quarta-feira, 4 de maio de 2022

Sobre a entrevista de Lula na Time

É temerário não discutir economia em uma país carente de reformas e estagnado

economia pobre


Eu gosto de ler o noticiário internacional quando ele se detém ao Brasil, pois costuma apresentar uma visão mais imparcial sobre nosso país. Assim sendo, fiquei curioso com a entrevista que Lula concedeu para a revista Time

No geral, acho que o ex-presidente se saiu bem, com exceção de dois pontos. O primeiro, alardeado por vários jornais, foi de que o presidente da Ucrânia, Zelenski, é tão culpado pela guerra quanto Putin. Sem dúvidas é uma afirmação ruim, mas não tão ruim quanto nos faz pensar se tirada fora de contexto. O jornalismo explorou essa parte. Para quem ler essa parte da reportagem, perceberá a intenção argumentativa de Lula. Entretanto, mesmo com essas ressalvas, a afirmação foi infeliz. A repórter da revista aproveitou esse deslize para bombardear Lula com novas perguntas. Tive a impressão de que ela não gostou quando Lula atribuiu parte da responsabilidade da guerra aos europeus e aos Estados Unidos. 

Sobre os europeus e a atual guerra, o passado de colonização, guerras e invasões em territórios não conhecidos (invasão unilateral, à lá Rússia na Ucrânia), marcados por eventos brutais, verdadeiras carnificinas com o povo nativo, reduz a moralidade que os europeus tentam impor à Rússia. De forma similar, a guerra na Síria, a subsequente crise dos refugiados, e o baixo interesse dos mesmos europeus em admiti-los em seus países, evidencia forte contraste com o tratamento com os ucranianos e com os sírios. Mas quem disse que países e seus povos gostam de lidar com hipocrisias de atos passados? Ou mesmo reconhecê-los? 

O segundo tropeço de Lula - imagino que essa crítica ressoe mal principalmente em ouvidos de economistas - foi quando ele afirmou que durante campanha não tem que se discutir política econômica. Como assim? Fiquei surpreso ao ler essa passagem. Lula justificou dizendo que o principal é vencer a eleição, e somente posteriormente compor a equipe econômica. Eu discordo totalmente. Seguir essa estratégia é deixar todo o eleitorado no escuro, sem saber como se comportará o político uma vez eleito. O que o país mais precisa é justamente discutir a economia, pois ela claramente mostra sinais de desgaste, de seguir um modelo defasado, ultrapassado, obsoleto, o qual não permite que o Brasil se aproxime das nações mais ricas. Sinceramente, fiquei um pouco decepcionado. Queria ter lido mais sobre como, se eleito, Lula trataria a parte econômica - embora eu tenha uma ideia por conta de afirmações soltas que ele tem liberado durante a campanha. 

Lula realçou o quanto se importa com pobres, com inclusão social e com a educação. Os seus assessores deveriam lembrá-lo que sem discutir economia, nenhum desses objetivos se concretizará. Para auxiliar pobres, para promover maior diversidade e para fomentar a educação, como sempre ocorre, é necessário recursos públicos. Como obtê-los? Pela economia.

Além desses tópicos, Lula mostrou sua conhecida característica de se incluir nas dificuldades do país, com sua infância marcada pela pobreza, pela falta de acesso em educação formal. Eu que não sou um grande fã dele, reconheço que ele é carismático. Um ponto forte para qualquer político. Infelizmente, porém, não penso que ele está preparado para enfrentar os desafios econômicos do país, a começar por sua negação em discuti-los. 

Eu gostaria de ler uma entrevista parecida com Bolsonaro. Não sei se isso aconteceria. Pelo menos nos jornais internacionais que acompanho - The New York Times, The Economist The Wall Street Journal -, nas poucas vezes em que mencionaram Bolsonaro, não o foram em termos favoráveis. E em todas eu concordei com a avaliação. Como tenho discutido nesse espaço, Bolsonaro deixou de cumprir várias das promessas econômicas que realizou durante sua campanha presidencial. Pior do que isso foi revelar, o que foi ocultado durante sua campanha, o seu lado corporativista e populista. Traços também detectados em Lula quando presidente entre 2003 e 2010. 





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