sábado, 2 de agosto de 2025

Como Combater a Mudança Climática?

Transição Energética é a Nossa Melhor Opção - Mas não será fácil

aquecimento planeta


A mudança climática é talvez o principal desafio da humanidade no século atual. Alguns de seus efeitos, como o aumento da temperatura, a maior intensidade de desastres naturais, como enchentes, maior precipitação e queimadas mais intensas (com secas mais intensas contribuindo), tendem a ocorrer em maior gravidade e com maior frequência. Por isso que, eu imagino, ficará cada vez mais difícil negligenciar a mudança climática (ou desacreditar sua existência). 

Por exemplo, em 2022, um terço do Paquistão ficou inundado. Consegue imaginar um terço de uma área totalmente imersa? E se for um país? Foi o caso do Paquistão.

Em 2024, aqui no Brasil, o Rio Grande do Sul enfrentou uma de suas piores enchentes da história, destruindo parte de sua infraestrutura, moradias e interrompendo o funcionamento de sua economia. 

Em 2025, nos Estados Unidos, na Califórnia, enfrentou queimadas que devastaram a cidade de Los Angeles, assim como no Rio Grande do Sul, destruindo parte da infraestrutura da região.  

Há outros eventos que estão colocando países em risco. O livro O Calor e a Fúria: Na Linha de Frente da Violência Climática, de Peter Schwartzstein, mostra que a mudança climática irá aguçar conflitos regionais e piorar desafios sociais, como a fome e a pobreza. 

Uma forma de compreender esse efeito é que existe um tipo de "injustiça" na mudança climática. Sabemos que o principal gás responsável pela mudança climática é o gás carbono (CO2). Mas esse gás não respeita fronteiras nacionais, nem mesmo a mudança climática e os seus efeitos. Eu explico.

Apesar dos maiores emissores de gás carbono da atualidade serem a China e os Estados Unidos, as consequências da mudança climática são dispersas pelo planeta, como evidenciado pelo Paquistão. O Paquistão não está entre os principais emissores de gás carbono, mas sofreu com as emissões de outros planetas. Chamamos esse efeito de efeito transbordamento

Desta forma, países que lidam com fome e pobreza, como algumas nações africadas e do Oriente Médio, terão o acréscimo do desafio imposto pela mudança climática. 

Aos interessados nesta discussão, recomendo o livro que citei. Fiz a sua resenha aqui

E o que iremos fazer? Como eu adiantei, a mudança climática, por afetar todo o planeta, precisa de uma coordenação entre os países. Esse é o objetivo, por exemplo, de conferências internacionais, como a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, que ocorrerá no Brasil.  

A ideia é que se crie um consenso entre países para implementar políticas coordenadas para combater a mudança climática. De nada adianta se, digamos, 50 países se comprometem em combater as emissões de gases, se outros tantos se negam a seguir essa direção. Como afirmei, a mudança climática não respeita fronteiras nacionais. Todos os países podem ser afetados por ela, pelo efeito transbordamento. 

Até o presente momento, a principal política, na minha opinião, é a transição energética. A transição energética consiste no aumento da produção de energia renovável (solar, eólica, hidráulica, biomassa, geotérmica) e de energia com baixa emissão de gás carbono, como a energia nuclear com a simultânea redução da energia de combustível fóssil (petróleo, carvão e gás natural).  

Como a energia renovável e de baixa emissão de gás carbono agride menos o planeta, principalmente pela menor emissão de gases poluentes, ela contribuiria para reduzir tanto as emissões quanto o aumento da temperatura - e demais variações da mudança climática, como a incidência de desastres naturais. É uma solução que pode funcionar. 

No Brasil, estamos bem posicionados para essa transição. Temos uma grande produção de energia renovável, principalmente a hidráulica, e somos o segundo maior produtor mundial de etanol, um biocombustível. 

Mas há desafios ao combate à mudança climática.  

O primeiro é convencer países que dependem das receitas de petróleo, como a Rússia, a Venezuela, a Arábia Saudita e demais produtores a apoiarem a transição energética. É uma tarefa difícil, pois por que esses países abririam mão de suas principais fontes de renda? O que ganhariam com isso? Há pouco espaço para o altruísmo na geopolítica. 

O segundo desafio é um senso de injustiça. No passado, no século XVIII, países como a Inglaterra, tiveram a Revolução Industrial, se modernizaram, cresceram e se tornaram nações ricas e desenvolvidas. O outro lado da moeda é que esses países poluíram maciçamente o planeta. Agora esses mesmos países argumentam que todos os países deveriam reduzir a poluição. Soa injusto? Eu penso que sim. 

O terceiro desafio é a produção de energia renovável e de baixa emissão de gás carbono. Minha pesquisa acadêmica é em parte concentrada nesse ponto. Há evidência de que essa transição energética será custosa e desafiadora (escrevi dois textos apontando esses custos aqui e aqui). Precisamos de minerais críticos para produzir energia renovável, como a terra rara, o lítio, o níquel e o cobalto. 

Pela própria definição, minerais críticos têm produção e disponibilidade limitada, sujeita a conflitos diplomáticos e geopolíticos. Portanto, não é trivial possuir o insumo necessário para produzir energia renovável. 

Outra complicação é que a energia renovável depende do clima. E se tivermos um cenário com insuficiente ventos, água e sol? Ok, usemos a energia nuclear. Mas como mostrei em um artigo científico recentemente publicado (aqui), a energia nuclear também tem suas dificuldades, como a necessidade de urânio, níquel e cobre (todos minerais críticos). 

Finalmente, há a geopolítica e os seus conflitos diplomáticos. EUA e China disputam a hegemonia do planeta. A China me parece mais comprometida com a transição energética do que os EUA (com Donald Trump de presidente, os EUA abandonaram parcialmente a meta da transição). Tenho a percepção de que essas nações irão buscar a transição energética como alavanca para se tornarem os poderes predominantes, e não como um altruísmo com o planeta. Neste caso, a mudança climática ficaria em segundo plano.

Aguardemos os próximos capítulos. 

Em resumo, a mudança climática é um desafio imenso para o planeta, e tem como principal política a transição energética, que também é uma ideia desafiadora e possivelmente carregada de custos e obstáculos. Mas não temos muitas opções. E quanto mais postergarmos a solução da mudança climática, piores serão nossas chances de superá-la.

A vida nunca foi fácil, caro leitor. 








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