Mises mostra a
impossibilidade de existência de uma economia socialista
Ludwigvon Mises pertenceu à geração de ouro dos economistas austríacos do início do
século XX. Tendo sofrido nas mãos do Estado opressor e controlador – na esteira
dos movimentos fascista e nazista -, fugiu da Áustria para morar nos Estados
Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Foi um crítico voraz e eloquente do
socialismo, mostrando em seus escritos as vantagens do liberalismo político e
econômico.
No livro
Ação humana, uma de suas principais obras, Mises expõe o termo praxeologia,
estudo da ação humana, e o relaciona com a economia de mercado. Ele mostra que
todo o desenvolvimento e desdobramento da sociedade decorre das ações
individuais; é o indivíduo que molda o mercado no qual está circunscrito: “[a]
essência da sociedade é a própria ação dos indivíduos”.
Os
indivíduos desejam satisfazer suas necessidades da melhor forma possível, às
vezes cometendo erros, mas aprendendo em seguida a superá-los. Assim, a ação
individual fornece o fundamento para a ação voluntária entre as partes.
Forma-se a cooperação propositada, em estrita oposição à coerção realizada pelo
Estado para atingir determinados objetivos. É uma constante na sua obra ataques
ao intervencionismo estatal promovido por poucos indivíduos procurando moldar a
sociedade conforme suas preferências, em detrimento da escolha individual de
toda a população.
Incansável
defensor da liberdade econômica, Mises mostra como o interesse privado conduz a
economia a construir mecanismos para atender a população. O processo é muito
parecido com o argumentado da mão invisível de Adam Smith no livro A riqueza
das nações (resenha aqui), todavia, Mises foca na ação individual, a célula primária e mais
importante para a cristalização dos mercados.
Afirma
que o “mercado é uma democracia dos consumidores”, ressaltando a teoria do
consumidor soberano, muito utilizada também por Say (resenha aqui). Como os empresários buscam
o maior lucro possível, precisam satisfazer os seus clientes da melhor maneira
possível para promover suas vendas. Devem saber lidar com os caprichos e
modismos dos consumidores pois, em caso de insucesso, outros empresários
tomarão o mercado. A economia de livre mercado é inerentemente e
intrinsecamente relacionada com a instabilidade do status quo – daí a busca do
Estado pelos empresários para proteger a posição econômica, via proteção de
mercado, subsídio ou tarifas contra a competição externa.
Outro
ponto alto do livro é a teoria do ciclo econômico. A autoridade pública ao
incentivar o crescimento econômico, produzindo um boom de investimentos, faz
com que investimentos sejam realizados em setores pouco produtivos, em parte
por causa da taxa de juros estabelecida em patamar artificialmente baixo. As
expectativas dos agentes se elevam e conduzem a novas ondas de investimentos,
novamente financiados a baixo custo. A inflação costuma ser o resultado dessa
experiência. Mas não é a parte final. O governo pode tentar forçar o
crescimento, mesmo quando há indícios de excesso de capacidade produtiva e
desequilíbrios entre oferta e demanda. Postergar o ajuste não resolverá a
situação, pelo contrário, somente adiará algo inevitável.
Quando o
ajuste ocorrer, isto é, quando o governo reestabelecer a taxa de juros para o
seu patamar normal, várias inversões de capital tendo sido feitas durante o
boom se mostrarão pouco eficientes, e falências empresariais irão ocorrer,
conduzindo a economia para a recessão e ao subsequente aumento do desemprego. Mises interpreta
tal evento como a limpeza, o expurgo de investimentos mal direcionados. As
crises seriam entendidas, dessa forma, como intervencionismo bem intencionado,
mas com consequências dolorosas para a economia, “o que conta na vida real não
são as boas intenções, mas os resultados”.
Mises
ainda mostra como a intromissão do Estado nos negócios econômicos perturba o
cálculo econômico, confundindo as ações dos indivíduos e conduzindo para a
realização de investimentos pouco produtivos. No limite, quando o governo
abraça e se dissemina por todo o país, o resultado é a extinção do cálculo
econômico e, com ele, da economia de mercado – corolário para os governos
socialistas e a explicação para a impossibilidade de sua sobrevivência.
Pode-se
dizer que Mises segue os passos de Adam Smith, Say, David Hume e dos demais
autores do liberalismo clássico. Atualiza o pensamento desses e cria inclusive
novas teorias – com destaque para a teoria do ciclo econômico e da
impossibilidade do socialismo. A leitura de suas obras é fundamental para a
compreensão das consequências do intervencionismo Estatal e da estruturação de
baixo (indivíduos) para cima (agregados macroeconômicos) da economia de
mercado.
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