quarta-feira, 18 de setembro de 2024

É Um Erro Mirar Somente a Indústria

Prosperidade depende de uma gama de fatores

indústria


Em uma de minhas aulas na graduação eu critiquei políticas econômicas implementadas pelo governo brasileiro em décadas passadas. Em particular, principalmente entre os anos de 1930 a 1970, o governo seguiu o processo de substituição de importações (PSI). O PSI consistia em estimular a indústria nacional para reduzir a dependência com a economia mundial, tornando-a auto suficiente. A ideia era reduzir a necessidade de importar mercadorias de outros países. Para isso, políticas como o aumento do protecionismo comercial (encarecer importações) e fornecimento de crédito subsidiado foram perseguidas.

Há várias críticas ao parágrafo anterior. O PSI escolhia setores específicos para fornecer benefícios, gerando privilegiados, os famosos “campeões nacionais”, aquelas empresas grandes que recebiam subsídios e outras vantagens (como saber qual empresa tem potencial para se tornar uma potência?). O PSI criou várias distorções na economia ao intervir na malha produtiva: setores se tornavam atrativos não por conta de fundamentos econômicos, mas pelas alterações impostas por regulamentos e políticas (Zona Franca de Manaus é um exemplo grotesco de distorções de incentivos). O PSI também reproduziu a parte da cultura brasileira de que é possível obter vantagens através do governo, pleiteando políticas. A competição pode ser vencida não no mercado – pode ser decidida ao dobrar políticos. Embora essas críticas sejam importantes, o ponto que quero chamar a atenção é a estratégia de fazer o país se tornar rico e desenvolvido focando unicamente no crescimento da indústria.

Talvez este tenha sido o maior pecado do PSI e dos economistas que apoiaram essa estratégia: concluíram que o crescimento econômico forte e sustentado poderia vir com o avanço da indústria. Parte do equívoco se deu pela compreensão de que países como a Inglaterra, Alemanha, Japão e Estados Unidos se tornaram ricos pela ascensão de uma forte indústria, exportando várias mercadorias para a economia mundial. Mas esses analistas se esqueceram de que outros países também se tornaram ricos seguindo caminho diferente. O canal não foi pela indústria. Decorreu pela agricultura. Exemplos são o Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Dinamarca. 

Além desse equívoco, há outro ainda pior. O crescimento econômico e a prosperidade de um país não dependem somente da indústria, mas de uma gama de fatores. Alguns desses fatores são:

1) Qualificação da mão de obra

2) Investimento em máquinas e equipamentos sofisticados 

3) Inovação tecnológica

4) Participação no comércio internacional

5) Infraestrutura moderna

6) Qualidade das instituições políticas e econômicas (Estado de Direito, respeito às leis, facilidade em abrir empresas, respeito à propriedade privada)

7) Cultura que apoia o trabalho, o estudo, a produtividade e premia o respeito às leis

8) Ambiente macroeconômico estável

9) Existência de rede de proteção pública e governo eficiente nas suas políticas

Se o processo para se tornar um país rico depende desses fatores, por que focar somente na indústria? Por que tal obsessão? Leitor, reflita comigo: um país com uma ditadura e um ambiente econômico caótico, ainda que tenha uma indústria em crescimento, se tornaria rico e próspero? Veja a Venezuela, uma ditadura na qual o seu líder não aceita ceder o poder, desrespeita toda a população ao negar o resultado das eleições, e ainda não consegue administrar minimamente a economia do país, que está em frangalhos. Qual a chance da Venezuela se tornar rica, ainda que, em uma hipótese altamente improvável, tivesse uma indústria vibrante e forte? Sem o suporte de instituições políticas adequadas e um ambiente macroeconômico estável, é difícil imaginar a ascensão ao time dos países desenvolvidos e ricos. 

Aqui no Brasil ainda há toda uma discussão para a necessidade de revitalizar uma indústria que nunca chegou a competir a nível internacional. Uma indústria altamente dependente do Estado e de seus recursos para sobreviver (com poucas exceções). Uma regrinha ajuda a julgar empresas: se uma empresa é boa, ela não precisa de ajuda do governo, se precisa, é porque não é boa. O país estaria melhor se desse um choque de competição em toda a sua indústria com uma ampla abertura comercial, permitindo que multinacionais entrassem no país em grande número, testando a eficiência das empresas nacionais. Se uma indústria se recusa a esse teste, isso diz o que dela?

Desta forma, o caminho para a prosperidade não é focar na indústria, mas nos 9 fatores citados anteriormente. Países que conseguiram melhorá-los se tornaram ricos e desenvolvidos, com alto padrão de vida. Veja o ponto 9: quem no Brasil defende a melhora na eficiência do gasto do governo? Essa discussão é praticamente inexistente. Estamos focando na direção errada para atingir um objetivo altamente desejado por todos brasileiros. Por fim, o caminho para a prosperidade econômica não é fácil, é complexo; não se baseia em apenas um fator, mas de uma gama de fatores. Se fosse fácil, muitos países teriam atingido esse patamar. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário