Guia para se tornar um líder efetivo e influente
Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas parece um livro atual por abranger um tema ávido para ser dominado. Mas a obra foi escrita nos anos de 1930, recebendo várias atualizações e revisões desde então. Mesmo nos dias atuais, o livro continua sendo editado pela filha de Dale (o autor faleceu).
Dale Carnegie foi um famoso palestrante para empresários, CEOs, empreendedores, funcionários e aspirantes a se tornarem líderes. O livro é um resumo de suas palestras e técnicas utilizadas - a trajetória de Dale também contribui para sua marca. Dale teve infância, adolescência e vida adulta (no início) desafiadores, com falta de comida e problemas financeiros. Ele foi o que nos Estados Unidos é chamado de self man: o seu sucesso foi construído não por herança, mas por seus esforços e ingenuidade.
O eixo central da obra é que deveríamos interagir com pessoas sempre olhando o ponto de vista delas. O interesse que elas tem, o que almejam, e como se sentem. Devemos, portanto, abandonar, mesmo que por um breve momento, o nosso eu, o nosso egoísmo, e adentrar no eu do outro. Outra característica sempre presente é que, segundo o autor, nós humanos não somos marcados por sermos lógicos, mas por sermos emocionais, viesados, levados pela sensação do momento. A obra nos auxilia a capturar esses ventos e colocá-los a nosso favor. Finalmente, Dale nos diz que nada funcionará se não for feito de forma honesta, totalmente sincera. Pessoas conseguem perceber vestígios de falsidade (pelo menos boa parte delas).
Antes dos 3 temas discutidos, o livro apresenta 3 princípios gerais para lidar com pessoas. O primeiro é jamais criticá-los. O segundo é mostrar que você valoriza algum traço da pessoa. O terceiro é fazer surgir no outro uma vontade de desejar algo que ela valoriza (normalmente basta ser um bom ouvinte). Por experiência de vida, concordo totalmente em não criticar os outros, mesmo quando tudo indica que o outro de fato errou ou fez algo incorreto. A crítica pode solapar a vontade de continuar se esforçando, ao passo que encorajamentos (honestos) em pontos que podem ser aperfeiçoados incentivam o outro a continuar se esforçando.
A primeira parte do livro nos mostra 6 princípios para as pessoas gostarem de nós.
1) Mostre interesse genuíno pelo outro
2) Sorria
3) Nunca se esqueça do nome do outro
4) Encoraje o outro a falar de si mesmo
5) Converse do ponto de vista do outro
6) Faça o outro se sentir importante
Coloquei em negrito os princípios que julgo mais importantes. Esses princípios podem ser resumidos com o princípio geral que descrevi logo no início do texto: valorize o outro. Os livros de psicologia que tenho lido e disponibilizado como resenhas são unânimes nesse ponto: quando estamos lidando com alguém, não estamos interagindo com uma máquina, mas com um humano com sentimentos e fragilidades, o qual possivelmente anseia profundamente por ser ouvido e compreendido - ainda mais nos tempos de hoje, de disseminadas relações líquidas fomentadas pelas redes sociais. Embora o livro não tenha mencionado, há ainda a vantagem de que poderemos alargar nosso conhecimento e aprender algo novo dessa vida: sempre é possível aprender algo ao ouvir ativamente o outro.
A segunda parte é fazer com que os outros concordem com a forma que você pensa. Os princípios são:
1) Evite discutir e tentar convencer o outro do seu ponto de vista
2) Mostre respeito pela opinião do outro
3) Se você está errado, admita rapidamente
4) Inicie a conversa amigavelmente
5) Faça o outro dizer sim e sim logo de início
6) Deixe o outro falar
7) Deixe o outro pensar que a ideia original foi dele
8) Tente ver a questão do ponto de vista do outro
9) Seja simpático e receptivo com a ideia do outro
10) Apele para motivos nobres
11) Dramatize suas ideias
12) Crie desafios
Esses princípios podem ser entendidos por uma mistura de humildade e combate ao orgulho. A humildade permite que aceitemos o que o outro tem a oferecer, enquanto evitar nosso orgulho desobstrui muros e permite olharmos sinceramente para o que o outro tem a oferecer. O ponto 4 parece óbvio, mas não é. Quantas pessoas não chegam em uma conversa difícil soltando "pauladas"? Gritando? O resultado tende a ser ruim logo de partida.
A terceira parte auxilia líderes a mudarem o comportamento do outro:
1) Inicie a conversa com elogios sinceros
2) Corrija a pessoa de forma indireta
3) Fale primeiro de seus erros
4) Faça perguntas ao invés de dar ordens
5) Permita que o outro se redima
6) Elogie os primeiros sinais de melhora
7) Dê uma reputação para que o outro possa viver para sustentá-la
8) Faça encorajamentos
9) Faça o outro se sentir feliz ao executar o que foi pedido
Essa parte envolve grande tato no tratamento do outro (coisa que meus amigos próximos dizem que eu não tenho - daí um dos motivos de minha leitura deste livro). O livro é pródigo em exemplos com famosos sobre como eles se comportavam em situações delicadas e críticas. O tato do ex-presidente dos EUA, Abraham Lincoln, é admirável.
Dale nos mostra a importância de saber falar e escrever, entender o outro, e contornar situações desfavoráveis. É sem dúvidas um bom guia para nossas vidas. Algumas vezes eu senti que a obra estava um pouco repetitiva, mas talvez isso decorra da interconexão dos temas discutidos - alguns princípios são válidos em várias situações.
Embora pareça desafiador aplicar todo o guia apresentado, o pouco que conseguirmos utilizar já surtirá efeito; imagine se conseguíssemos sempre olhar situações do ponto de vista do outro! Quantas confusões, discordâncias e brigas seriam evitadas! E o que dizer de não criticar o outro? A crítica é algo negativo por si, coloca em perspectiva os problemas do outro, ao mesmo tempo que esquecemos dos nossos. Criticar é perder tempo que poderia ser usado em criticar aquele que realmente pode ser melhorado se receber críticas, nós próprios.
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