sábado, 18 de março de 2023

Nova Crise Financeira à Vista?

Toda quebra bancária gera tensão e ansiedade, mas nem sempre se desdobra em crise financeira

quebra de bancos


Os últimos dias foram de nervosismo no sistema financeiro. Inicialmente, o Silicon Valley Bank (SVB), que operava nos Estados Unidos, decretou falência. Rapidamente outros bancos mostraram problemas de solvência, como o First Republic, também nos Estados Unidos, e o Credit Suisse, na Suíça. Em todos esses casos, os bancos centrais atuaram em sintonia, garantindo socorro financeiro e o recebimento do dinheiro pelos depositantes - neste último caso, o objetivo era reduzir retiradas maciças de capital investido. 

Quando um banco de abrangência relevante quebra, sempre há o risco do comportamento de manada: depositantes retiram os seus fundos com receio de não receberem o capital investido. O problema ganha tons dramáticos quando muitas pessoas seguem esse comportamento. No final, bancos, ainda que solventes e com boas práticas financeiras, não conseguem pagar todos os depósitos, pois parte de seus capitais está em ativos de baixa liquidez, ao passo que os depósitos devem ser pagos no mesmo dia. Este descasamento gera quebras bancárias, derrubando os preços de ativos e ações, podendo se alastrar para toda a economia e o mundo, como foi o caso da última crise financeira, nos Estados Unidos, em 2008.

Viveremos algo parecido? Difícil dizer. Por um lado, as ações dos bancos centrais geram mais resistência ao sistema. Há uma clara mensagem de que os bancos centrais farão o que for necessário para frear o alastramento de uma crise financeira. Todavia, e este ponto é crucial não somente para entender essa questão, como também para entender os limites de modelos e ferramentas econômicas, o funcionamento de qualquer economia, em última instância, depende do comportamento humano, altamente imprevisível em determinas situações. Ainda que bancos centrais resgatem bancos insolventes, garantam liquidez, e digam aos quatro cantos que não há riscos de uma crise, todo esse esforço será infrutífero se nós humanos nos assustarmos e retirarmos os capitais investidos nos bancos. A Ciência Econômica não é uma ciência exata, é uma ciência social aplicada. O componente humano coloca enorme incerteza em previsões. 

Veja, por exemplo, a quebra do SVB. Segundo alguns analistas, o banco, tecnicamente, não era insolvente, pois ele detinha capital para garantir os depósitos. Todavia, levaria tempo para que os ativos de longo prazo fossem convertidos em dinheiro em caixa, para em seguida repassá-los aos depositantes. Em outras palavras, caso todos os seus depositantes fossem mais pacientes e tranquilos, e não tivessem sacado abruptamente o dinheiro investido, pode ser que o banco estivesse em operação, sem necessitar de resgate. 

Então podemos dizer que o problema do SVB - além do equívoco de ter investido vasta parte de seu capital em ativos de longo prazo sujeitos às flutuações das taxas de juros (embora sem risco, pois eram títulos do tesouro dos Estados Unidos), e de não ter se protegido deste risco, por exemplo diversificando suas aplicações - foi de timing. Melhor dizendo, foi da impaciência de seus depositantes. Foi do comportamento humano. E assim saberemos se as atuais quebras de bancos gerarão uma crise financeira de proporção mundial. Tudo dependerá das reações de nós humanos.














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