terça-feira, 21 de março de 2023

Produtividade é Tudo?

Sem produtividade, nenhuma economia consegue avançar no longo prazo

krugman brasil lula


Nestes últimos dias, passei algumas horas preparando aulas que irei lecionar em meu retorno à UFOP - no presente caso, era a disciplina Economia Internacional. Me deparei com a figura abaixo, a qual relaciona produtividade do trabalho (o quanto cada trabalhador produz em uma hora) e o salário por hora (figura do livro de Krugman, Obstfeld e Melitz, Economia Internacional). Veja que há países emergentes (Brasil e México) e economias desenvolvidas (Japão e Estados Unidos). A relação é direta: quanto maior a produtividade, maior tenderá a ser o salário pago.



Posso ser indagado de que o gráfico não mostra causalidade - e não mostra mesmo. Embora não seja o objetivo deste texto, há vasta evidência empírica mostrando tanto a correlação quanto a causalidade entre as variáveis do gráfico. Economias mais produtivas apresentam maiores salários, maior padrão de vida, maior nível de consumo, e maior qualidade de saúde para a população. O gráfico apenas reforça algo já amplamente aceito na Ciência Econômica.

O Brasil está entre os últimos. E faz sentido, pois estamos estagnados no esforço de modernizar a economia, corrigir problemas (fazendo reformas) e melhorar nossas instituições. Como esses fatores não foram alterados de forma significativa, nossa produtividade não avança. Por conseguinte, os salários pagos aos trabalhadores brasileiros também não avança. 

Tome o salário mínimo por exemplo. O valor de 1320 reais é insuficiente para o brasileiro típico levar uma vida razoável - é um conceito subjetivo, mas aqui considero uma vida razoável poder pagar o aluguel de uma moradia, se alimentar, pagar as contas médicas, se educar, realizar atividades recreativas, como malhar, e ter uma vida social. Simplesmente não daria para financiar todo esse aparato de atividades recebendo o salário mínimo (imagine se essa pessoa é pai ou mãe, com os respectivos acréscimos de despesas relacionadas aos filhos). Infelizmente continuaremos a ter um salário mínimo com baixíssimo poder de compra enquanto a produtividade não avançar. Krugman estava certo quando afirmou que "a produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo".

Agora vou criticar o presidente Lula. É notável a sua falta de vontade e indisposição de construir uma regra fiscal para ordenar o gasto público. Como discuti em outros textos, Lula e o PT colocam o gasto público como um dos principais dispositivos para engatilhar o crescimento econômico do Brasil. Estão enganados. Sem dúvida, o gasto público é importante para melhorar a economia e mitigar problemas, mas não é a solução de tudo - é um fator acessório. Volte ao gráfico. O gasto público seria importante se ele conseguisse ajudar a produtividade do país a se elevar, pois neste caso os salários brasileiros subiriam. Quando o gasto público é usado em programas de baixa eficiência (Zona Franca de Manaus, salário do Judiciário, subsídio para os agricultores, obras públicas sem necessidade, Ciência sem Fronteiras), ele não somente prejudica as contas públicas, como também rebaixa a produtividade do país. O resultado são salários que não avançam. O salário mínimo não cresce de forma suficiente. 

Para finalizar, estou passando alguns dias na cidade que nasci, em Ubá-MG. É uma pequena cidade do estado de Minas Gerais, com cerca de 110 mil habitantes. Notei que está ocorrendo uma grande obra para deslocar a prefeitura de lugar. Sairá do centro da cidade e migrará para a rodoviária. Questionei alguns cidadãos (ubaenses) se não seria mais oportuno utilizar essa verba nas escolas e hospitais da cidade, ambos muito deteriorados e com necessidade de verbas (lembre-se: o gasto público também é um recurso finito e, portanto, se alocado em uma parte, outra ficará sem ele). Todos concordaram. Mas disseram que isso não impulsionaria a imagem do atual prefeito (não sei quem é) e de políticos diretamente envolvidos. 

Aos economistas, sabemos que o gasto público em educação e hospital carrega enorme retorno social, com externalidade positiva, ao passo que obras desnecessárias beneficiam apenas alguns poucos envolvidos. O gasto descrito acima é um claro exemplo de gasto público que reduz a produtividade ao invés de promovê-la. Generalize esse tipo de acontecimento para os outros mais de 5 mil municípios brasileiros, e teremos um pouco da história do porquê de estarmos na parte de baixo do gráfico.








3 comentários:

  1. Acho que vale explicar por que a China está na parte de baixo do gráfico. Att

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    1. É porque comparativamente aos Estados Unidos, a China tem uma produtividade baixa, e consequentemente, o PIB por pessoa da China também é baixo. Veja que a China é a segunda maior economia do mundo somente pelo valor total do PIB. Se você dividir esse PIB por sua população, gerando o PIB per capita, a China despenca de posição. Em outras palavras, a China não é um país desenvolvido e rico; e isso se reflete na sua produtividade.

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