Malthus mostra os limites do crescimento populacional
Thomas Robert Malthus (1766-1834) foi um
reverendo que escrevia sobre economia e demografia – lecionava a cadeira de
economia política, sendo talvez o primeiro professor da história a ocupá-la.
Pertencente ao período clássico da economia, era amigo de grandes nomes, como o
de Adam Smith, e a proximidade também era vista na sua forma de pensar. Ganhou
notoriedade com o livro Ensaio sobre a população.
O ponto principal da obra é a lei da
necessidade, a qual assinala a impossibilidade da “população de qualquer país
de crescer além do alimento que pode produzir ou adquirir”. Ou usando outra
citação, “o crescimento da população é limitado necessariamente pelos meios de
subsistência”. O fato é que Malthus mostrou que o crescimento populacional
acarreta consequências para a sociedade. Em particular, tende a empobrecê-la
quando tal expansão for superior ao crescimento dos meios de subsistência.
É uma pena que muitas vezes esse autor seja
tomado como fonte de piada pelo seu erro de previsão no tocante ao ritmo de crescimento
da população e dos alimentos. Ele previu que a população cresceria a taxas
geométricas enquanto os meios de subsistência a taxas aritméticas. O resultado
seria um desencontro entre as duas variáveis, causando a miséria para os pobres
– o que contribuiria para recolocar a população em seu tamanho natural,
condizente com os meios de subsistência.
Apesar do erro ao traçar o cenário futuro da
humanidade, Malthus foi importante por mostrar que há limites para o aumento da
população. No seu raciocínio, ele considerou uma sociedade estática, sem
progresso tecnológico, e concedeu pouca importância para o comércio
internacional – apesar de ter vivido na mesma época, parece não ter lido muito
bem David Ricardo e sua teoria das vantagens comparativas. Malthus afirmou que
o crescimento das pessoas acarretaria na queda dos salários e no aumento do
preço dos alimentos. Isso adicionaria mais pressão para conter o crescimento
populacional. Outros fatores para auxiliar a contenção demográfica seriam as
guerras, pestes, miséria e desastres.
Entrou no controverso debate sobre as Leis dos
pobres, implementada pela Inglaterra para conter o surto de mendigos, se
posicionando desfavorável a elas. Argumentou que o subsídio público faria com
que os pobres perdessem o incentivo para trabalhar e poupar. Também
contribuiria para a reprodução de famílias com poucas condições para cuidar de
suas crianças. E assim entraria em ação a lei da necessidade, que frearia o
crescimento populacional por meio da queda do padrão de vida dos pobres, com a
ascensão da miséria: “Impedir o retorno da miséria está - infelizmente - além
do poder do homem”. Essa última passagem mostra outra característica de
Malthus, a de fatalista. Era um pessimista em relação à melhora significativa
da condição dos pobres.
Na esfera estritamente econômica, concordava
em alguns pontos com Adam Smith (mais sobre Smith aqui), como a relação positiva entre liberdade civil
e riqueza e no egoísmo como motor individual para promover a harmonia de
interesses privados e gerar maior prosperidade para a sociedade. É estranho não
ter seguido o raciocínio de Smith e não ter percebido as implicações gerais da
prosperidade inicial da economia, a qual se espalharia para a população e
arrefeceria a lei férrea da necessidade – possibilitando, com isso, o
crescimento populacional. Malthus chegou perto, como pode ser visto nessa
passagem: “A razão pela qual a maior parte da Europa é mais populosa hoje do
que era no passado é que a atividade dos habitantes fez com que esses países
produzissem uma maior quantidade de meios de subsistência humanos”.
A justificativa para o sofrimento terrestre,
principalmente por parte dos pobres, ou daqueles que caíam na lei da
necessidade, é realizada por meio de Deus. O aperfeiçoamento pessoal e moral
ocorreria pelos percalços e adversidades da vida. A necessidade seria o
incentivo para os indivíduos buscarem melhores práticas. Desprovidos desse
incentivo, o ser humano cairia em hábitos nocivos para o seu desenvolvimento,
como o alcoolismo.
A lei da necessidade influenciou grandes
nomes, como Charles Darwin, e ouso apontar o vencedor do Nobel de economia,
Robert Solow. No caso desse último, no seu famoso modelo apresentado em 1956,
no estado estacionário, o crescimento populacional, se superior à taxa de progresso
tecnológico, tenderia a reduzir o estoque de capital por pessoa, ou seja, o
padrão de vida tenderia a se reduzir – mantendo constantes as demais variáveis
do modelo. Esse modelo parece usar a lei da necessidade de Malthus, embora um
pouco mais sofisticada. Por outro lado, ainda no campo econômico, os modelos de
crescimento endógeno, seguidos, por exemplo, por Paul Romer, denotam que o
crescimento populacional influenciaria positivamente a criação de ideias, e
estas impulsionariam o crescimento econômico. Como se vê, Malthus, apesar do
erro de previsão, permanece vivo no campo das ideias.
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