terça-feira, 21 de setembro de 2021

Resenha: Crepúsculo dos Ídolos (Friedrich Nietzsche)

Nietzsche mostra a influência de filósofos/religiões sobre a construção do pensamento moderno

crepúsculo dos ídolos


Crepúsculo dos Ídolos foi um dos últimos livros escritos por Nietzsche, o qual apresenta grandes mudanças em relação às obras anteriores. Uma de destaque é a de que o autor deseja ser compreendido. Anteriormente, dizia que os seus livros eram para poucos. Talvez o insucesso (quando ainda vivo) de Assim Falou Zaratustra tenha o motivado a se fazer mais claro e acessível. Portanto, Crepúsculo dos Ídolos funciona como uma síntese de suas ideias centrais, uma apresentação de seu sistema, mantendo, todavia, ainda algumas sentenças que exigem maior cuidado para serem entendidas, mas no geral a obra é mais convidativa do que outros textos do autor. 

O livro inicia criticando grandes nomes da filosofia como Sócrates e Platão, religiões, como o cristianismo, e conceitos morais, como a compaixão e o amor ao próximo. Esses "ídolos" são criticados por terem pavimentado o caminho para a ascensão do homem moderno, este, segundo o autor, em contradição consigo mesmo, com sua vontade de poder (Nietzsche julgava o desejo de se tornar mais poderoso e influente o principal objetivo do homem). O paradoxo é emergido pela moralidade reinante, com influência predominante do cristianismo, cujo cerne se baseia no domínio de instintos e sentimentos. 

Nietzsche denomina os seguidores dessa moralidade de decadentes, termo que representa falta de vontade de viver, desânimo, ressentimento, abatimento. Nas palavras do autor, os decadentes seguem a "revolta dos escravos" (expressão contida no livro Genealogia da Moral), quando ocorreu a inversão de valores, sendo o que era tido como bom e virtuoso (ambição, egoísmo) julgado como ruim e mau, portanto, um pecado. Os oprimidos, fracos, em condição inferior passaram a ditar as regras da sociedade. Nietzsche identifica que essas regras morais aprisionam instintos básicos da vida humana. A falta de válvula para liberar essa energia tende a enfraquecer os homens, retirando sua vontade de viver. 

Afirma, se baseando no mundo antigo, principalmente o romano, que sentimentos como o da compaixão eram tidos como desprezíveis. Dessa forma, a atual era adotou o que era visto como qualidade baixa no passado. Isso é uma forma de entender o desprezo que Nietzsche mostra por seu contemporâneos, com raras exceções. 

Outro campo que recebe diversas críticas é o da política, com o sistema democrático. Algo impossível para o autor, pois seria uma contradição per se igualar desiguais. Embora não tenha dedicado muito espaço ao conceito de homem superior, a aversão à tese de igualdade entre todos é em parte justificada por este conceito. O homem superior seria a superação do homem regido pela atual moralidade, uma volta ao que Nietzsche interpreta como o ideal da humanidade (homem que segue a moralidade antiga, dos clássicos). Consequentemente, esse tipo de homem estaria acima da maioria, sendo, portanto, incoerente tentar igualá-lo com os demais. Assinala Nietzsche: "Nunca tornar igual o desigual”. 

Parte significativa do livro se dedica a mostrar que toda moralidade é forjada por grupos e/ou pessoas influentes (com foco nos sacerdotes), e que não há fato moral, ou seja, é incorreto relacionar moralidade com algum tipo de verdade, pois não existe tal relação. A própria verdade é discutida pelo autor. Para contextualizar com o título, ele mostra como alguns "ídolos" julgaram possuir a verdade, quando na realidade tinham apenas uma interpretação do mundo. Todavia, algumas dessas interpretações se enraizaram nas sociedades, tornando dogmas que são seguidos. 

Como nos demais livros, o autor gosta de bifurcar suas ideias, saindo de uma discussão e indo para outra diversa, depois retomando o fio deixado solto. Nesse livro a dificuldade de seguir o seu raciocínio é menor, dado que Nietzsche desejava ser compreendido. Logo, a obra é especialmente recomendada para leitores que desejam conhecê-lo. A prosa é menos rebuscada, menos enigmática e mais clara, o que facilita a compreensão das ideias expostas. 





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