Blanchard destrincha teorias macroeconômicas com ênfase na influência das expectativas
Assim como o livro de Mankiw, Introdução à Economia, este livro é voltado para o ensino formal de Ciências Econômicas. Na obra de Mankiw, é apresentado o quadro geral da economia, com algumas ramificações tomadas de forma breve. Em Macroeconomia, uma das principais ramificações é explorada mais a fundo.
Como é um livro que cobre vários tópicos da macroeconomia, é importante se ater a um dos seus eixos centrais. Novamente fazendo um paralelo com o de Mankiw, logo no início o autor apresentava 10 princípios que guiariam todo o desenvolvimento dos capítulos, auxiliando na tarefa de dominar os conceitos. Blanchard segue estratégia parecida, focando não em 10 princípios, mas em um conceito essencial para o estudo da macroeconomia: as expectativas.
As expectativas dos participantes do mercado serão incorporadas principalmente nas análises de política econômica. As políticas monetária (taxa de juros sob controle do banco central) e fiscal (gasto e tributação do governo) incorporam as expectativas e vários possíveis resultados são verificados.
Para ajudar nesse estudo, Blanchard acrescenta o médio prazo. O comum é a divisão da macroeconomia em curto e em longo prazo (já tive professor que dizia que o aluno que se referia a médio prazo não entendia de economia). Todavia, o novo acréscimo foi pensado para situar de forma mais exata a influência das expectativas sobre a economia. E funcionou a contendo.
O curto prazo é o efeito imediato da política sobre a economia. Por exemplo (em uma economia fechada), o governo aumentou o gasto público. Como consequência, o produto se expande. Supondo que os agentes interpretem essa elevação do gasto como insustentável para o equilíbrio financeiro, estes podem exigir maiores taxas de juros para comprar a dívida pública como forma de compensar o maior risco do governo. No médio prazo, portanto, é quando o efeito das expectativas se concretiza. Nesse caso, a taxa de juros se eleva, encarecendo a dívida pública e o custo de crédito. Um dos possíveis resultados é o de que o consumo privado e o investimento recuem, eliminando a expansão inicial do produto. No longo prazo, com os recuos do investimento, e da poupança, a acumulação de capital se reduz, gerando uma economia com menor crescimento econômico e menor padrão de vida. Veja que uma expansão fiscal resultou em uma economia mais pobre no longo prazo.
No tocante ao longo prazo, o livro segue o padrão de outras obras, apresentando o modelo de Solow, mostrando avanços nessa literatura, como os modelos de crescimento endógeno, e discute a influência de instituições sobre a economia, como realizado na famosa obra de Acemoglu e Robinson, Por que as nações fracassam. O destaque é que o livro dá maior ênfase à influência que o formato da legislação de direitos de propriedade e do papel do governo como regulador exercem sobre a economia. Outras obras costumam passar direto, às vezes omitindo esses pontos.
Voltando às expectativas, é argumentado que uma consolidação fiscal (ajuste fiscal) pode gerar efeitos positivos sobre a produção no médio e longo prazo, apesar da retórica presente contra esse tipo de ajuste no noticiário brasileiro. No curto prazo, sem o papel das expectativas, de fato há queda da produção, todavia, conseguindo ancorar as expectativas de que o ajuste é crível e que dará origem a um governo financeiramente saudável (com estabilização inicial da dívida/PIB, e posterior declínio desta), pode-se observar quedas das taxas de juros da economia, como a que financia a dívida pública. Nesse caso, o investimento se elevaria no médio prazo, acarretando o aumento da acumulação de capital e, por conseguinte, maior produção no longo prazo. Um dos problemas centrais dessa questão é criar um ajuste crível e bem planejado e aceitar a recessão no curto prazo - difícil convencer políticos a seguirem essa trajetória.
Eventos recentes, como a crise financeira de 2007 nos Estados Unidos, a crise do Euro em 2009, o crescente endividamento público das nações avançadas, a estagnação secular e o quantitative easing do banco central dos EUA são todos discutidos com a utilização das ferramentas fornecidas pelo livro. Outros eventos que marcaram a economia mundial também são abordados, como a crise da Argentina do currency board em 2001. Recomendo a leitura dessas partes, pois ajudam muito a mostrar a aplicabilidade de conceitos recentemente apresentados.
Teorias do consumo, do investimento, do mercado de ações, entre outras também estão presentes nos mais de 20 capítulos do livro. As ferramentas teóricas são apresentadas de forma didática, com gráficos e tabelas que auxiliam o entendimento. Para as pessoas que têm interesse em um estudo mais formal de economia, este livro é o caminho certo. Eu diria que o ideal seria iniciar pelo livro de Mankiw, Introdução à Economia, e depois se dedicar a esse (Mankiw daria uma imagem geral, enquanto Blanchard se concentraria em um dos pontos dessa imagem). O estudo desses dois livros já capacita o leitor a entender e discutir economia em ótimo nível.
Muito obrigado, ajudou demais a escolher os livros
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