sábado, 27 de janeiro de 2024

Guerras, Riqueza, e Incerteza

Cenário externo tende a piorar com conflitos armados 

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Recentemente comecei a ler a obra A Arte da Guerra, escrita pelo general chinês Sun Tzu. Em uma das passagens, o general afirma que toda guerra demorada e prolongada é prejudicial para as partes envolvidas, pois o erário do Estado vai se reduzindo ao longo do tempo. Como os recursos, tanto produção de armamentos quanto de alimentação para as tropas, são desviados do Estado para a campanha militar, a população começa a sentir os efeitos da guerra. Abre-se espaço para descontentamento interno, podendo minar a autoridade do Estado.

Lembrei da atual guerra entre a Ucrânia e a Rússia, uma guerra que tem sido caracterizada como de "atrito": uma única batalha não definirá o rumo do vencedor. Vencerá quem suportar por maior tempo as agressões. Ambas as economias envolvidas têm sentido os efeitos negativos do conflito, como aumento dos preços, e desvalorização da moeda. No caso russo, as sanções vindas dos Estados Unidos e da Europa aceleraram a deterioração da economia, enquanto na Ucrânia os efeitos deletérios estão sendo suavizados pelo auxílio monetário de aliados. 

Vez ou outra ouço o argumento de que guerras fazem países se tornarem mais ricos. Que a indústria militar tende a inovar mais, e que tais inovações se espalham pelo resto do país. Ou ainda que o PIB é impulsionado pela crescente produção e utilização de insumos para a guerra. Esses efeitos existem. Mas as estatísticas mostram que eles são mais do que compensados pelos efeitos adversos, como alocação inadequada (desequilibrada) dos recursos produtivos do país no fronte militar, deixando outras áreas minguando, e a perda de um dos principais insumos para a prosperidade de qualquer país: sua população e o capital humano (capacitação e qualificação profissional) que possui. Guerras empobrecem países

Citando a Segunda Guerra Mundial como exemplo, ela reduziu o PIB dos países envolvidos. Entretanto, após o conflito, praticamente todos as nações se recuperaram muito rapidamente, com destaque para a Alemanha e o Japão. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, mas em menor grau. Talvez essa decolagem pós conflito cause a confusão no raciocínio de que guerras enriquecem países.  

Thomas Malthus, responsável pela teoria populacional, na qual dizia que o aumento da população iria gerar fome e miséria, pois os meios de alimentação eram restritos (e cresciam a taxas inferiores ao aumento de pessoas), entra no time de Sun Tzu, no de indivíduos que não viam crescimento econômico como um processo contínuo. Na época de Sun Tzu, uma das formas do Estado se enriquecer, talvez a principal, era conquistar outros Estados e expandir os domínios (assim também era o pensamento na série Game of Thrones). Crescimento econômico é um conceito moderno. Ele surgiu a menos de 300 anos. 

Há indícios de que o conflito entre Israel e o Hamas irá se estender, envolvendo outros países. Se esse for o caso, a economia mundial sofrerá outro baque. Reportagens mostram que a produção em Israel será menor esse ano - e talvez nos próximos, conforme a guerra dure mais do que o previsto. No caso israelita, milhares de trabalhadores que atuavam no setor dinâmico do país, o setor tecnológico, foram afastados de suas atividades para atuarem na guerra. É o caso do capital humano que mencionei anteriormente. 

O que gera crescimento econômico e prosperidade é um ambiente econômico e institucional moderno e estável. Os Estados Unidos se tornaram a potência econômica não por guerras, mas pela acumulação de fatores produtivos, crescente produção e sucessivas inovações tecnológicas. As guerras que o país participou, como as duas guerras mundiais, a guerra (o desastre, melhor dizendo) do Vietnã, ou a guerra no Afeganistão empobreceram o país. A China é outro exemplo: sua ascensão econômica decorreu não de guerras, mas devido às mudanças nas políticas adotadas nas décadas de 1970 e 1980, com teor capitalista (ou de economia de mercado), de propriedade privada e busca de lucro. De comunista a China tem apenas o nome do partido - pelo menos quando o assunto é economia.

É muito difícil, permeando a impossibilidade, realizar previsões econômicas apuradas em períodos longos de tempo. Quem diria que o ano de 2024 se iniciaria com dois conflitos que podem degenerar em contendas mundiais, envolvendo diversos países? Além disso, há o risco dos Estados Unidos e da China se envolverem em tensões por causa de Taiwan, o principal produtor de microchips do mundo. 

Vamos ver como a economia brasileira irá se locomover nesse cenário de crescentes incertezas. A taxa de juros Selic pode ser uma das primeiras variáveis a acusar os golpes externos. 





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