Economia Mundial está à mercê dos ventos nos EUA
Conforme prometido no último texto, escreverei sobre minha segunda publicação acadêmica de 2024. O nome do artigo é The impact of the US stock market on the BRICS and G7: a GVAR approach (O impacto do mercado de ações dos EUA sobre o BRICS e sobre o G7: uma abordagem GVAR), publicado na revista Journal of Economic Studies, de avaliação A1 (nível mais alto de publicação de acordo com o ranking brasileiro).
No artigo eu avalio o impacto de um choque positivo no mercado de ações dos Estados Unidos da América (EUA). Dada a quantidade de empresas de capital aberto listadas no mercado americano, a integração financeira dos EUA com o resto do mundo, e a relevância mundial de sua economia, a análise de choques no seu mercado acionário sempre atrai a atenção de analistas. Sabemos que uma quebra do mercado de ações dos EUA, ou estouro de uma bolha, como ocorreu na última crise financeira de 2007-2008, pode gerar efeitos devastadores tanto em sua economia quanto no resto do mundo.
Eu escolhi focar a análise no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e no G7 (Canada, Euro Zona, Japão, Reino Unido e EUA) porque isso me mostraria como o nível de desenvolvimento econômico pode explicar diferentes respostas. O BRICS é formado por países em desenvolvimento, enquanto o G7 é um agregado de países ricos e desenvolvidos. Será que as reações desses países seriam diferentes?
Sim e não. Os resultados mostraram que um choque positivo no mercado dos EUA (ou seja, o valor médio de todas as ações listadas nos EUA subiu) gera aumentos nos mercados de ações, da produção industrial e da confiança nos dois grupos. Nada de diferente, portanto. Entretanto, as estimativas apontaram que as moedas nacionais do BRICS se apreciam em relação ao dólar, enquanto as moedas do G7 perdem valor (se depreciam). Possivelmente isso decorre da entrada de capitais estrangeiros nos países em desenvolvimento. Outra distinção é que as taxas de juros de curto prazo e os mercados acionários do G7 são mais sensíveis aos choques vindos dos EUA. A intuição é que os EUA têm laços financeiros mais sólidos com os países do G7 do que com o BRICS; logo, o G7 sentirá mais fortemente as oscilações nos mercados financeiros dos EUA. Esse é um resultado importante: integração financeira aumenta a vulnerabilidade de economias com o que ocorre com o seu parceiro financeiro.
Podemos depreender que um boom no mercado de ações dos EUA tem o efeito de produzir um boom internacional em diferentes mercados acionários, além de estimular a produção industrial. Isso reforça o papel de economia líder que os EUA sustenta na economia mundial. Um espirro nos EUA pode afetar os seus vizinhos - inclusive "vizinhos" muito distantes.
Eu testei se o comércio bilateral entre países poderia explicar a transmissão do choque dos EUA sobre o BRICS e sobre o G7. A evidência apontou que o principal canal são as transações financeiras entre países. Faz sentido, pois o mercado de ações é um segmento do mercado financeiro. Possivelmente os EUA afetam outras partes do mundo através de partes do mercado financeiro, como os mercados de crédito, de moedas (cambial) e de ativos financeiros em geral.
Em resumo, o artigo mostra que políticos, analistas e formuladores de políticas deveriam ficar atento ao mercado de ações dos EUA. Ele produz consequências globais. Esse efeito é totalmente diferente de outros mercados de ações. Pense no mercado de ações do Brasil, com mais ou menos 150 empresas listadas. Muitas delas não constam entre as maiores do mundo. Um choque no mercado de ações brasileiro dificilmente produziria consequências sobre outras economias - no máximo, talvez, sobre os vizinhos latino americanos. Outros trabalhos podem testar essa hipótese. Eu testei choques no mercado acionário dos EUA, e os resultados sustentaram o papel proeminente deste país sobre a economia mundial.
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