segunda-feira, 10 de junho de 2024

Resenha: 30 Lições para Viver (Karl Pillemer)

Dicas de quem passou pelo o que o futuro nos reserva

lições de vida


Karl Pillemer é um sociólogo que entrevistou aproximadamente 1000 norte-americanos idosos com o objetivo de coletar os seus conselhos e experiências e formular diretrizes para nossas vidas. Uma grande vantagem dessa abordagem é que essas pessoas, por terem vivido e superado várias dificuldades, têm o conhecimento que somente a vivência nos oferece. Se em nossas vidas, conforme envelhecemos, nos tornamos mais cônscios de erros que cometemos - auxiliando-nos a evitá-los no futuro, bem como a evitar em criar expectativas pouco realistas -, esses idosos têm essa vantagem sobre nós. Por isso que o autor se refere a eles como os especialistas/sábios em viver: esses idosos possuem algo que somente poderemos adquirir com o passar dos anos. 

A obra é estruturada em 6 partes. Cada uma dessas partes discute um tema geral oferecendo 5 lições extraídas dos idosos. No final de cada parte, o autor faz um resumo e discussão do tema sob análise.

O primeiro tema é sobre casamentos. As 5 lições são as seguintes: i) case com alguém parecido com você, e não diferente; ii) amizade é tão importante quanto o amor, iii) não crie uma disputa com o seu parceiro, iv) conversem um com o outro (especialmente sobre situações desconfortáveis), e v) tenha comprometimento não somente com o seu parceiro, mas também com o casamento. Em resumo, os idosos aconselham a tomarmos tempo para decidir com quem iremos dividir nossas vidas. A pressa é uma inimiga de uma escolha bem acertada. Uma vez feita a escolha, não a trate como dada. Ela deve ser cultivada todos os dias - daí a importância de ser uma pessoa que compartilhe valores semelhantes, além do diálogo para resolver problemas que surgirão. 

O segundo tema é ser bem sucedido na carreira. A melhor das 5  lições é: escolha uma carreira com recompensas intrínsecas a ela, e não monetárias. Por mais que possa parecer idealista, os idosos recomendam escolhermos algo que nos faça acordar dispostos, que nos faça ter um sentido em passar horas e horas trabalhando. O trabalho irá nos acompanhar por pelo menos um terço de nossas vidas até quando nos aposentarmos, portanto, cuidado adicional deve ser dado nessa parte. Escolher uma profissão pela ótica financeira é arriscado pois, uma vez atingido o objetivo desejado, a sensação de frustração pode aparecer, dada a negligência com o que se gosta, se deseja e se sonha em fazer. Nenhum dos idosos afirmou que deveríamos i) trabalhar o máximo possível para sermos felizes, ii) que deveríamos ser tão ricos quanto as pessoas próximas, e iii) que deveríamos escolher nossa carreira com base nos salários. Nenhuma alma defendeu esses pontos. Entretanto, atualmente é raro encontrar indivíduos que não se esforcem em seguir alguns desses 3 pontos. 

O terceiro tema é conselhos na paternidade. A lição que mais gostei é a de que praticamente tudo se resume ao tempo. Pais que desejam melhorar a relação com seus filhos deveriam priorizar o tempo gasto com suas crianças. Quanto maior o tempo gasto juntos, maior a probabilidade de que os laços sejam aprofundados. Omissões e ausências marcam as crianças, comprometendo o relacionamento futuro. Outra lição é para não bater nos filhos. Dada a idade dos idosos, todos (ou a maioria) sofreram com pancadas durante a infância. Eles são unânimes em argumentar que essas "pancadas educacionais" mais atrapalham do que ajudam. Eu não sou pai, mas compartilho essa visão (tomei umas pancadas também). O autor defende que deveríamos abandonar a ideia da perfeição. Jamais seremos pais perfeitos. Por mais que esforcemos em criar as condições ideais para as crianças, o futuro irá guardar desdobramentos que irão desmoronar toda essa proteção e planejamento. Penso que a ideia de abandonar perfeição se estende não somente ao campo da paternidade, como também em outras áreas, como a afetiva, profissional, e pessoal. Que busquemos nos tornarmos melhores, mas não perfeitos

O quarto tema é envelhecer sem medo. Os idosos nos contam que a vida pode ser tão boa quando estamos velhos do que quando éramos mais jovens. Talvez a sabedoria obtida ao longo dos anos nos ajude a contemplar coisas que não dávamos atenção. Por exemplo, alguns idosos aconselharam que deveríamos manter laços com amigos e familiares. Perderemos importantes pessoas ao longo dos anos. O senso de não ter aproveitado suas presenças pode ser uma fonte de lamentação no futuro. 

O tema que eu mais gostei foi o quinto, viver sem lamentar. As lições são i) seja sempre honesto, ii) diga sim para oportunidades, iii) viaje mais, iv) escolha um parceiro de vida com extremo cuidado, e v) diga o que deve ser dito agora, e não deixe de dizer depois, pois pode não existir esse depois. Fiquei cético apenas com o ponto iii, sobre a necessidade de viajar para se tornar uma pessoa mais completa e plena - vejo o viajar como objetivo de vida como uma grande vitória e cartada do marketing comercial, que conseguiu transformar uma mercadoria (viajar) em artigo necessário para uma vida plena. O gastar em viagem se tornou em investimento pessoal, conseguindo mascarar o fato de que viajar é comprar uma mercadoria. Um argumento para me apoiar é que os antigos (gregos, romanos, e mesmo pensadores antes desses) nunca mencionaram viajar como condição para uma vida feliz e satisfatória. Mas enfim, talvez eu esteja errado! De toda forma, voltando às 5 lições, os idosos recomendam que tenhamos a mente e a cabeça abertas a novos desafios, com a coragem de encará-los e de dizer o que desejamos. 

O último tema é sobre felicidade. Os idosos alertam para i) aproveitarmos ao máximo o tempo que temos, ii) escolhermos sermos felizes, pois a felicidade é uma escolha e não uma condição (discuti esse ponto com uma psicóloga, e ela discordou em partes dessa afirmação), iii) termos cuidado com o tempo; tempo gasto se preocupando é tempo desperdiçado (de acordo), iv) apreciarmos os pequenos momentos da vida, e v) termos um lado espiritual, não necessariamente religioso, mas algo que transcenda a vida e te dê conforto. 

No final da obra, podemos discordar de alguns pontos. É até natural que isso ocorra, pois esses idosos viveram durante o início do século passado, tempos diferentes, desafios diferentes. Todavia, humanos não mudam tanto assim. E a sabedoria obtida pelo tempo, pelos fracassos e decepções é artigo valioso, tornando a obra uma leitura agradável (eu gostei muito de ler as experiências de vida dos idosos - o autor teve o mérito de conseguir embutir sentimento nelas) e recomendável. 











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