Podemos aprender muito com o nosso estado inconsciente
O Indivíduo Moderno em Busca de uma Alma é um livro clássico de Carl Jung, um dos principais seguidores de Segmund Freud. Seguindo as premissas de Freud, Jung discutirá a importância do inconsciente (subconsciente) em nossas vidas, moldando nossas expectativas, comportamento e maneira de interpretarmos a realidade que nos cerca. Segundo o autor, ainda que o desconheçamos (ou o ignoremos), o inconsciente segue nos influenciando.
Talvez metade de nossas vidas seja governada pelo nosso estado inconsciente. O sonho, dessa forma, ganha importância ao revelar detalhes de nossa vida interior. Detalhes que talvez não tenhamos conhecimento. A dificuldade é conectá-los com a realidade e com nossos anseios.
Seguindo a famosa regra (ou slogan) da psicologia de que todo excesso denota uma falta, Jung nos diz que nossos sonhos tentam compensar alguma coisa da vida consciente, aquela que vivemos no dia a dia enquanto acordados. Desta forma, os sonhos nos dariam dicas para preenchermos lacunas em nossas vidas. Neste ponto, o autor afirma que uma das principais dificuldades da humanidade é encontrar sentido em suas vidas, preencher o vazio da existência. Grande parte de seus pacientes o procuravam para auxílio nessa árdua tarefa. Escrito em 1933, acredito que esse anseio continua atual e relevante no século XXI.
Jung argumenta que embora as religiões nos ajudem a superar dificuldades existenciais, tanto com regras práticas quanto por mostrar que existe uma realidade pós vida, muitas pessoas ficam insatisfeitas com o posicionamento religioso, bem como com algumas de suas respostas. Essas pessoas querem não somente saber da humanidade, mas delas próprias. De seus mundos interiores. Querem entender por que almejam o que almejam, e por que sofrem demasiadamente por certas coisas e não por outras. Por que ao conquistarem um objetivo, logo ele se mostra supérfluo e pouco interessante. Por que sempre estamos buscando algo?
O indivíduo moderno é destinado a lidar com dificuldades e a sofrer. Uma dura realidade é que toda coisa boa é acompanhada por outra ruim . Toda qualidade anda de mãos dadas com um problema. Não há almoço grátis. Nietzsche questionava se para atingirmos uma grande felicidade não teríamos, necessariamente, de vivenciar uma grande infelicidade. Alturas elevadas exigem grandes profundezas. Neste mar de soluções que geram novos desafios, como o indivíduo moderno, inconsciente de si mesmo, pode navegar?
Mas é aqui que Jung recomenda que entremos, que exploremos, pois "toda luz é sempre nascida da escuridão" - caso contrário, não saberíamos a distinção de luz, se o mundo fosse apenas repleto de luz. Portanto, o auto conhecimento do nosso estado inconsciente pode relevar detalhes que não temos ideia - nos auxiliando a aceitar fatos e quem sabe, encontrar sentido em uma vida sem sentido.
O indivíduo moderno busca segurança material, bem estar e aperfeiçoamento pessoal. Depois de atingir essas metas, o que sobra?
Para Jung, o indivíduo será sempre um ser incompleto, nunca pleno. Ainda que busquemos algo, e ele nos ajude a compreender realidades, continuaremos em processo de formação. Morreremos sem saber alguns pontos. Como toda época, o indivíduo também é incompleto.
Termino a resenha aqui. Peço que o leitor releve possíveis erros na minha interpretação do livro. Tive dificuldades com a leitura - muitas partes são densas em conteúdo especializado, e eu, como economista, e sem formação em psicologia e psicanálise, posso provavelmente ter deslizado e cometido equívocos. Gostei muito da obra e do autor; ele mostra grande domínio do tema e do indivíduo - há várias passagens com ótimos insights sobre como somos e nossos problemas. Espero que a resenha possa ajudar a guiá-los quando forem ler o livro. Eu lerei outras obras de Jung para melhorar meu domínio. Embora eu não seja da área, gosto muito de ler livros desse tipo.
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