quarta-feira, 4 de junho de 2025

Resenha: Nada Pode me Ferir (David Goggins)

Lutar, lutar e lutar!

mente


David Goggins se tornou personalidade mundialmente famosa por conta de sua vida pessoal e profissional, marcada por vários desafios e obstáculos. Goggins tem presença em redes sociais e no Youtube, com vários vídeos retratando sua estratégia para superar dificuldades e atingir metas. É talvez um dos principais coaches motivacionais da atualidade - embora o próprio não goste de ser denominado como tal. Ele se vê muito mais como uma pessoa que não aceita parar, que está em constante movimento. 

O livro Nada Pode me Ferir é um relato auto biográfico de David, nos contando sua vida desde a infância até os dias mais recentes. Como vai se tornando claro com a evolução da leitura, Goggins teve infância duríssima, marcada por abusos cometidos por seu pai e privações básicas, como nutricional e educacional. Sem dúvidas, Goggins começou sua jornada em desvantagem em relação a outros jovens. E o livro mostra como ele lidou com essas "cartas ruins" - ele nos diz que sua vida se iniciou com péssimas cartas. Ele teve de se virar para conseguir sobreviver e depois se reerguer diante de tantas quedas. 

O autor argumenta que deveríamos estar no 1% das pessoas no quesito superação e ação diante de nossas metas e objetivos. Para isso, temos de trabalhar nosso coração, nossa força de vontade e ter uma mente blindada. O tema controlar nossa mente é uma constante: Goggins acredita que é lá onde ocorrem as principais batalhas. Nossa mente, muitas vezes, vai tentar nos desanimar, mostrar que deveríamos desistir e procurar o conforto. Temos, portanto, de nos manter ativos para contestar essas ideias. 

Entre as suas recomendações, temos de sair de nossa zona de conforto, escrever em um papel tudo aquilo que nos incomoda e desejamos mudar e tomar micro ações, especialmente em coisas de que não gostamos. Goggins, por exemplo, não gostava e não sabia nadar. O que ele fez? Entrou na água e lutou contra esse receio. 

Ele diz que a vida é um jogo mental, no qual temos de nos preparar constantemente para que não percamos a força mental necessária para avançar. Tudo de ruim que pode ocorrer (e vai ocorrer) tem um fim - essa é uma dica para termos em mente. Segundo Goggins, somos a soma dos obstáculos que superamos.

Outros conceitos interessantes são o espelho de responsabilidade pessoal, tirando almas (taking souls), calejar a mente e o "e se?" (what if).  O espelho da responsabilidade é um diálogo que temos de fazer conosco, com sinceridade, para que possamos avaliar o que achamos de nós mesmos - e identificar pontos de insatisfação. Jordan Peterson diz algo parecido: essa honestidade sempre nos dará respostas. A dificuldade, portanto, é tomar as ações necessárias. No fundo, segundo ambos os autores, nós sabemos o que temos de fazer. Falta é implementar (concordo inteiramente com eles). Implementar e executar, fácil na teoria e no pensamento, mas difícil na prática.

Tirando almas se trata de tanto impressionar outras pessoas pelo esforço colocado quanto se redimir diante de fracassos. Importante, tive a impressão que Goggins não liga muito para o resultado final. Ele mostra maior entusiasmo sempre pela criação de metas. Sempre em movimento. Tão logo atingimos um fim, uma linha de chegada, deveríamos criar outra. Talvez começando do zero - sair totalmente da zona de conforto. 

Uma mente calejada é aquela que vivenciou e testemunhou inúmeras dificuldades e sofrimentos. Várias decepções. Para Goggins, somente assim podemos desenvolver uma mente com maior resiliência, que entenda nossa perseverança, nosso desejo de não desistir. Sempre continuar. Se colocar no palco e lutar. O sofrimento pessoal é uma constante no livro. Goggins se alimenta dele.

"E se?" Esse termo elucida tentar algo mesmo que seja praticamente improvável de dar certo. E se funcionar? Aqui vou ajudar um pouco Goggins na argumentação. Como ele não usou o conceito de probabilidade, eu o usarei. Quando estamos obstinados em atingir um objetivo, tendemos a aumentar nossa probabilidade de sucesso se continuarmos insistindo nesse objetivo. Iremos, sem dúvida, fracassar. Mas o acúmulo de fracassos e novas tentativas elevam nossa probabilidade, pois nos tornamos mais experientes ao longo do trajeto. Portanto, por uma questão de probabilidade, a disciplina e a consistência são fortes aliadas para atingir metas. Não é uma certeza que teremos sucesso, mas é certo que iremos ter mais chances de sucesso. A probabilidade, meu caro, explica quase tudo. 

Talvez o diferencial de Goggins seja a forma como ele explica e argumenta. Ao contrário de tantos outros profissionais motivacionais, Goggins parece colocar toda sua energia nas linhas e vídeos que faz. Sua mensagem não é totalmente nova, mas é nova na forma como nos é passada - com muita intensidade. 

Pontos comuns vistos em outras obras de motivação é para i) trabalharmos duro, ii) sermos obstinados, iii) tentar se superar toda semana elevando pequenas metas e iv) não abandonar o objetivo almejado (de novo, uma questão de probabilidade e paciência!). 

Uma amiga muito próxima me contou que tem horror a David Goggins. Segundo ela, Goggins é uma pessoa machucada, que sofreu abusos constantes na infância. Sua vida adulta e profissional se baseia em se machucar constantemente, nunca descansar e sempre tentar provar algo (diz ele que para si mesmo; mas minha amiga diz que é para os outros também). Como o próprio Goggins relata, ele nunca descansa ou para, sempre se coloca em situações duríssimas (como fazer 4.030 barras em menos de 24 horas) e considera que o que o move são essas dificuldades.

Minha amiga diz que, por conta de uma infância com abusos, Goggins interpreta a vida como uma constante de abusos, privações e sofrimento. É como se ele não merecesse ter um tempo, um momento de paz. 

Bom, eu não sou psicólogo e minha inteligência emocional é normal. Que vocês decidam se faz sentido.

Desde que minha amiga me explicou o seu ponto de vista, passei a ver Goggins de uma forma mais diferente. Sim, gosto dele, acho admirável a sua superação de vida. Mas concordo que tem algo de estranho nesse "nunca descansar, sempre se sacrificar e não relaxar". Me parece que há um sentimento de culpa por sua parte. Ele tornou algo cruel em sua infância em combustível para vencer na vida profissional. Venceu, mas a que custo?

Para finalizar, eu empolguei tanto com Goggins quando tive os primeiros contatos com seus vídeos (são de fato muito bons) que estou lendo o segundo livro, continuação de Nada Pode me Ferir. Tem uma parte na obra que Goggins diz que grava todos os comentários maldosos feitos contra ele na internet, os lê para ele mesmo e que antes de dormir os escuta - ele diz que isso o motiva. Eu vejo como a confirmação de que ele é uma pessoa machucada, que se pune o tempo todo, pois parece pensar que o mundo funciona assim. Não funciona.

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