ao sim. Se o PIB está aumentando rapidamente, e em velocidade superior ao aumento populacional, temos aumento do PIB per capita (PIB dividido pela população). Quando o PIB per capita sobe, o país está aumentando o seu padrão de vida. Países com alto PIB per capita também apresentam melhores indicadores sociais e econômicos, como educação, saúde, infraestrutura, e violência. Portanto, se elevar o PIB contribui para melhorar indicadores sociais, então sem dúvidas esse é um bom argumento para o aumento do PIB.

Outro argumento é que economias com elevação do PIB por vários anos são economias vibrantes e dinâmicas. Consequentemente, são países nos quais há intensa criação de empregos e oportunidades para jovens sem experiência. Empresas pouco eficientes quebram e são substituídas por melhores empresas - o termo usado é mobilidade do capital. Neste tipo de país, os preços das mercadorias tendem a cair ao mesmo tempo que a oferta de bens e serviços é otimizada. Somente empresas que servem adequadamente os consumidores conseguiriam sobreviver. 

O terceiro argumento em prol do PIB é que quando o PIB sobe, o governo recebe maior receita tributária. Mais produção, maior renda e mais emprego significam mais pessoas e empresas pagando impostos, ainda que tais impostos não tenham mudado (mesma alíquota). O governo terá recursos para investir em programas públicos, corrigir distorções e contribuir para a melhora da economia, como investindo na manutenção da infraestrutura. Quando o PIB cresce pouco, como tem sido o caso brasileiro, o governo sofre para acumular receitas tributárias. Se este governo, novamente como o brasileiro, insiste em não cortar gastos, as contas públicas terão problemas, pois a entrada de receitas não é forte o suficiente. Novamente este é o caso do Brasil! Note que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem focalizado no aumento dos impostos para corrigir o buraco fiscal. Isso se deve à letargia da economia brasileira, que cresce pouco, auxiliando pouco o governo a arrecadar os fundos tão necessários para estabilizar a dívida pública. 

Deixarei o quarto argumento para o final do texto. Vamos para o não do PIB. O aumento do PIB pode vir acompanhado pela degradação ambiental (este tem sido o caso desde a Revolução Industrial de 1750), pela piora da saúde mental,  pela negligência com problemas sociais, como a desigualdade de renda, e falta de assistência a segmentos da sociedade. Essas coisas podem ocorrer simultaneamente ao aumento do PIB. Mas elas não excluem os pontos positivos que descrevi anteriormente. 

Todavia, veja que escrevi "pode". Não quer dizer que irá ocorrer. E aqui usarei o quarto argumento que posterguei em favor do PIB. Atualmente, tem ganhado ampla aceitação o fato de que deveríamos cuidar de nossa saúde mental. Vários estigmas relacionados à terapia e à necessidade de nos conhecermos melhor estão caindo por terra, abrindo espaço para a melhora da saúde mental. Mas de onde sairão os recursos para serem usados nos cuidados da saúde mental? De onde, caro leitor?

Outra correlação com países com elevado PIB per capita é a de que a população tem maior poder de compra. Maior poder de compra significa que essas pessoas conseguem utilizar serviços como o de cuidados da saúde mental. O orçamento consegue absorver o gasto com alimentação, moradia, entretenimento, atividades físicas, e saúde mental. Em países pobres, por outro lado, a maior parte do orçamento é gasta em alimentação - e às vezes não é suficiente. A pobreza, na prática, é algo pouco glamoroso.  

Portanto, tanto para países quanto para indivíduos, o aumento do PIB possibilita que usem parte da renda em saúde mental. Governos podem financiar atendimentos e a criação de clínicas, e indivíduos podem pagar pelas terapias, livros de auto ajuda e retiros. 

Olhe o caso brasileiro. O salário mínimo é de 1412 reais por mês. Mais ou menos 60% dos brasileiros recebem até um salário mínimo. De uma população de 210 milhões, isso significa que 126 milhões vivem com até um salário mínimo (note que não eliminei crianças e bebês da conta; a ideia é dar uma estimativa apenas). Essas pessoas conseguem pagar terapias de 100 reais? Do salário mínimo de 1412 reais, tirando aluguel, alimentação, contas de luz e de gás, internet e um pouco de lazer. Sobrará terapia? E se for terapia semanal? Não, não sobrará. Por isso afirmo que, no Brasil, terapia é um bem de luxo. Apenas uma pequena parcela da população tem acesso. 

Dadas essas considerações, não seria interessante que o PIB brasileiro voltasse a subir, com força, a ponto de fazer com que o PIB per capita subisse ainda mais, colocando o país no escalão dos países ricos? No final das contas, a preocupação de nós economistas com o PIB não é lá tão vazia e materialista quanto parece. 



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