Forças econômicas afetam a produção de energia nuclear
Estou de volta após um breve recesso de uma semana pela universidade. Como o calendário por aqui ainda está atrasado por conta da última greve, tivemos uma semana de descanso para que os professores da pós-graduação (meu caso) tivessem um descanso.
Sem essa pausa, quando as aula de graduação terminassem, as aulas da pós estariam ocorrendo.
Enfim, vamos às ordens do dia.
Eu publiquei o artigo How sensitive is nuclear production to critical minerals? na revista Resources Policy, revista de Qualis A1. A tradução do título é Quão sensível é a produção de energia nuclear aos minerais críticos.
Minerais críticos são aqueles minerais usados para a produção de energia renovável ou de baixa emissão de gás carbono. Os principais são o cobre, o lítio, o níquel, a terra rara e o urânio. Não é por acaso que os Estados Unidos estão buscando terra rara pelo planeta.
Para grande azar deles e de Donald Trump, a China concentra praticamente toda a produção de terra rara. Isso explica a queda no tom das ameaças e críticas aos chineses. Trump percebeu que a China tem enorme poder de barganha em negociações comerciais, em parte por conta de sua posição quase monopolista no mercado de terras raras.
Esses minerais são críticos porque a oferta deles é frágil, dependendo de fatores políticos, econômicos e geopolíticos. Como antecipei, a terra rara é desejada pelos Estados Unidos, mas a sua oferta é restrita pela China.
Se o futuro da humanidade é o da transição energética, isto é, produzir energia por fontes renováveis, então precisaremos de minerais críticos.
E assim chegamos ao objetivo do meu artigo. Eu avaliei se minerais críticos afetam a produção de energia nuclear.
Não é óbvia uma relação entre energia nuclear e minerais críticos porque países fornecem crédito e subsídios para a produção de energia nuclear. Desta forma, a produção de energia nuclear poderia depender muito mais de políticas públicas do que de preços de mercado.
É muito estratégico ter energia nuclear. Sabe por que?
A energia nuclear emite baixa quantidade de gás carbono, portanto, agride pouco o planeta. E ao contrário da energia renovável, que depende das condições climáticas (sol, vento, água), a energia nuclear não depende do clima.
Mas pode depender de minerais críticos. Eu analisei 3 deles: urânio, cobre e níquel.
O principal deles é o urânio, que serve de combustível para a produção da energia nuclear. O níquel e o cobre entram na infraestrutura das usinas de energia nuclear.
Os resultados mostraram que a produção de energia nuclear decresce quando os preços desses minerais críticos sobem. Portanto, eu capturei uma sensibilidade da produção dessa energia frente a alguns minerais críticos.
Isso é preocupante?
Em parte sim, pois cada vez mais países irão buscar por urânio, níquel e cobre. Pela lei da oferta e da demanda, os preços desses minerais iriam subir, encarecendo o custo de produzir energia nuclear.
Esse artigo é mais uma evidência de que a transição energética não será um processo isento de custos - e de desafios.
Aos interessados, o artigo está aqui.
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