Incentivo será o de adotar energia não renovável, derivada de combustíveis fósseis
Neste mês de outubro eu bati minha meta de publicações. Relembrando, eu estabeleci que em 2024 eu publicaria 10 artigos, sendo 4 de classificação A1 (a mais elevada no ranking brasileiro). O artigo Impact of Critical Mineral Prices on Energy Transition (Impacto dos preços de minerais críticos sobre a transição energética) foi o meu quarto A1 do ano, sendo a 11ª publicação de 2024. Publiquei na revista Applied Energy, uma das principais revistas dedicadas ao estudo da transição energética. O artigo pode ser visto aqui.
A ideia do artigo é verificar como as transições energéticas (aumento da produção de energia de fontes renováveis, como o sol, a água, o vento e a geotérmica, em proporção com o total de energia produzida) reagem ao aumento do custo de seus insumos, isto é, minerais usados para a implementação dessa transição. Por exemplo, a transição energética envolve grande quantidade do mineral lítio, usado principalmente em baterias. Se o preço do lítio subir, como a transição energética seria afetada? Minha hipótese foi a de que o aumento do custo de minerais críticos (minerais essenciais para a transição energética cuja oferta pode sofrer rupturas devido a eventos econômicos, políticos e geopolíticos) prejudicaria a transição. Os resultados mostraram que essa hipótese está correta.
A figura abaixo, retirada do artigo, mostra um índice que representa o custo dos minerais usados na transição. Note que desde 2020 o preço subiu significativamente.
Na próxima figura eu apresento o resultado principal do artigo. Eu usei um método de previsão (Global Vector Autoregressive, GVAR) que simula cenários futuros com choques sobre algumas variáveis. No caso desse artigo, eu simulei o aumento do preço de minerais críticos e observei como matrizes energéticas nacionais responderiam. A figura mostra as respostas das matrizes energéticas de países. Note que há quedas em todos os países. As quedas são estatisticamente significativas na Austrália (AUS), China (CHN), Indonésia (IDN) e Estados Unidos (US). Desta forma, há evidência de que o aumento do preço dos minerais críticos prejudica o esforço de transição energética. Há queda na proporção de energia renovável na produção total de energia. Consequentemente, esses países, devido ao maior custo da energia renovável, podem recorrer a energias não renováveis, como as originárias de combustíveis fósseis.
Como teste para reforçar esse resultado, eu reduzi o período de análise, eliminando o período da Covid-19 (2020-2021). É relevante fazer essa redução porque a pandemia significou algo atípico para todos os países. Em geral, períodos atípicos podem prejudicar os resultados estimados. Então eu refiz o modelo econométrico eliminando esse evento. Os resultados estão na figura abaixo. Note que as estimativas melhoraram. Agora as matrizes energéticas do Brasil e da Europa também decrescem com o aumento do preço dos minerais críticos. Portanto, tudo indica que o período da Covid-19 colocou alguma distorção nos meus resultados. Entretanto, essa distorção não afeta demasiadamente os resultados, pois eles pouco se alteraram.
Na parte final do artigo, eu simulei uma política de redução da taxa de juros de empréstimo. Eu encontrei que alguns países avançam a produção de energia renovável. Faz sentido, pois o subsídio público pode contribuir para a transição energética. Daí que muitos governos atualmente implementam crédito barateado e outras políticas carregadas de subsídio para incentivarem a adoção de energia renovável. Um exemplo no Brasil foi a compra de placas solares, as quais promovem a geração de energia de uma fonte renovável (o sol). Até o ano de 2022, havia subsídios para a sua compra.
O meu artigo levanta um tópico delicado, pois se a economia mundial caminha para a transição energética, os preços dos minerais críticos irão subir - lei da oferta e da demanda. Pela própria definição, esses minerais críticos são relativamente escassos, sendo que o aumento de suas extrações elevará a cotação de seus preços. Eu mostrei que isso afeta negativamente a transição energética. Talvez políticas públicas possam amenizar esse efeito com a provisão de subsídios. Os próximos anos mostrarão como essa questão será gerenciada pelos governos.
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