Cautela com reduções das taxas de juros é aconselhável em cenário de incertezas e dúvidas
E o banco central do Brasil (bacen) acertou novamente em subir a taxa de juros para 15%. A subida da taxa de juros visa desincentivar nós brasileiros de continuarmos gastando nosso dinheiro, dado que maior taxa de juros gera crédito e financiamento mais custosos. Do lado das empresas, o aumento da Selic também visa elevar o custo do investimento. Se consumidores e empresas reduzem os seus gastos e investimentos, os preços nacionais tenderão a reduzir.
Como elevar os preços com pessoas comprando menos?
É isso o que o bacen almeja - e tudo indica que ele conseguirá atingir o seu objetivo.
(Apesar do custo elevado de financiamento, nós brasileiros continuamos gastando. Por exemplo, o número de carros novos vendidos subiu. Estranho, não acha? Carros novos, "populares", estão na faixa de 70 mil reais, com taxa de juros Selic a 15%, e as vendas seguem ocorrendo!)
O bacen tem se mostrado resistente frente às críticas e pressões de Lula para que o banco reduzisse a taxa de juros Selic.
Lá nos Estados Unidos, o seu presidente, Donald Trump, também tem criticado bastante o presidente do seu banco central, o Fed. Diz Trump que é um absurdo as taxas de juros não caírem, dado o estado atual da economia. Trump chegou mesmo a usar termos ofensivos.
Trump deve se sentir incomodado com a possível recessão econômica que a economia de seu país pode enfrentar. A ironia é que parte dessa recessão está sendo causada por ele próprio: as tarifas aduaneiras implementadas em praticamente todo o planeta não estimulam o crescimento econômico. Pelo contrário, tendem a enfraquecer a economia.
Podem ainda gerar aumentos dos preços, pois, sendo impostos, e as tarifas aduaneiras são impostos sobre importações, podem elevar os preços e o custo de vida da população.
Jerome Powell, o presidente do Fed, sabe de tudo isso e está sendo cauteloso com a política monetária. Sua postura está correta.
Outro conflito nos Estados Unidos envolve o ex-apoiador de Trump, Elon Musk, que tem criticado bastante o governo de Trump. Musk está inconformado com o pacote fiscal de Trump que promete reduções de impostos e gastos e a realocação de fundos públicos para diferentes programas.
Há projeções de que esse pacote pode piorar significativamente as contas fiscais do governo, elevar a dívida pública e enfraquecer o dólar. Se isso tudo ocorrer, dado que é sempre muito difícil prever efeitos de pacotes fiscais robustos como o de Trump, será mais uma tacada lamentável de Trump em sua própria economia.
Vai ser difícil continuar culpando o presidente de seu banco central pelas dificuldades econômicas.
Por fim, na queda de braço entre Trump e Musk, me parece que, como presidente do país mais poderoso do planeta (o que faz de Trump, talvez, o homem mais poderoso do planeta), Trump leva vantagem. Ele tem todo o aparato político, regulatório e institucional em suas mãos.
Ele ameaçou deportar Musk. Ameaçou também retirar o apoio de recursos fiscais do governo para a Tesla, empresa de Musk. Como se vê, Trump tem muitas opções.
Não é que Musk seja fraco, é que o cargo de presidente dos Estados Unidos confere muito poder para o empossado.
Em tempos normais, isto é, Trump fora da presidência, eu acreditaria que Musk teria maior vantagem em disputas com Trump. Mas não é o caso.
Essa delonga me lembrou a série da Netflix, House of Cards, quando embates entre políticos e empresários bilionários e influentes também ocorrem - os primeiros costumam levar vantagens.
Se a China serve de exemplo, os empresários não tem quaisquer chances quando entraves ocorrem com o líder do país, Xi Jinping. Por exemplo, em 2020, Xi Jinping suspendeu a oferta de ações do grupo Ant, comandado por Jack Ma, grande inovador no setor privado, criador do Alibaba.
Talvez seja mais sábio para Musk segurar as críticas contra Donald Trump.
Outro ponto é como Trump utiliza o aparato político em questões puramente pessoais e privadas. Não concordo com a sua postura, mas é assim que o mundo funciona.
Vida que segue.
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