quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Conjuntura Econômica na visão de 3 especialistas

Sem grandes novidades quanto ao diagnóstico e à prescrição dos problemas econômicos

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Na semana passada eu tive o prazer de participar do 49º principal encontro nacional de economia (ANPEC), o qual foi realizado em formato totalmente online (pelo segundo ano consecutivo) por causa do momento atípico no qual vivemos.

Uma das vantagens do formato online é a disponibilidade de assistir sessões em qualquer horário. Eu recomendo a tradicional sessão de Conjuntura Econômica, um painel que reuniu 3 especialistas para discutir a situação da economia brasileira. O link dela é esse aqui

O primeiro participante foi Felipe Salto, especialista em finanças públicas. Ele é um dos autores do livro Contas Públicas no Brasil, cuja obra esmiúça problemas fiscais do país, ao mesmo tempo fornecendo políticas e reformas para melhorá-los. É nesse sentido que Salto discutiu na sessão de Conjuntura. Para quem acompanha o noticiário de economia, em particular o relativo às contas públicas, os argumentos usados não irão parecer algo novo - exceto para os leitores que acompanham o noticiário de economia por meio de fontes pouco confiáveis. No geral, Felipe criticou o furo no teto dos gastos para financiar o Auxílio Brasil, programa que irá substituir o Bolsa Família. Sem uma regra (âncora) fiscal, o país poderá facilmente piorar o seu quadro econômico já significativamente deteriorado. 

A segunda participante foi a economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour. Os comentários de Solange focaram na economia nos próximos anos, principalmente 2022 e 2023. Como Salto, ela também prevê meses difíceis no período próximo das eleições presidenciais. Parte das incertezas que permearão o país poderá se refletir em uma taxa de câmbio com alta volatilidade, flertando com níveis crescentes de desvalorização. A ameaça do aumento da taxa de câmbio, e o subsequente repasse que isso pode gerar sobre os preços, no caso, elevando-os, fará com que o banco central permaneça em postura alerta, ou seja, poderá elevar ainda mais as taxas de juros para combater preços crescentes. Na verdade, a autoridade monetária tem se comportado dessa forma, elevando gradualmente a taxa de juros de curto prazo, a Selic. Movimento correto, na minha opinião. 

Gostei do comentário de que o aumento do gasto público na forma do Auxílio Brasil, embora pareça uma política expansionista, irá se tornar em uma política contracionista no futuro. A explicação é a de que o desrespeito com as contas públicas irá pressionar o orçamento, gerando taxas de juros de longo prazo mais elevadas - são as taxas que financiam novas dívidas do governo. O fardo fiscal irá piorar com os rumos tomados atualmente. Todavia, como é normal em assuntos de economia, as consequências não serão imediatas, o que tende a fazer com que muitas pessoas interpretem de forma incorreta políticas econômicas.

O último palestrante foi o professor da FGV/SP, Márcio Holland. Ele focou em reformas estruturais que possam solucionar o entrave das contas públicas. Não tem muito segredo nessa parte: desacelerar o crescimento do gasto público, flexibilizar parte do orçamento, rearrumar o sistema tributário, entre outras. Márcio foi feliz ao assinalar que um país como o Brasil, com elevadíssimo nível de desigualdade e de pobreza, deveria focar a discussão de como melhorar a educação, a saúde, o investimento em infraestrutura e a mobilidade social, entretanto, a armadilha fiscal é tão ruim que ela posterga discussões mais importantes para o futuro do país como nação e sociedade. Como não temos contas públicas ajustadas, estamos travados nesse ponto. Em outras palavras, sem arrumar as contas de casa, não há como fazer muita coisa. 

Enquanto escrevo esse texto, segundo estatísticas do youtube, essa sessão de conjuntura teve apenas 133 visualizações. Há diversos outros canais discutindo economia no youtube, muito populares, mas cujos autores têm domínio pobre de economia, com dificuldades de diferenciar conceitos básicos, como correlação e causalidade (talvez esse seja o principal problema da escola austríaca de economia nos dias atuais). Tais canais ostentam milhares de visualizações. Essa disparidade entre popularidade e domínio da Ciência Econômica ajuda a explicar a dificuldade de resolver os problemas estruturais discutidos na sessão de Conjuntura. 





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