sexta-feira, 20 de agosto de 2021

A política econômica de hoje afetará o futuro?

Provavelmente, com a utilização de diferentes canais de transmissão

política monetária fiscal


Ao se pensar em políticas fiscal (gasto do governo ou impostos) ou monetária (taxa de juros), o lugar comum é considerar apenas o efeito que tal alteração terá sobre o produto no presente. De forma similar, as possíveis ramificações dessas políticas são deixadas em segundo plano.

Por um lado, está correto associar essas políticas às oscilações que o PIB terá. Muito provavelmente este sofrerá alguma modificação em decorrência da implementação dessa política, todavia, não é muito claro os canais pelos quais a política será transmitida ao PIB. Explico: supondo que o banco central reduza a taxa de juros, como esta queda afetará o PIB? Pode-se dizer que a queda dessa taxa irá baratear o crédito tanto para consumidores quanto para investidores, portanto, o consumo de bens duráveis se elevará e o investimento pode ser expandido conforme empresários adquirem novas máquinas e equipamentos. O resultado final seria o incremento da produção nessa economia. 

Por essa explicação, o canal de transmissão da política monetária seria a redução no custo do crédito. Mas nada impede a existência de outros canais. A queda da taxa de juros afeta o mercado de ações? E o mercado de câmbio? E as expectativas? Como esses fatores impactam, por sua vez, o PIB?

Vou destacar as expectativas. Todo ministro da economia almeja convencer a população de que a economia irá melhorar. Não é puro otimismo esse tipo de atitude. Ele está tentando melhorar a confiança do público. Quando as expectativas com o futuro melhoram, consumidores tendem a elevar o gasto privado, o que estimula a demanda por novos bens, fazendo com que empresas produzam e contratem mais, e a roda da economia gira no sentido de aumentar a produção. Expectativas também importam para investidores, como expliquei anteriormente. Mas a questão persiste. Como melhorar as expectativas? 

Agora volte ao primeiro parágrafo. A política fiscal eleva o gasto do governo, e espera-se que esse gasto adicional consiga estimular o produto. E se, no instante em que essa política é implementada, a expectativa do público deteriore por causa, digamos, de que este público considere que o governo está excessivamente endividado, com baixos recursos, e que a economia pode colapsar por causa da ausência de reformas estruturais? Nesse caso, apesar do aumento do gasto do governo, a piora das expectativas puxa tanto o consumo quanto investimento para baixo. Pode ser que o estímulo fiscal seja inócuo, ou até mesmo cause a queda do PIB! (Observação: caso tenha se perguntado, os temores indicados pelo público são os vividos pela economia brasileira atualmente).

Então, o leitor pode afirmar confiante, que este governo trate de melhorar as expectativas! Tarefa nada trivial, porque é uma variável fora do controle direto do governo. O próprio banco central, controlador da taxa de juros básica da economia, a Selic, se esforça por "ancorar" as expectativas inflacionárias. Em termos mais simplificados, o banco central também tenta melhorar as expectativas, no seu contexto, em ajustá-las em consonância com a meta de inflação almejada. Uma inflação "ancorada" não depende demasiadamente da inflação passada, logo, não é uma inflação inercial. Estudantes de macroeconomia sabem da dificuldade que é para a autoridade monetária estabilizar os preços quando estes seguem de perto os preços passados. A política monetária perde potência nesse cenário. 

Desta forma, em toda política econômica, seja ela fiscal ou monetária, temos não somente o efeito que esta causará sobre o produto no presente, mas também como (o canal) pelo qual ela afetará o produto. Esses canais serão ativados e modificados, podendo gerar efeitos não previsíveis (como a política fiscal expansionista que causa a queda do produto por causa da deterioração das expectativas). E tais efeitos sobre o produto e sobre outras variáveis da economia estarão presentes no futuro, o famoso longo prazoNa prática, a política implementada hoje repercutirá no futuro. De certa forma, nos tornamos reféns de políticas econômicas pensadas e implementadas de forma incorreta no passado.



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