segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Resenha: Como Evitar Preocupações e Começar a Viver (Dale Carnegie)

Convivendo com doses moderadas de preocupação

preocupação


Recentemente eu li a obra Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas de Dale Carnegie. Gostei muito – e continuo aplicando muitas de suas dicas. As obras de Dale misturam um pouco de teoria, mas não muito, dado que o arcabouço de Carnegie é voltado muito mais para a prática do que para a teoria, com muita praticidade permeada de relatos de famosos. Seguindo a obra Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, a presente obra utiliza várias citações famosas para reforçar o seu argumento. Ao contrário do clássico Como Fazer Amigos, Como Evitar Preocupações e Começar a Viver busca nos pensadores antigos parte de sua justificativa. 

Os princípios centrais da obra se passam por 3 pontos. O primeiro é que precisaremos agir para superar nossos problemas. Em especial, quando a discussão for sobre preocupações, foco da obra. O segundo, com citação de Platão, que nos diz que “o maior erro que os médicos cometem é tentar curar o corpo sem tentar curar a mente”. Desta forma, mostrando enorme atualidade, a obra defende que a saúde física é inseparável da saúde mental. Dale não era um psicólogo, mas estava antenado para a relação entre essas duas partes: a saúde física sem o suporte da saúde mental é manca, e vice versa. Finalmente, o terceiro ponto é que deveríamos sempre tentar uma solução para o que nos incomoda, pois nós podemos ser bem sucedidos. E também porque ao buscar uma solução, estamos olhando para a frente, deixando o passado um pouco para trás, junto com nossas preocupações. Muitas de nossas preocupações se devem a dois tempos que não existem: o passado (pois já passou) e o futuro (que ainda não chegou). 

A primeira parte da obra discute regras para lidar com a ansiedade. Um dos melhores conselhos é viver cada dia de uma vez: "day-tight compartments". Esse conselho é comum com viciados em drogas. Dada a dificuldade de enxergar o futuro sem a dependência química – tal futuro parece inalcançável, dado o estado do presente -, um pequeno “truque” é esquecer desse futuro distante e se concentrar no presente, vencendo cada dia de sua vez. Cada vitória diária é um pequeno passo na jornada para o futuro que era distante, mas que vai se aproximando a cada dia. Se conseguirmos colocar todos os problemas que podem ser resolvidos em cada dia, seremos capazes de nos concentrar nas questões que podem ser resolvidas. Isso não significa que elas serão resolvidas. Mas poderá nos ajudar a reduzir a ansiedade com problemas que ainda não chegaram. Sofremos muito pelo que ainda não chegou – e quando chega, pode ser que nem mais lembremos mais desse problema (ou o que aparentava ser um problema não era de fato; o tempo desvenda esse tipo de coisa). 

Outra dica é para nos mantermos ocupados. A princípio, não concordei muito com essa recomendação, pois sempre penso que se manter ocupado é uma forma de esconder de nós mesmos, de fugirmos de realidades e pensamentos desconfortáveis. Goethe, na sua obra magistral, Os Sofrimentos do Jovem Werther, criticou as pessoas que não conseguiam vivenciar elas próprias – estavam sempre em movimento, sempre agitadas, nunca tinham tempo para elas próprias. Todavia, Dale recomenda se manter ocupado principalmente para casos extremos de ansiedade. No curto prazo, acredito que isso ajudaria – às vezes aplico esse princípio. Com o tempo, essa ansiedade pode se esvair, e se manter ocupado pode ser gradualmente reduzido. 

Há dicas como i) não se preocupar demasiadamente por ninharias (quantas brigas prolongadas não iniciaram por algo insignificante!), ii) utilizar a lei das médias, a qual nos mostra que mais ou menos 99% de tudo que nos preocupamos não irá ocorrer, iii) admitir certa dose de resignação (o mundo quebrará nossa cara e expectativas várias e várias vezes), e iv) analise o passado, tire lições dele, mas depois esqueça dele. O passado pode nos prender a eventos que já ocorreram, reproduzindo sentimentos ruins por algo que não mais existe (lembre-se, o passado como tempo não existe). 

"Nossa vida é o que nossos pensamentos fazem dela" (Marco Aurélio). Muito do nosso humor e satisfação com a vida depende de nossa opinião e interpretação. Que sejamos animados, portanto, com nossas vidas. Gratidão e reflexão do que temos pode auxiliar. Outra dica é não tentar revidar o que nossos inimigos fizeram conosco. O que ganharemos com isso? Rancor, ódio e raiva direcionados a outros acabam por machucar a nós mesmos. É contraintuitivo, e ainda assim continuamos seguindo e permitindo essas emoções!

Dale recomenda que esqueçamos um pouco de nós e pensemos nos outros. Ouvir atentamente, mostrar curiosidade, e se possível, ajudar os outros em suas vidas. Tais atos podem ajudar a criar significado em nossas vidas, alargando nossa influência e criando círculos sociais que nos ajudem a manter a ansiedade controlada. Essa dica é altamente recomendada na principal obra do autor Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas.

Não deveríamos ligar muito para quem nos critica, pois quem bate em um cão morto, inofensivo? Se estamos sendo criticados, é porque estamos nos destacando em algum ponto, e outros estão incomodados com isso. A inveja tem muitos disfarces. Piadas e comentários um pouco ácidos podem ser somente pura inveja. Ignore-os. Siga o seu caminho, trabalhando, com disciplina, atenção, cuidado próprio – e dificilmente tais comentários, fofocas, irão te prejudicar. A importância dessas coisas decai com o tempo se continuamos seguindo metas e objetivos de crescimento pessoal e profissional – experiência própria no meu caso. 

Faça o melhor que puder. Entregue o máximo que tiver. Ainda que o melhor que tenhamos não seja o suficiente, é o que temos, e deve ser empregado. A vida é composta por vários dias de luta e poucos de glória. A glória somente chega quando continuamos lutando, não importa o quão bem estejamos preparados. 

Na parte final, Dale recomenda que descansemos. Nada de burnout. Respeite noites de sono, descanse durante o dia. Tenha hobbies, momentos de descanso. O equilíbrio é importante; lição vinda dos estoicos. Tente limpar sua escrivaninha, deixando apenas o material necessário para a tarefa sendo realizada. Uma mesa bagunçada nos prejudica – não sei o canal por trás, mas concordo com isso. Sempre deixo minha escrivaninha com o mínimo de materiais possíveis. 

Finalmente, o livro é bom, flui sem problemas e é pouco repetitivo. A obra anterior era repetitiva em alguns momentos. As citações de pensadores e famosos deixa a leitura mais agradável e a argumentação não é profunda – o que enfraquece um pouco a discussão, mas facilita a leitura. Enfim, acredito que o leitor ganhará ao ler a obra – nem que seja pela compreensão que todos humanos, sem exceção, têm de saber lidar com seus problemas e ansiedades. E a maioria (?) teve de aprender de forma muito dolorosa.




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