quinta-feira, 26 de junho de 2025

Transição Energética Tem o Potencial de Produzir Inflação Global

Assim como choques sobre o preço do petróleo

preços metais


Mais uma publicação no ano! Eu publiquei o artigo Does energy transition affect domestic inflation? (Transição Energética Afeta Inflação Doméstica?) na revista Energy, uma das principais revistas de transição energética. Ela é ranqueada como A1, o nível mais alto de publicação no Brasil. 

Essa revista rejeitou alguns artigos que eu tinha submetido para ela no passado (para ter publicação, o artigo deve ser aceito pelos editores e por avaliadores externos, experts da área). Foi a primeira vez que tive êxito - a persistência e a insistência trazem suas recompensas, embora exijam esforço e trabalho (e estudo e paciência). 

A hipótese que eu testei é simples: a transição energética gera inflação? Dado que a transição energética envolve o aumento da utilização e produção de energia renovável, que pode ser obtida por placas solares (energia solar), turbinas eólicas (energia eólica), turbina hidráulica (energia derivada da água) e caldeiras (biomassa), podemos pensar que, conforme os anos avançam, esses objetos ficarão cada vez mais comuns em nossas vidas. 

E esses objetos usam materiais para serem produzidos. Em particular, há 16 metais importantes: Alumínio, Cromo, Cobalto, Cobre, Chumbo, Lítio, Manganês, Molibdênio, Níquel, Paládio, Platina, Terra rara, Silício, Prata, Vanádio e Zinco. Se iremos viver em um mundo com energia renovável, então iremos utilizar em crescente escala esses metais. Em outras palavras, nossas vidas ficarão dependentes dos preços desses metais.

Uma analogia para ajudar na intuição ocorre com o preço do petróleo. Nós utilizamos o petróleo em quase tudo: transporte, frete, produção e combustível. Portanto, os preços domésticos (preços nacionais, é a mesma coisa) são sensíveis às flutuações do preço do petróleo. As guerras e conflitos envolvendo a Rússia e o Oriente Médio nos ensinaram bem essa conexão: tão logo o preço do petróleo dispara, nosso custo de vida também se eleva. 

Desta forma, eu analisei se isso faria sentido em um mundo voltado para a energia renovável. Intuitivamente, faz sentido. Se precisamos e produzimos energia renovável, e os materiais para produzi-la sobem de preço, então possivelmente iremos amargar inflação maior. 

Eu simulei o aumento dos preços desses 16 metais mencionados. A figura abaixo mostra as reações dos preços de metais comuns (metal prices), preços de commodities (commodity prices), preço do ouro (gold prices) e preço do petróleo (oil prices). Note que os preços de metais, de commodities e de petróleo sobem (como as linhas tracejadas do preço do ouro ficaram nos quadrantes positivos e negativos, dizemos que os resultados não foram estatisticamente significativos, ou seja, nada podemos dizer sobre o preço do ouro).

choques


Essa figura nos deu a primeira pista de que o aumento dos preços dos 16 metais necessários para a transição energética (chamemos eles de preços de transição energética) geram inflação, pois eles geram o aumento dos preços de commodities (então a alimentação fica mais cara) e do petróleo (sabemos bem o que ocorre quando o petróleo sobe). 

A próxima figura analisou o impacto dos preços de transição energética sobre os preços domésticos. Veja que tudo subiu! Os preços da Ásia, do Canadá, da China, da Zona do Euro, da América Latina, da África do Sul e dos Estados Unidos subiram. Então a hipótese foi confirmada: subida nos preços de transição energética gera inflação global, pois ela se espalha para vários países do planeta.  

inflação

Então a transição energética é ruim? Não necessariamente. O artigo somente mostrou que iremos ter uma nova fonte de choques que podem gerar aumentos dos preços. É possível que, embora eu não tenha testado, que se iremos de fato seguir o caminho da transição energética e reduzir o uso de combustível fóssil, como o petróleo, os preços de petróleo serão menos importantes no futuro, pois iremos utilizar em menor escala esse combustível. 

Por outro lado, políticas públicas podem ajudar a reduzir o impacto sobre a inflação nacional, como a subida da taxa de juros pelos bancos centrais. Bancos centrais normalmente adotam essa política quando ocorrem choques de petróleo - é uma forma de barrar a contaminação sobre os preços domésticos.

Outra política é que países elevem a produção dos metais usados na transição energética, pois isso representaria o aumento da oferta deles, gerando preços decrescentes. Finalmente, o comércio internacional poderia ajudar: países poderiam importar e exportar metais, acelerando tanto a produção quanto a utilização desses recursos. 

Para quem se interessar, o artigo completo está aqui

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