quinta-feira, 3 de abril de 2025

Um Grande Tiro no Próprio Pé

Difícil encontrar argumentos positivos para as tarifas de Donald Trump

comércio


Conforme prometido, Donald Trump entregou (com orgulho) o que talvez seja a pior política econômica de um presidente dos Estados Unidos da América (EUA) nas últimas décadas. As tarifas aduaneiras retaliatórias em diversos países irão gerar muitos efeitos - a maioria deletéria para o próprio país que as emitiu, os EUA. 

Discutirei alguns efeitos. O primeiro será o aumento do custo de vida da população do país. Como todo imposto, as tarifas irão elevar o custo de comprar mercadorias e serviços do exterior, elevando o custo de importar. Como todos cidadãos importam bens para complementar o consumo, ocorrerá a perda de poder de compra por parte dos consumidores. Adicionalmente, o aumento do custo de vida é outra forma de dizer que a inflação irá subir

Muitas empresas dos EUA serão negativamente afetadas pois importam bens de capital e matérias primas para produzirem os seus bens finais. As tarifas irão subir o custo de produção, fazendo com que essas empresas repassem o maior custo de produção sobre os preços de seus bens. Logo, mais inflação sobre os consumidores. 

Além do aumento dos preços de vendas, algumas empresas não conseguirão continuar produzindo (não é automático o repasse do maior custo de produção sobre o preço de venda). A demanda poderá cair devido ao preço mais elevado. Empresas irão produzir menos. Portanto, a produção do país tenderá a se reduzir. 

Com o tempo, o cenário irá mostrar preços mais elevados e menor produção, com menor criação de empregos. O efeito de tarifas de importação não costumam variar além dessas descrições. Na verdade, os efeitos são bem triviais para alunos de Ciência Econômica. 

No curso, é ensinado que a abertura e a integração comerciais geram maior produção, menores preços e maior inovação. Maior produção porque empresas nacionais poderão usar o mercado externo para complementar sua produção, reduzindo custos - essas firmas irão importar componentes dos países que os ofertarem a preços mais atrativos. Essa complementariedade na produção, conhecida como cadeias de valor, auxiliam na redução dos custos de produção. Consumidores são beneficiados com produtos mais baratos. Finalmente, dada a maior competição entre empresas (empresas nacionais competem não somente entre elas, como também com as empresas dos outros países), há o esforço em inovar nos produtos, na tentativa de capturar consumidores. As tarifas representam a redução da integração comercial. Os EUA deixarão de ter esses efeitos. Indubitavelmente, é uma medida muito estranha em ser implementada! 

Nem tudo será ruim. No curto prazo, as empresas nacionais diretamente beneficiadas com a maior proteção tarifária conseguirão subir os seus preços, elevar suas receitas e expandir a produção. Possivelmente irão criar mais empregos e subir os salários de seus trabalhadores. Mas esses efeitos são transitórios, conforme o resto do mundo se ajuste ao novo cenário. E o efeito líquido, isto é, comparando esse efeito positivo com os demais efeitos negativos não se torna favorável no longo prazo. Como toda política protecionista e de visão curta, as tarifas irão causar problemas futuros para o país, revertendo os ganhos transitórios de curto prazo. Se protecionismo gerasse riqueza e prosperidade, o Brasil seria uma potência econômica (foi irônico o presidente Lula criticar o protecionismo de Trump, como se ele, Lula, não adotasse cartilha parecida). 

Obviamente que esses efeitos levam meses para ocorrer. Com o tempo poderemos avaliar os impactos da medida sobre os EUA. Meu palpite é que a popularidade de Donald Trump irá derreter conforme as classes de renda baixa e média comecem a sentir a perda de poder de compra e o aumento no custo de vida. Vamos ver. 





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