terça-feira, 14 de julho de 2020

Comerciantes se deparam com apenas 10% do nível das vendas da pré-pandemia

Mais um fato que pode enfraquecer o suposto trade-off entre confinamento e crescimento

lockdown


A informação de que os comerciantes da cidade de São Paulo estão vendendo apenas 10% das vendas realizadas antes da pandemia não causa surpresa. A maior parte dos indivíduos está mais pobre, a tendência é de consumo com parcimônia e com maior cuidado às restrições financeiras. Em uma palavra, o país ficou mais pobre. E tal fato é refletido em menor nível de consumo.

No início da pandemia tivemos intenso debate - em escalas nacional e internacional - sobre o possível trade-off entre medidas de confinamento (lockdown) e crescimento da economia. Grande parte do público argumentou que, se fechássemos a economia durante determinado período, o resultado seria pior, pois o estrago na produção mais do que compensaria os efeitos benéficos do confinamento. O famoso estudo sobre a gripe espanhola nos Estados Unidos (escrevi aqui) sugeriu que isso não era verdade, que a relação era de medidas mais restritas de mobilidade da população com maior crescimento do país, ou seja, confinamento era benéfico para a economia no longo prazo. A princípio, resultado pouco intuitivo. Mas ele se torna mais claro ao observarmos o comportamento individual das pessoas em diferentes situações.

Conforme colegas, parentes, familiares ou mesmo alguns desconhecidos pegam o vírus e adoeçam, a população se torna mais aversa ao risco de se expor a ele - o termo econômico é aumento da aversão ao risco. O reflexo disso são medidas cautelares, como reduções do consumo e do trabalho. Mesmo percebendo que suas rendas serão reduzidas, impactando adversamente sobre o consumo e o bem estar, as pessoas preferem enfrentar esse lado do que a possibilidade de pegar o vírus e morrer (por pior que seja a situação financeira, falecer não é muito atrativo). 

O famoso Prêmio Nobel em economia comportamental, Daniel Kahneman, explicou que nós seres humanos temos maior aversão a perdas (escrevi aqui). Colocamos maior valor e peso em uma possível perda. Logo, a disseminação do vírus faria com que nos comportássemos mais defensivamente, ofertando menos trabalho. O que os vendedores de São Paulo estão enfrentando é uma consequência desse fato - obviamente não ignorando outros importantes fatores, como as falências de várias empresas e o elevado desemprego.




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