domingo, 16 de julho de 2023

Resenha: Investindo em meio a Baixos Retornos Esperados (Antti Ilmanen)

Medidas para proteger, conservar e elevar o rendimento de investimentos financeiros

crise portfolio


A transição demográfica, elevando a proporção de idosos entre a população economicamente ativa, o encarecimento dos sistemas públicos de bem estar (com destaque para gastos com saúde e aposentadoria), e salários reais em desaceleração (ou mesmo declinantes) já seriam fatores suficientes para deixar jovens investidores assustados. Além disso, Antti Ilmanen mostra, por várias figuras e tabelas, que a maior parte dos ativos financeiros nos próximos anos tenderá a gerar baixos retornos. Portanto, como o investidor deve ser portar em meio a esse cenário pouco promissor?

Segundo o autor, a primeira medida é tomar conhecimento e aceitar que possivelmente o futuro fornecerá baixos retornos. Isso não significa que investir deixará de ser uma estratégia recomendada. Todavia, a frequência de booms e altas seguidas nos mercados financeiros tenderá a se reduzir. Esse rebaixamento esperado dos retornos se deve, em parte, a fatores estruturais. Como regra de bolso, quando economias são menos dinâmicas, os ativos financeiros tendem a seguir esse ritmo. Há trabalhos mostrando que o crescimento futuro será mais lento (o termo formal é estagnação secular). Todavia, há também outros trabalhos refutando essa ideia. De qualquer forma, o livro não entra nessa discussão.

Uma vez que o investidor está ciente do cenário futuro de baixos retornos, ele pode seguir condutas que o auxiliarão. Seis passos são fundamentais: paciência, consistência, diversificação, estratégia de longo prazo, poupar mais, e plano de gastos. Paciência porque alguns ativos, como ações, podem levar vários anos até fornecerem o rendimento esperado. Consistência porque todo plano de investimento e meta financeira precisam de receber constantes aportes. De nada adiantaria ter uma ótima estratégia se o investidor não conseguisse manter seguidos aportes financeiros. Consequentemente, e aqui reproduzo, na minha opinião, a melhor mensagem do livro, "uma estratégia financeira medíocre terá maior sucesso do que uma ótima estratégia se o investidor tiver consistência na primeira". 

A diversificação ajuda a reduzir a queda total da carteira de ativos caso alguns dos ativos tenham quedas durante ciclos econômicos. Estratégia de longo prazo caminha lado a lado com a consistência: desvios seguidos da rota de investimento tendem a gerar perdas para os investidores. Lembre-se: é quase impossível bater e superar o mercado sucessivas vezes. Quem diz o contrário, com raríssimas exceções (se é que o existem), estará mentindo para atrair capital e audiência. Poupar mais é um ato necessário pois, como o futuro irá remunerar menos uma determinada quantia investida, precisaremos aportar somas crescentes de capital para fazer o bolo crescer. Finalmente, revisar nossas despesas é fundamental para que nossa renda possibilite seguidos investimentos. Cuidado com comprar parceladas, com o cartão de crédito, e o anseio de atrelar uma vida feliz através do consumo! (O mercado tenta nos levar nessa direção; precisamos ser vigilantes para que a despesa cresça com moderação).

Além desses 6 passos, também temos de perceber erros que podemos cometer. Entre eles, destaco a impaciência, viés para ativos nacionais, ganância,  posições concentradas, excessivo foco nos custos e taxas, e confiança exacerbada. Há mais. Essa lista é longa e merecia maior número de páginas. Infelizmente, porém, o livro as discute de forma breve e pouco aprofundada. E aqui repousa uma das deficiências da obra: o autor concentrou a maior parte do livro em discutir gráficos, tabelas, estudos e modelos, concedendo menor importância para discussões sobre o comportamento humano. Em matéria de investimento financeiro, nossos vieses e ilusões são relevantes. Além disso, a obra teria ficado mais agradável de ser lida (muitas vezes parece simplesmente um livro técnico, para poucos leitores). 

Outra informação útil do livro - sem grandes novidades para quem segue bons analistas financeiros - é a de que, no longo prazo, há reversão para a média. Em outras palavras, isso significa que quando o retorno de algum ativo destoa de forma marcante de seus valores históricos, tal valor tenderá a retornar para seu valor do passado. Posto de outra forma, não há como um ativo apresentar retornos incomuns para uma classe parecida de ativos. Cedo ou tarde, ocorrerá retorno para o seu valor médio, ou seja, reversão à média. Esse conceito extrapola a esfera financeira, podendo ser aplicado em diversos campos.

O livro também discute brevemente a necessidade de não vivermos além dos nossos meios materiais. Novamente, ocorreu ausência de profundidade. Aqui eu teria incluído páginas descrevendo o consumismo, o esforço do marketing em nos levar a gastar cada vez mais, e de associar realização pessoal com a aquisição de bens e serviços. Discussão de dicas para evitar esse tipo de armadilha também seria válida.

De toda forma, para o público especializado em finanças, o livro é rico em análise técnica. Por outro lado, para o público não tão especializado, mas que deseja melhorar sua estratégia financeira, o livro parecerá um pouco difícil de ser lido, embora no final o leitor terá agregado mais informações, dicas e conhecimento para tomar decisões. Em resumo, dependendo do tipo do leitor, a obra poderá auxiliá-lo em maior ou menor grau em sua vida financeira.





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