Incentivos e Desempenho

Incentivos podem explicar desempenhos discrepantes 

Todos somos guiados por incentivos. Essa é a principal mensagem do livro Freakonomics (basta clicar no título para acessar sua resenha). Segundo Freakonomics, muitas de nossas decisões são baseadas em interesses. Alguns desses interesses podem ser explícitos ou - o que é a atração da obra - implícitos. Por exemplo, sempre seja cético com profissionais supostamente altruístas, quando sua relação com eles envolve transações financeiras. O capítulo sobre o mercado imobiliário é ilustrativo nesse ponto. 

Na Ciência Econômica, incentivos também carregam a mesma importância. Mankiw, no seu livro de Introdução à Economia, mostrou que os incentivos são tão pervasivos que nem mesmo lembramos de considerá-los. Incentivos estão como um dos 10 princípios da economia. 

No mercado de trabalho, uma forma de incentivar os trabalhadores a serem mais dedicados e produtivos é atrelar ganhos monetários com metas de produção. Vendedores no varejo recebem uma pequena remuneração por vendas. É um artifício para que estes tentem vender o máximo possível, pois assim estariam inflando os seus ganhos - e os lucros da empresa. Outra forma de aumentar o esforço das pessoas é oferecer participação no lucro da empresa. Caso a empresa aumente o seu lucro, os seus empregados também receberão um pequeno pedaço deste. 

Agora cheguei no ponto desse texto. No campeonato brasileiro de futebol, o Botafogo lidera com enorme folga ("siga o vice líder, pois o líder disparou"). Enquanto escrevo este texto, a vantagem do líder para o vice líder é de 14 pontos. Tal vantagem é atípica no Brasil, pois aqui o equilíbrio entre os times é maior do que o das grandes ligas da Europa. 

A maior surpresa é que ninguém esperava essa diferença entre o Botafogo e os demais times (nem mesmo os botafoguenses mais ferrenhos). Como explicar esse desempenho? Uma hipótese é avaliar o elenco do time e compará-lo com os dos seus rivais. O mesmo elenco que se destaca no campeonato brasileiro teve desempenho ruim no campeonato carioca (campeonato de nível inferior se comparado ao brasileirão), ficando de fora das semifinais. Economistas que estudam o futebol (sim, economistas também gostam de estudar esse campo) apontam que o principal fator para explicar o desempenho de times é o elenco. Técnicos teriam baixa influência no resultado final. No caso do Botafogo, não parece que o elenco seja o principal fator explicativo.

Minha hipótese é a de que o novo dono do Botafogo, o bilionário John Textor, alterou os incentivos dos jogadores do Botafogo. Em primeiro lugar, Textor é dono de 3 times de futebol: Botafogo (Brasil), Lyon (França) e Crystal Palace (Inglaterra). Textor tem a política de promover jogadores do Botafogo que consigam se destacar aqui no Brasil. Foi o caso de Jefinho, jogador que se destacou em 2022, e que neste ano se mudou para jogar no Lyon, passando a ter um maior salário em euros. Recentemente, Textor anunciou que outros dois destaques do Botafogo subirão para o Lyon, o goleiro Lucas Perri, e o defensor Adryelson. 

Onde quero chegar com isso? Bom, veja que Textor criou um incentivo para que os jogadores do Botafogo sejam mais dedicados, pois a mobilidade do Brasil para a Europa foi facilitada com os laços entre Botafogo-Lyon. Jogadores do Botafogo sabem que se destacarem na liga nacional terão enormes chances de jogarem na Europa, com salário maior, melhor qualidade de vida e maior publicidade. Você, no lugar dos jogadores do Botafogo, como reagiria a essa ideia?

Há formas de testar minha hipótese, como o acompanhamento de cada jogador durante as partidas: o quanto correu, por exemplo. Se os jogadores do Botafogo estão correndo um pouco mais do que os dos times adversários é indício de que os incentivos colocados por Textor estão de fato funcionando. Não verifiquei esses dados. De toda forma, não me parece absurdo pensar que Textor e os incentivos impostos tenham alguma influência no desempenho discrepante do Botafogo.