domingo, 6 de outubro de 2024

Ligações da Macroeconomia e do Comércio Internacional com o Desmatamento

Uma questão global exige solução também global

amazonia


Nesta semana eu alcancei minha 10ª publicação acadêmica do ano, com o artigo Amazon deforestation and CO2 emissions: A macroeconomic approach using the GVAR (Desmatamento da Amazônia e emissões de CO2: uma abordagem macroeconômica usando o GVAR) na revista Journal of Regional Science (o artigo pode ser visto aqui). O artigo utiliza de teoria macroeconômica para explicar tanto o desmatamento quanto as emissões de gás carbono no Brasil. 

O modelo econométrico simulou a economia mundial usando uma amostra de países equivalente a 77% do PIB mundial e 80% de todas as emissões de gás carbono do mundo. Isso ajuda a contextualizar o Brasil em um cenário de economia aberta, isto é, o Brasil está suscetível a influências externas. Por exemplo, muito provavelmente iremos amargar consequências econômicas do alastramento dos conflitos no Oriente Médio, talvez por meio do aumento dos preços do petróleo. Esse tipo de efeito seria captado pelo modelo que criei, dado que ele abrange grande parte da economia mundial. 

Os resultados mostraram que fatores nacionais e externos afetam o desmatamento e as emissões de gases. No caso de fatores nacionais, a produção industrial brasileira e variações da taxa de câmbio explicam o desmatamento. No caso de fatores externos, o principal é a economia da China, seguida pela Zona do Euro e pelos Estados Unidos. Em outras palavras, o que ocorre nesses países respinga aqui na forma de desmatamento e emissões de gases. Por exemplo, a China é uma grande importadora de commodities brasileiras, e o Brasil, para produzi-las, desmata parte de seu meio ambiente. Desta forma, indiretamente, ao vender e exportar mercadorias para a China, o bioma da Amazônia é prejudicado. Outro ponto que reforça isso é o fato de que eu encontrei que o aumento dos preços de commodities promote o desmatamento. Maior preço de commodities significa maior lucro para quem opera nessa atividade, incentivando o alastramento de práticas que desmatam a floresta e que emitem gás carbono. 

Outro resultado é o de que o desmatamento e emissões de gás carbono do Brasil perpassam nossas fronteiras e afetam negativamente os países latinos vizinhos. Esse é um dos pontos controversos da discussão da mudança climática: as ações de meu vizinho me afetam, e vice versa. Esse efeito é chamado de efeito transbordamento (ou spillover effect) Por isso que a superação ou mitigação do aquecimento global exige ação conjunta de todos os países. Consegui captar esse efeito pelas estimativas do modelo - desta forma, além do argumento discursivo, forneci evidência estatística da existência desse efeito. 

Eu mostrei que a integração comercial ajuda a explicar o impacto da China sobre o Brasil. Conforme a China se tornou um parceiro comercial importante para o Brasil, os choques da China passaram a causar maior efeito sobre o Brasil. Eu simulei um cenário no qual a China não era um parceiro comercial relevante, e como esperado, os choques vindos do gigante asiático pouco afetavam o Brasil. Desta forma, o comércio internacional ajuda a entender as ligações entre economias, como uma afeta a outra. 

Na parte final do artigo eu mostrei que o preço da soja é um dos principais fatores de emissões de gases no Brasil, e a Argentina também ajuda a entender o desmatamento da Amazônia. Esses resultados foram solicitados por um dos avaliadores do artigo. O (a) avaliador (a) - quem avalia o artigo é sempre um (a) pesquisador (a) anônimo (a) - disse que a soja é o principal fator de desmatamento na América do Sul. Eu fiz o trabalho sem incorporá-la no modelo. Portanto, segui a recomendação e de fato a soja explica enorme parte do desmatamento na Amazônia. De novo, a explicação repousa na forma como ela é produzida: provavelmente pela expansão de novas áreas de produção em detrimento do aumento da produção em áreas que já produzem - optamos pela agricultura extensiva em detrimento da agricultura intensiva. No caso da Argentina, inicialmente eu não a incluí por conta de falta de dados. Mas como o avaliador solicitou a sua inclusão, tive de improvisar. Mais um ponto para o avaliador, pois o modelo melhorou com a inclusão da Argentina. E faz todo o sentido incluí-la no artigo, pois a Argentina é a terceira maior parceira comercial do Brasil. Se o comércio internacional explica e ajuda a entender o desmatamento, então a Argentina deve ser incluída no modelo. 

A principal contribuição do artigo foi utilizar uma simulação da economia mundial para mapear o desmatamento e as emissões de gás carbono no Brasil. A maioria dos trabalhos publicados neste tema trata o país de forma isolada, como se não existisse interação com a economia mundial. O meu modelo, ao abranger parte do resto do mundo, superou essa limitação. 









2 comentários:

  1. Hmmm interessante. Legal esse site, muita materia bacana, abordado de um metodo diferente. Legal mesmo.

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