quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Ausência de reformas aumenta desafio do Banco central

Banco central se esforça para melhorar ambiente macroeconômico do país

selic banco central brasil crise


O aumento da taxa de juros Selic pelo banco central foi medida acertada para corrigir alguns preços da economia brasileira. Entre esses preços, temos a taxa de inflação, com previsões de fechar o ano por volta de 6,5%, e a taxa de câmbio, a qual teima em permanecer em patamar superior a 5 reais/dólar. Motivaram a decisão do banco central a letargia do governo no esforço de reformas que possam melhorar as contas públicas e a incessante pressão para aumento dos gastos do governo, como Bolsa Família, auxílio emergencial e outros programas sociais. 

A princípio, não há nada de errado em reivindicar aumento do gasto público para atender parcelas da população. Faz parte de sociedades democráticas a disputa por recursos. A particularidade brasileira, sendo uma das razões para o descasamento entre receitas e despesas, é a busca da expansão do gasto sem a contrapartida das receitas. Nesse caso, teríamos aumento da dívida pública. Embora essa dívida tenha se reduzido nas últimas semanas (não por méritos das autoridades, mas simplesmente devido a mudanças no cenário econômico), sua tendência permanece de se elevar ao longo do tempo. Precisamos estabilizá-la. 

Dessa forma, modelos macroeconômicos e a realidade mostram que caso a taxa de juros de curto prazo (Selic) não fosse alterada, tanto o câmbio quanto a inflação continuariam a se elevar, compensando a inépcia do banco central em subir os juros. No caso do câmbio, sua desvalorização ocorreria pela saída de capitais, ao passo que a inflação continuaria a subir por causa desse mesmo câmbio mais depreciado e também por pressões da demanda, com destaque para o gasto público. Felizmente o banco central reagiu a esse ambiente. Por essa descrição, vê-se o equívoco do raciocínio de que a taxa Selic deveria ser mantida baixa por causa do fraco crescimento econômico. Sem a reação do banco central, estaríamos condenados a conviver em uma economia com preços ascendentes e que não entregaria crescimento econômico - cenário macroeconômico caótico mina quaisquer expectativas de aumento da produção. 

Para jogar uma evidência nesse texto, abaixo construí o gráfico com o risco-país do Brasil. O risco-país apresenta a avaliação do mercado financeiro em relação a investir no país. Quanto este se eleva, significa que investidores estão mais reticentes a alocarem os seus recursos na economia brasileira. Dessa forma, a taxa de juros de remuneração dos ativos brasileiros sobe para compensar o maior risco de se investir (isso ocorre com qualquer outro ativo financeiro que tem maior risco de calote: paga-se mais para compensar a maior probabilidade de perda).

brasil economia crescimento juros selic


Observe que o risco-país se elevou nos últimos meses desse ano. O desequilíbrio estrutural das contas públicas, os preços ascendentes, o câmbio em patamar elevado, a ausência de reformas e a velocidade das vacinações podem ser pensados como fatores que ajudam a entender a elevação do risco de se investir no Brasil. 

A teimosia em admitir a compra de vacinas como melhor medida para lidar com a atual pandemia está saindo cara. Escrevi em fevereiro e março desse ano que optamos pelo caminho mais oneroso, qual seja, distribuir auxílios emergenciais aguardando pela imunidade de rebanho. A compra das vacinas (mesmo que superfaturas!) sairia muito mais barato. Ou para utilizar termos de economia mais formais, a vacina era (e continua sendo) a opção com melhor custo-benefício, a saída eficiente para um desafio de enormes proporções. 

O banco central, sozinho, será incapaz de segurar o equilíbrio do ambiente macroeconômico brasileiro. Ainda precisamos das reformas para otimizar o funcionamento da economia.







Nenhum comentário:

Postar um comentário