domingo, 25 de fevereiro de 2024

Mercado Imobiliário ou Preço do Petróleo: Qual Choque é Mais Relevante?

Ambos têm o potencial de reverter ciclos econômicos 

preço do petróleo


Nesta semana eu tive minha terceira publicação científica do ano. É incomum publicações sucessivas em prazo tão curto, mas fico feliz de vivenciar esse resultado fruto de meus esforços, com muito estudo, trabalho e disciplina. Publiquei na revista da Universidade de Manchester, a The Manchester School. O artigo é Housing market, oil prices, and macroeconomic volatility in the G7 (Mercado imobiliário, preços de petróleo, e a volatilidade macroeconômica no G7). 

No artigo, eu comparo o efeito de dois choques mundiais: um choque no mercado imobiliário dos Estados Unidos (EUA) e outro no preço do petróleo. Eu avalio como o grupo das 7 economias mais ricas do mundo (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, e EUA) reage a esses eventos. A importância de investigar a reação mundial a um choque imobiliário nos remete à última grande crise financeira, ocorrida em 2007-2008, exatamente nos EUA, com o epicentro sendo a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. O efeito cascata foi significativo, afetando diversas economias, especialmente as europeias. No caso do petróleo, além de seu efeito sobre nossas vidas diárias (vide o aumento recente nos preços de frutas - e infelizmente também no preço do café), o preço do petróleo é uma das principais variáveis no cômputo econômico. Subidas e quedas no seu preço afetam todos os países, direta ou indiretamente.  

Minha última resenha de livro foi sobre a obra de Daniel Yergin, um clássico sobre a história do petróleo. Aos interessados, o link da resenha é esse aqui. A obra mostra como o petróleo modelou e modificou todo o funcionamento da economia mundial, lançando países pouco relevantes no cenário internacional a proeminentes players - para citar alguns: Arábia Saudita, Iraque e Irã. Portanto, há sempre grande interesse de pesquisadores em esmiuçar a relação do preço do petróleo com o desempenho de economias. O diferencial do meu artigo é que eu comparo o choque do petróleo com o choque imobiliário nos EUA e levanto a pergunta: qual causa mais flutuações no cenário internacional?

Primeiramente, os resultados mostram que um boom no mercado imobiliário dos EUA gera um boom internacional: a produção e os mercados de ações sobem em decorrência do aumento do valor das moradias nos EUA. Veja que o choque que eu simulo é o inverso do choque ocorrido na crise de 2008. Em 2008, ocorreu uma queda do valor do mercado imobiliário dos EUA. Aqui eu avalio uma subida no seu valor. Consequentemente, os resultados mostram influência deste mercado sobre a economia mundial. Há forte integração comercial e financeira entre o mercado imobiliário dos EUA com as economias mais ricas do mundo. Colocando de outra forma: um dos canais pelo qual os EUA afetam a economia mundial decorre pelas oscilações de seu mercado imobiliário

Mostrei que a transmissão do choque no mercado imobiliário dos EUA à economia mundial ocorre pelos mercados financeiros: mercados de crédito e de ações. A intuição é que oscilações no mercado imobiliário dos EUA afetam as bolsas de valores internacionais, as quais causam mudanças nas taxas de juros de curto e de longo prazo. Esses movimentos, por sua vez, terminam por afetar a produção industrial. Talvez porque o custo do crédito caiu (com a queda das taxas de juros) e pela maior disponibilidade de capital para investir (devido ao aumento do valor das ações), empresas decidem expandir a produção. 

Finalmente, as estimativas mostraram que mais ou menos um quarto (25%) de toda a variação na produção e dos mercados de ações internacionais decorre do mercado imobiliário dos EUA. O preço do petróleo é responsável por cerca de 10% de variação nesses mercados. Portanto, comparativamente, o mercado imobiliário dos EUA afeta mais a produção e o valor das ações internacionais  do que o preço do petróleo. Isso não significa que o preço do petróleo não gere consequências. Ele gera. O ponto é que eu fiz uma análise comparativa. Os 10% de influência do preço do petróleo sobre economias não é uma cifra irrelevante, pelo contrário. 

Em resumo, os dois choques são muito importantes para compreender flutuações e oscilações no cenário internacional. Países estão sujeitos aos ventos externos, especialmente se estes vierem do mercado imobiliário dos EUA ou dos preços do petróleo. Contextualizando com o presente, o acirramento da guerra da Rússia com a Ucrânia e a possível escalada dos conflitos no Oriente Médio são eventos que têm o potencial de gerar rápidas subidas no preço do petróleo. Meu artigo mostra que iremos sofrer as consequências.







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