domingo, 20 de agosto de 2023

Mobilidade Social Continua Insuficiente

Enquanto fatores chaves não forem aprimorados, gerações de famílias pobres continuarão no mesmo patamar

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Estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) concluiu que a mobilidade social no Brasil é uma das menores do mundo. Isso significa que as condições materiais e financeiras dos pais, portanto, das atuais crianças, mudarão muito lentamente com o tempo. Em outras palavras, indivíduos pobres hoje terão dificuldades para se tornarem indivíduos de renda média ou até renda alta no futuro. Termo elegante para ilustrar esse raciocínio é o de que a pobreza tem persistência temporal elevada.

Esse tipo de conclusão não deveria causar surpresa, pois é uma das consequências de um país que pouco cresce (leia-se: o PIB não avança rapidamente). Quando há crescimento econômico acelerado, a economia passa por mudanças que favorecem a mobilidade social, como a criação de novas oportunidades e empregos, maior poder de compra e demanda para indivíduos, e surgimento de novas atividades. O bolo econômico se eleva: o total de renda que é dividido para toda a população é maior. 

Em um país estagnado, esse bolo econômico cresce pouco ao longo dos anos. Se o crescimento econômico é fraco, a produção das firmas também não se destaca. Portanto, o canal de produção gerando mobilidade social é prejudicado. Aqui abre-se espaço para uma maior importância da herança como motor de mobilidade social.

O governo pode tentar melhorar essa situação, embora este também seja uma das razões da baixa mobilidade social. No Brasil, por exemplo, os benefícios da previdência social, os salários do alto funcionalismo público e alguns programas públicos (como subsídios agrícolas para latifundiários) pioram a desigualdade de renda e, portanto, a mobilidade social. Há programas que geram resultado contrário, como as bolsas de pesquisa/estudo em centros universitários e os benefícios do Bolsa Família. O ponto é que o governo pode tanto ajudar ou prejudicar a mobilidade social. 

O caminho para o Brasil melhorar sua mobilidade social é conhecido por muitos: modernizar sua economia e aprimorar o ensino básico e técnico. Acertando esses dois pilares, a discussão poderia mirar detalhes e forças secundárias que influem na mobilidade social. Sem uma profunda melhora nestes dois pontos, continuaremos assistindo os tropeços de um país preso na armadilha de crescimento da renda média, com baixa mobilidade social, e a utilização do governo como gancho para aumentos de renda com pouca contrapartida produtiva (o famoso rent-seeking - explicarei esse termo em próximo texto). 






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