quinta-feira, 31 de julho de 2025

Mudança Climática nos Empobrece?

E a transição energética? Nos enriquece?

transição energética


Minha mais recente publicação é o artigo The impact of climate change and energy transition on production: Are the results sensitive to spillover effects? na revista Energy. A tradução do título é O impacto da mudança climática e da transição energética sobre a produção: Os resultados são sensíveis aos efeitos de transbordamento? Essa revista é prestigiada na área de energia, sendo de Qualis A1. Assim, na última semana eu bati a meta de publicar 4 artigos A1 e também ultrapassei a meta com esse quinto A1 neste ano de 2025. 

A pergunta do artigo não é trivial. Enquanto a mudança climática irá empobrecer algumas áreas, principalmente países suscetíveis a desastres naturais, ela pode beneficiar países com clima pouco propício para a produção agrícola, ao elevar a temperatura e permitir o cultivo de commodities

A transição energética (aumento da produção de energia renovável e redução da energia de combustível fóssil) também tem efeito incerto sobre o crescimento econômico. Como eu tenho documentado em alguns artigos nesse blog, a transição energética pode elevar a inflação global, ou seja, elevar o nosso custo de vida. 

Logo, há custos envolvidos na transição energética.

Os resultados mostraram que tudo depende. Se considerarmos efeitos de transbordamento, a mudança climática irá prejudicar o crescimento econômico. Mas se negligenciarmos esse efeito, a mudança climática irá nos beneficiar.

Então o x da questão é o tal do efeito transbordamento

Efeito transbordamento ocorre quando uma política ou choque em uma região se espalha para outras regiões, talvez até mesmo para outros países. Daí o termo transbordamento. 

A mudança climática tem enorme potencial de transbordar os seus efeitos em todo o planeta. O ponto é que muitos modelos econométricos (técnica que usamos para realizar análises com dados) ignoram esse efeito transbordamento. Eu mostro no artigo que os resultados se alteram por conta disso.

A metodologia, portanto, é relevante. 

Abaixo eu reproduzo uma figura que mostra como os mercados de ações de variadas regiões reagem ao aumento da temperatura global.

choque mercado de ações


Veja que os mercados de ações da Ásia, Canadá, China, Zona do Euro, América Latina, NEUR (países europeus que não pertencem à Zona do Euro), África do Sul e Estados Unidos despencam. É sinal de recessão à vista. E embora não explorado, a queda de mercados acionários costuma reduzir a riqueza e renda das pessoas, empobrecendo-os. 

Eu também mostro que a transição energética dos EUA pode beneficiar a produção econômica do resto do mundo. De novo, efeito transbordamento. Mas nem tudo é efeito positivo: a transição da Europa pode prejudicar o restante do planeta. Por que?

E essa é uma limitação do meu trabalho. Tome nota: todo trabalho científico tem limitação. Pesquisadores são encorajados a mostrarem claramente as limitações para que possam mostrar até onde o trabalho vai e indicar como trabalhos futuros podem complementá-lo.

Não é fraqueza ser transparente e honesto sobre limitações. Chega até mesmo a ser um ponto forte (mostra que o pesquisador compreende a abrangência de seu trabalho).

No meu caso, a limitação é que eu não consigo explicar (o modelo não fornece a informação) como exatamente a transição dos EUA é benéfica para o resto do mundo e a da Europa é prejudicial. 

Esse resultado é curioso porque eu já publiquei artigos mostrando que a transição da Europa iria beneficiar outras regiões

De toda forma, o meu trabalho ajuda a entender os efeitos econômicos tanto da mudança climática quanto da transição energética. Também mostra a importância de considerar os efeitos de transbordamento. 

O artigo está aqui.






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