Haddad analisa o capitalismo contemporâneo e propõe medidas para pavimentar o projeto socialista
Ministro
da educação (2005-2012), prefeito de São Paulo (2013-2016) e professor da USP e
do Insper são alguns dos cargos já ocupados por Fernando Haddad, autor do livro
Em defesa do socialismo. Não bastasse esse currículo para lhe fornecer
credenciais para escrever um livro, Haddad ainda é engajado em debates
políticos, realizando-os, entre outros canais, por meio de sua coluna no jornal
Folha de S. Paulo.
Em
defesa do socialismo foi escrito em comemoração aos 150 anos da publicação do
famoso livro de Marx e Engels, O manifesto comunista, livro que influenciou e
influencia milhões de pessoas em todo o planeta. Mas Haddad vai além e propõe
atualizar a ideia do livro sob apreço; o autor se esforça na tarefa de
interpretar a sociedade contemporânea e propor medidas para conduzi-la para o
socialismo – utilizando para isso o instrumental marxista.
Haddad
divide a sociedade em duas partes, a proprietária dos meios de produção e a
não-proprietária. Dessa última, sua inovação, em comparação ao Manifesto
comunista, é a adição de duas classes além da famigerada classe dos
proletários. Há os desqualificados, aqueles que não são empregáveis, vivendo
sob condições materiais baixíssimas – viciados, criminosos, mendigos etc; há
também a classe que inova, os cientistas e técnicos em pesquisa e
desenvolvimento, os quais produzem a ideia/tecnologia que irá ser acoplada aos
produtos, gerando maior valor de mercado.
Em meio
a essas classes o capitalismo contemporâneo deu origem à superindústria, forma
evoluída de empresa com escopo de atuação global, e não somente nacional, isto
é, “aquela que internaliza o processo de inovação tecnológica, que, finalmente,
exponencia o desenvolvimento das forças produtivas e a ampliação dos mercados
numa escala nunca imaginada”. É um produto do capitalismo globalizado, no qual
as fronteiras nacionais perdem importância. Em associação ao conceito de
classes, essa superindústria utiliza a classe que inova em favor da acumulação
de capital – em favor da classe proprietária.
O autor
considera que o objetivo da superindústria continua sendo o máximo de lucro. Se
pensarmos no livro O novo Estado industrial, de John Kenneth Galbraith, veremos
que há discordância entre os autores. Para Galbraith, a tecnoestrutura (algo
similar ao conceito de superindústria de Haddad) visa outros objetivos além da
maximização do lucro, como o controle da demanda, dos preços ou a busca de
influência sobre o comportamento da sociedade – pelo marketing. Já no livro A
sociedade afluente, também de Galbraith, o autor defende uma possível alteração
nas preferências dos consumidores: conforme a produção e o consumo expandam, os
desejos da sociedade podem se voltar não para o campo material, mas para o
espiritual, buscando outros valores – há quem afirme que o capitalismo de hoje já
percebeu essa demanda e está em processo de adaptação, ao oferecer não somente
o prazer do consumo ao indivíduo, mas também a experiência que o produto pode
fornecer. Haddad não realiza essa discussão, talvez por causa do reduzido
espaço do livro (apenas 67 páginas), todavia, é um tópico que valeria a pena
maior profundidade.
Seguindo
a resenha, Haddad propõe um estágio de capitalismo cooperativista, no qual os
trabalhadores compartilhariam a propriedade das empresas. O Estado poderia
incentivar esse processo por meio do controle do crédito, distribuindo-o de
forma a fragmentar a propriedade privada entre as 3 classes não-proprietárias.
Outra medida para combater o capitalismo seria a taxação progressiva sobre a
propriedade – medida elencada no Manifesto comunista.
Em
resumo, Em defesa do socialismo tem o mérito de atualizar o Manifesto comunista
e propor uma interpretação do capitalismo dos tempos modernos. Para o leitor
que busca compreender a dinâmica de interação entre as diferentes classes da
sociedade, bem como o desenvolvimento da economia de mercado por uma ótica
marxista, é uma leitura recomendada.
Não li o livro em questão mas acho importante fazer uma observação: quando você diz que Haddad se opõe as ideias de Galbraith, na essência não há oposição de idéias. Vejamos: quando visamos o máximo de lucro, queremos fazer com que o consumidor tenha alguma experiência diferenciada com o produto, para induzi-lo a repetição de compra. Essa indução se faz conhecendo o consumidor e buscando um diferencial na marca (para obter o máximo de lucro). Lembrando que não é uma crítica e sim uma observação de como o capitalismo pode ir além. No caso de controle de preços, há casos e casos, pois existem marcas que "sabem o seu lugar" e portanto, não vão lutar para subir, apenas querem permanecer ali.
ResponderExcluirSim, as empresas podem abrir mão do máximo de lucro no curto prazo visando o aumento no longo prazo. É possível. Acredito que Haddad trabalharia melhor essa parte caso ele tivesse maior espaço no seu livro.
ResponderExcluirQUE HORROR!
ResponderExcluirNem a esquerda brasileira deu crédito ao inepto ministro escritor dessa barbaridade
ResponderExcluirComo vemos hoje, 2025, tudo teoria, para eles o capitalismo na veia, e para os outros, essa conversa sem fundamento. De condições ao povo de ganhar seu sustento concedendo segurança, saúde e uma economia saudável. O ser humano nao precisa de esmola, precisam de oportunidade, e nada de viver com coisas que outros conquistaram, queremos nos conquistarmos.
ResponderExcluirDe eduação digna, e deixe o povo criar na ciência, na economia, na construção sustentável, ... a miséria na educação, separando irmão e um dos motivo da falência social. Menos discurso e teoria, Mais exemplo na vida quando se está no poder.