quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Pitacos para os Próximos Anos

A certeza é que será um ano desafiador na esfera econômica

haddad pt lula


O fim de ano se aproxima e nossas esperanças tendem a se renovar, com claro viés otimista. É comum que criemos metas para perseguirmos no próximo ano. Eu mesmo vivo criando, reformulando e perseguindo metas - considero ótima ferramenta para o gerenciamento de nossas vidas. Costumo dividi-las em metas de curto e de longo prazo. De toda forma, o "truque" matemático de terminar um ano e iniciar outro nos causa esse efeito. Quem não irá se arriscar  em fazer um jogo na Mega Sena da virada, com prêmio estimado de 500 milhões de reais? (da última vez que calculei o valor esperado de apostar nela, o valor foi negativo, denotando que não é uma aposta racional de se fazer - os estatísticos me entenderão). 

A respeito da economia brasileira, não gostei muito da formação do Ministério da Economia. Os seus principais integrantes ainda seguem teorias econômicas ultrapassadas, com baixo respaldo acadêmico e com contornos preconceituosos com empresários e investidores. Adicionalmente, foi uma baixa relevante a negativa de Pérsio Árida em participar do governo. 

Me parece que essa equipe tentará retornar à estratégia que o PT adotou desde a crise financeira de 2007, elevando a participação do Estado por meio de investimento e crédito subsidiados e expansão do gasto público, concedendo menor importância para reformas micro e macroeconômicas que possam melhorar o ambiente institucional. 

Se este for o caso, não irei esperar por crescimento econômico a níveis elevados, por volta de 3 a 5% ao ano. O modelo de crescimento brasileiro está defasado, necessitando de reformas. Sou favorável a pequenas reformas, mas que consigam melhorar problemas pontuais. 

É verdade que, recentemente, Fernando Haddad tem sinalizado que irá construir uma nova regra fiscal. Por outro lado, a preferência por aprovar primeiramente a PEC da transição, a qual gerou outro furo no Teto do gasto, em detrimento de uma PEC de regra fiscal, foi um pontapé pouco promissor. Por que não foi realizado o contrário, isto é, primeiro aprovar uma regra fiscal, e somente depois realizar furos no teto? Ou ainda, por que não aprovar simultaneamente tanto a PEC da transição quanto uma regra fiscal? Ações falam mais alto que palavras. Essa decisão de inicialmente lutar pelo aumento dos gastos não é um bom indício para os próximos 4 anos - dado que algum ajuste fiscal terá de ocorrer.

Segundo a literatura de crescimento econômico, 4 fatores são fundamentais para gerar elevado crescimento ao longo dos anos. São eles: i) capital humano (escolaridade, profissionalização e treinamento da população), ii) capital físico (máquinas, equipamentos, softwares), iii) progresso tecnológico, e iv) ambiente institucional. Países que conseguiram melhorar todos esses componentes apresentaram elevado crescimento ao longo dos anos. O Brasil patina em todos eles. Você leitor, enxerga melhoras significativas nestes componentes nos próximos anos? Se não, bem, então entenderá o meu pessimismo. 

E a economia internacional? Vários países ainda lutam para reduzir os preços domésticos, com elevações das taxas de juros. Tais medidas surtirão efeito. Todavia, efeitos colaterais também virão, como o aumento do desemprego e o menor crescimento da renda. Em outras palavras, o ambiente fora do Brasil não contribuirá para puxar a economia, como foi o caso de Lula nos anos de 2003-2010 (governos 1 e 2), quando os preços de commodities dispararam, beneficiando as receitas públicas. Lula e o PT também não herdarão reformas e políticas bem ajustadas, como o tripé macroeconômico, privatizações de estatais ineficientes, lei de responsabilidade fiscal e saneamento do sistema bancário. Medidas realizadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), as quais Lula herdou sem dar o mínimo de reconhecimento. Para alguns analistas (eu incluso), parte do sucesso na primeira passagem de Lula como presidente se deu devido a essa boa herança. 

Como nem Lula e tampouco o PT realizaram auto reflexão de seus erros passados, a tendência é que eles se repitam. Aqui a economia repete a vida: precisamos de humildade para evoluirmos e melhorarmos. Quando negamos essa auto reflexão, o resultado tenderá a seguir o passado.

Se posso oferecer um conselho para o próximo ano, será este então: humildade intelectual. Tenho escrito resenhas de variados livros, mesmo quando a obra é sobre economia, não hesito em ler obras de autores com visões contrárias às minhas. Gosto igualmente de ouvir não acadêmicos e pessoas de baixa escolaridade falarem sobre economia. Acredito que sempre há algo para aprendermos e refletirmos. 











2 comentários:

  1. Acho válido ressaltar que a troca de gestão veio com um enorme "prejuízo" no que diz respeito a economia do Brasil. Tanto por consequências da pandemia, quanto por má gestão do ministro da economia da gestão anterior. O país já herdou um problema econômico vindo de gestões anteriores (muito antes da gestão de Jair Bolsonaro)então não dá para fazer previsão somente nos erros da era PT. Não dá para avançar nos quatro fatores para crescimento econômico citados sem gasto de verba. Sobre humildade intelectual, penso que temos que estar acessíveis para todos, independente de idade, formação acadêmica ou renda. A comunicação, quando bem sucedida, faz que haja compreensão da parte de todos. Espero que continue evoluindo em relação a isso.

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    1. "O país já herdou um problema econômico vindo de gestões anteriores (muito antes da gestão de Jair Bolsonaro)então não dá para fazer previsão somente nos erros da era PT.". Na verdade, dá sim. Entramos numa crise fiscal em 2015 por conta das políticas seguidas por Lula e Dilma (com início em 2008/09 como medidas para evitar os efeitos recessivos da crise financeira dos Estados Unidos). Desde então o país não conseguiu debelar essa crise, que vem se arrastando por anos. O nome dado pelo próprio partido foi "Nova Matriz Macroeconômica". E infelizmente, esse mesmo partido está sinalizando na direção de adotá-la novamente.
      Irei discordar de você novamente. Dá para discutir os 4 pontos que mencionei sem elevar gasto público - basta redirecioná-lo, alocá-lo em setores com melhor retorno, e reduzi-lo onde não funciona. Exemplo: eliminar subsídios da zona franca de manaus, desoneraçoes fiscais e privilégios para algumas categorias do funcionalismo público. E alocar essa verba para onde realmente há retornos: educação e saúde. Além de reformas que melhorem o ambiente institucional e econômico, as quais não demandam gasto adicional, mas alterações nas leis

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