sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A Racionalidade na Ciência Econômica

Uma simplificação útil para guiar nossas decisões

ciência econômica


Na Ciência Econômica, adota-se que o indivíduo é racional. Por racional, considera-se que ele considera apenas o estritamente necessário em sua decisão. Fatores externos à sua tomada de decisão não o influenciam. Portanto, é um indivíduo econômico, ou, o termo mais conhecido, é um homo economicus

Este indivíduo não cai na armadilha do curto e do longo prazo. Em geral, os modelos econômicos colocam dois fatores para este indivíduo escolher: consumir ou trabalhar (ou o seu oposto, o lazer). O ato de consumir eleva sua felicidade - na Ciência Econômica, diz-se utilidade. Quando trabalha, este indivíduo tem uma queda da utilidade. Desta forma, trabalhar é um desserviço no quesito utilidade. Este indivíduo, portanto, deve ponderar suas decisões entre consumir e lazer, olhando para o curto e o longo prazos. 

Ele sabe que se consumir muito no presente, terá menor renda no longo prazo. Consequentemente, há um ponto ótimo entre alocar parte de seus recursos em consumo no atual momento e poupar e investir para colher maior rendimento no futuro. O agente econômico não tem problemas com a pressão social, do marketing, e oscilações de humor (por exemplo, compensar um dia ruim consumindo algo caro). Nada o afeta, apenas os retornos provenientes do consumo e do investimento, conjugados com horas de trabalho e de lazer. 

Nós economistas utilizamos vários termos para denotar esse ponto ótimo que mencionei, como melhor resposta, first best, ou o já dito ponto ótimo.

Esse indivíduo econômico sofre uma enxurrada de críticas de variados campos da ciência. Pela sociologia, afirmam que é uma simplificação grosseira criar um indivíduo que não sofre os efeitos do ambiente, da cultura e das pessoas próximas (efeito dos pares). Pelo flanco da psicologia, argumenta-se que um indivíduo sem emoção não é um humano, que somos bombardeados por variados sentimentos, com efeitos sobre nossas condutas. Por que economistas teriam desconsiderado essas observações?

Lembro de meus anos como estudante de graduação (2009-2013) quando esta questão emergia. Eu mesmo tinha dúvidas se não seria adequado incluir outras características neste homo economicus como altruísmo e solidariedade. Talvez, pensava, este indivíduo era desta forma para se encaixar em modelos matemáticos complexos. Caso ele fosse flexibilizado, poder-se-ia ter dificuldades em gerar resultados - todo pesquisador precisa de resultados em seus artigos.

Nas últimas décadas, uma promissora corrente de economistas aceitou essas críticas e tem fornecido evidência de que realmente o indivíduo econômico é muitas coisas, exceto racional no sentido que estou discutindo. Esta corrente é a economia comportamental, um segmento da Ciência Econômica que utiliza princípios de psicologia com algumas ferramentas econômicas. A maioria de seus trabalhos busca mostrar como nós somos irracionais (no sentido contrário de racional da Ciência Econômica, e não no de ignorância) em vários momentos do nosso dia. Eu mesmo tenho interesse em ler alguns destes trabalhos, como os livros Previsivelmente IrracionalNudge: Como Tomar Melhores Decisões sobre Saúde, Dinheiro e Felicidade, e Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar - todos com resenhas neste blog, bastando clicar em seus títulos. Destes livros, os autores dos dois últimos livros foram agraciados com o Prêmio Nobel de Economia, o que elucida o interesse da comunidade acadêmica em estimular estes estudos. 

Passei a pensar mais no indivíduo econômico lendo obras recomendas por minha irmã e minha namorada, como Nação Dopamina. Nesta obra, o excesso de consumo pode envolver a dependência com a sensação agradável que sentimos ao adquirir algo novo, todavia, como essa sensação é breve e transitória, algumas pessoas tendem a consumir cada vez mais, em uma vã tentativa de estender o estado aprazível da compra - talvez torná-lo permanente. Na impossibilidade de concretização desta meta, tem-se efeito semelhante com o da dependência com drogas - o indivíduo se torna viciado e cada vez mais dependente. Veja que o livro Nação Dopamina não faz parte da economia comportamental, mas me fez refletir sobre o indivíduo econômico, pois este não sofre com este tipo de problema. Ele pode consumir normalmente, pois como afirmei antes, ele não sofre com dilemas e emoções comuns que sentimos. 

Embora este texto tenha soado até aqui como uma crítica ao tratamento concedido ao indivíduo econômico, eu concordo com esta abordagem. Meu principal argumento é o de que a Ciência Econômica - ao tratar o ser humano como racional - mostra a melhor alternativa do ponto de vista estritamente econômico, desconsiderando todo o resto. Consequentemente, temos um cenário do que pode ocorrer caso analisemos apenas a esfera econômica, enquanto, caso decidamos incorporar outros fatores, nos afastaremos do resultado econômico ótimo, tendo, portanto, outro cenário, com possível queda no padrão financeiro ou de consumo. 

Em síntese, penso no indivíduo racional como o que a economia pode nos proporcionar, mas que ao aceitarmos outras influências, nos desviamos do resultado econômico, colhendo, desta forma, resultados inferiores do ponto de vista estritamente financeiro. É como se nós economistas disséssemos: você pode aceitar não ser ultra racional, mas o seu resultado do ponto de vista econômico será inferior. Não é uma questão do que é certo ou errado (até porque a Ciência Econômica não tem esta tarefa), apenas de como os cenários se alteram conforme alteramos nossas condutas. 

Penso que a Ciência Econômica presta importante papel como bússola para nossas tomadas de decisões ao traçar e construir diferentes cenários. Somos livres para tomarmos nossas decisões, mas também seremos responsáveis pela colheita destes resultados. 

Portanto, para finalizar, concordo com as críticas das outras ciências no tocante à racionalidade na Ciência Econômica. Mas também entendo a função de mostrar os resultados caso nos comportássemos de forma puramente racional - e indicar cenários alternativos caso aceitemos abandonar essa racionalidade. 








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