Fraco crescimento do PIB complica ainda mais a melhora de indicadores sociais
Nessa semana eu argumentei com alunos que o crescimento econômico auxilia na redução da pobreza. Coletei dados do Banco Mundial para mostrar a evolução da pobreza em 3 países: China, Brasil e Argentina. A medida de pobreza é o percentual de pessoas que vive com menos de 30 reais por dia. A tabela abaixo apresenta os valores.
Note que a China em 1993 era virtualmente composta somente por pobres. Esse cenário mudou radicalmente ao longo dos anos, terminando o ano de 2020 com 24% de sua população na faixa de pobreza. O Brasil também mostrou queda da pobreza, embora não na magnitude observada no caso chinês. A pobreza na Argentina oscilou nas últimas décadas. Teve um pico no ano de 2002 de 44% (o país teve uma forte crise econômica neste período). Veja que no ano de 2020 o nível de pobreza argentino era de 15%, o mesmo valor de 1993. Desde então, há recuo na pobreza, para 10%.
Nos casos do Brasil e da Argentina, pode-se argumentar que o Estado de Bem Estar Social desempenhou papel relevante nas quedas de pobreza, com a distribuição de recursos por meio de programas sociais. O termo Estado de Bem Estar Social denota o país que utiliza o governo, portanto, recursos públicos, para melhorar indicadores sociais, como a educação, saúde e pobreza, além de garantir renda mínima para a sua população, como aposentadorias. No caso brasileiro, temos programas como o Bolsa Família, que transferem renda diretamente para famílias muito pobres.
E a China? É difícil associar amplas políticas sociais do governo chinês visando melhorar indicadores sociais como no Brasil. Em outras palavras, a economia chinesa não é caracterizada pelo Estado de Bem Estar Social. Então como explicar a forte queda de sua pobreza? Crescimento econômico.
Quando há crescimento econômico, isto é, quando a produção se eleva (o PIB aumenta), há maior geração de empregos, de renda e de oportunidades. Dependendo da intensidade do crescimento, a economia se torna dinâmica, oferecendo opções de trabalho e complemento de renda para sua população em diferentes segmentos. Foi o caso chinês.
Recentemente eu li o relato de um adolescente respondendo a críticas à exploração do trabalho de chineses. A acusação dizia que empresas ocidentais (multinacionais) estariam deslocando suas instalações para a China para utilizar mão de obra mais barata e com menos direitos sociais. O adolescente disse que os próprios chineses queriam essa "exploração". Ele citou sua mãe, que se prostitua nas ruas chinesas, e que agora tem um emprego nessa empresa. Ela abandonou sua antiga ocupação. Há outros tantos chineses que se aproveitaram do boom econômico das últimas décadas. Para quem vivia na extrema pobreza, o trabalho ofertado foi uma grande chance de subir na escala social - ainda que, para nossos padrões ocidentais, tais empregos não sejam adequados. Mas pense do ponto de vista de quem sai de uma base econômica baixíssima, beirando a fome.
Desta forma, é muito provável que o crescimento econômico chinês contribuiu significativamente para a redução da pobreza de 97% para 24% em menos de 30 anos. Além do efeito de oferecer mais empregos, o crescimento econômico gera mais recursos para o Estado, pois há mais pessoas trabalhando, comprando produtos (com impostos), e pagando impostos de renda. Com mais recursos públicos, governos podem implementar novos (ou turbinar) programas sociais para minar a pobreza.
Sempre me pareceu muito estranho marchas e protestos criticando o PIB. O PIB é uma medida do fluxo de produção. Mostra como a atividade econômica está se comportando. E isso é tudo. Há correlações do PIB com outros indicadores, como eu fiz nesse texto. Concordo com a afirmação de que o PIB não é tudo. Mas quem disse que o PIB é tudo?
Atualmente há preocupações com a mudança climática, transição energética e a qualidade de vida (incluindo desigualdade de renda). Eu apoio todas essas pautas e objetivos. Minha própria pesquisa acadêmica é visada nos dois primeiros temas. Mas tente avançar essas pautas sem recursos públicos. Como combater a desigualdade de renda com um Estado endividado e com poucos recursos? E a mudança climática? Uma das formas de reduzir a emissão de gases prejudiciais ao planeta é subsidiando a produção limpa, de fontes renováveis como o vento e o sol. Subsídios. De novo, o governo teria de fornecer renda para baratear o crédito e aquisições de tecnologia limpa. E de novo, onde obter recursos públicos? Notem a dificuldade da atual administração do PT em obter receitas para fechar as contas públicas. Há limites na tributação. Não é possível aumentá-la gradativamente. Cedo ou tarde o teto baterá (a própria população iria se manifestar).
Em suma, o crescimento econômico é uma das formas de auxiliar Estados no gerenciamento de suas respectivas populações. É possível e factível a existência de aumento da produção com a busca de objetivos secundários como a mudança climática, a transição energética e a redução da pobreza. Mas aqui cabe a arte de criar políticas e leis que permitam a coexistência e atingimento dessas metas.
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