domingo, 26 de fevereiro de 2023

Política Monetária Afeta a Emissão de Gás Carbônico (CO2)

E a economia mundial afeta a emissão doméstica de CO2

economia modelo ciência


Hoje eu inauguro uma nova seção neste blog. Vou chamá-la de Academia. Irei apresentar minhas recentes publicações acadêmicas que tenho nesta parte, discutindo um pouco de minha área de pesquisa. Portanto, esta parte do blog será um pouco mais técnica do que as outras. Assim, o blog passa a ter 4 espaços: Artigos (colunas), Resenhas de livros, Rapidinhas de economia, e Academia. 

No final do ano passado, iniciei uma parceria com os professores João Ricardo Faria (Jocka) e Mauro Rodrigues. Jocka é brasileiro, mas faz carreira acadêmica nos Estados Unidos. Atualmente é professor da Universidade Atlântica da Flórida, com mais de 100 artigos científicos publicados. Mauro Rodriguez é professor da USP (é também meu orientador de doutorado). Mauro faz parte do canal do youtube Por Quê? e escreve semanalmente na Folha de S. Paulo, no espaço Por quê? O seu canal traz temas de economia para o público geral, facilitando a compreensão de fenômenos econômicos. 

Publicamos o artigo Does Monetary Policy Impact CO2 Emissions? A GVAR Analysis (Política monetária impacta a emissão de gás carbônico CO2? Uma análise GVAR), na revista Energy Economics, a principal revista internacional de economia voltada para temas ambientais. Sem falsa modéstia, foi uma grande publicação, fruto de muito trabalho e estudo por nossa parte. 

Sobre o artigo, ele analisa se a política monetária do banco central dos Estados Unidos (US), do Reino Unido (UK), do Japão (JPN), e da Zona do Euro (EUR) afeta a emissão de CO2 em suas respectivas economias. Nós mostramos que sim, e discutimos possíveis canais de transmissão.

Uma hipótese é a que quando o banco central sobe a taxa de juros, ele causa alterações em outros mercados financeiros, como o mercado de crédito de longo prazo e o mercado de ações. Essas flutuações afetam a economia ao influenciar o investimento, o qual, por sua vez, se relaciona com o nível de emissão de CO2

Uma vez mostrado esse resultado, argumentamos que a emissão de CO2 de um país não depende exclusivamente dele. O gás carbônico total em uma economia pode ser fruto de outras economias. A ideia é que CO2 é uma externalidade negativa: quando um país vizinho polui o meio ambiente, esse gás não respeita as fronteiras, ele atinge países vizinhos, e assim a emissão de qualquer país depende também da emissão de outros países. Essa intuição não é nova. Nossa contribuição foi mostrar matematicamente e estatisticamente que isso ocorre. Nós mostramos que aproximadamente 25% de todo gás carbônico de uma economia advém de fontes externas, isto é, da poluição de outras economias. O restante 75% é fruto dessa própria economia.

Nossos resultados não sugerem que o banco central deveria subir a taxa de juros para reduzir emissão de gás carbônico. Não faria sentido a utilização do banco central para esse fim. Argumentamos que a política monetária, além de afetar o mercado financeiro e o investimento, também afeta a emissão de CO2. Paramos aqui.

Também discutimos que a cooperação internacional faz sentido quando pensamos na emissão de CO2, pois os resultados mostraram que a emissão do país x é afetada pela emissão dos países y, z e w. Não há como fugir disso. Por definição, CO2 é uma externalidade negativa (sobre a definição de externalidade, recomendo esse artigo aqui). 

Em resumo, no artigo mostramos que a política monetária do banco central afeta a emissão de CO2, e que a economia mundial afeta a emissão de CO2 de países. 

Fui feliz em contar com a contribuição de dois experientes economistas e professores, com enorme rigor técnico e científico. Aprendi e tenho aprendido muito com eles. Esse é um dos melhores lados da vida acadêmica: há grande parceria entre pesquisadores. E assim pretendo seguir minha carreira acadêmica, aprendendo e ganhando experiência com os mestres.






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