Financeiramente, energia de combustível fóssil continua sendo preferível
Nessa semana eu publiquei o 13º artigo científico do ano na revista Macroeconomic Dynamics. O artigo é Climate investments, stock markets, and the open economy (Investimentos climáticos, mercados de ações e a economia aberta). O link para o artigo completo é esse aqui.
Nós (o artigo foi escrito com o auxílio do professor João Ricardo Faria e do economista do banco central da Europa Peter McAdam) analisamos se o aumento de inovação tecnológica direcionada para promover a transição energética contribuiria para o aumento do valor de ações de empresas. Em outras palavras, o artigo consistiu em avaliar se o mercado financeiro precifica positivamente firmas comprometidas com a transição verde no setor de inovações. Inovações para promover a transição energética é chamada de inovação verde.
Note na figura abaixo que os países do G7 (Canadá, Japão, Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha e Itália) estão aumentando as inovações verdes, ainda que as inovações tenham caído nos últimos anos. Isso significa que há o esforço em promover inovações verdes. Nós mensuramos inovações verdes pelo número de patentes emitidas. Patentes relacionadas ao combate à mudança climática ou transição energética são conhecidas como patentes verdes.
Um dos resultados do artigo (talvez o principal) é o de que quando os Estados Unidos aumentam suas inovações verdes, os mercados de ações de todos os 7 países despencam. Veja a figura abaixo retratando esse resultado.
Essa figura capturou o fenômeno conhecido como efeito transbordamento ou efeito spillover. Ele retrata o fato de que o que ocorre em uma localidade pode espalhar e afetas outras localidades. Daí o termo "transbordamento". Então, no contexto do estudo, as inovações verdes dos EUA transbordam as fronteiras do país, contaminando os mercados acionários de outros países, com efeitos negativos. As firmas perdem valor.
Esse resultado não é unânime na literatura que avalia as relações entre inovações verdes e retornos nos mercados financeiros. Outros trabalhos mostram que as firmas têm ganhos de mercado quando inovam. Todavia, não é o que encontramos no artigo. Há perda generalizada. Como discutimos no texto, esse resultado desafia parte da literatura.
Uma possível explicação é que o mercado financeiro não estaria "comprando" a ideia da transição energética. Como mercados de ações precificam o futuro considerando informações do passado e do presente, a mensagem é a de que o aumento das inovações verdes em detrimento de inovações em geral reduziria a lucratividade das empresas. É como se empresas optassem por reduzir os seus lucros para atingir metas ambientais. De fato, há dúvidas sobre a viabilidade financeira da transição energética.
Indício de que a transição verde é custosa é a de que há grande pressão sobre governos para financiarem políticas e projetos de energia renovável. Por exemplo, a Convenção das Nações Unidas para a Mudança Climática (COP29), realizada nessa semana, teve resultado criticado ao definir 250 bilhões de dólares anuais para financiar propostas climáticas (a esperança era de que o valor ultrapasse 1 trilhão de dólares). Eu levanto o questionamento: se políticas para reduzir ou alterar a mudança climática são lucrativas, por que há tanta pressão sobre governos para fornecerem financiamento? Se algo é lucrativo, indivíduos, empresas e participantes do mercado privado em geral irão correr para realizar tais atividades. A possibilidade de lucro sempre atrai trabalhadores, empreendedores, empresários, credores e investidores. Não parece ser o caso da mudança climática, porque... Porque ela é, até o momento, custosa. Há alternativas financeiramente preferíveis pelos participantes da economia, como a energia de combustível fóssil, mesmo que isso piore ainda mais a mudança climática. É o que o artigo publicado mostra.
Por fim, por que as inovações verdes dos EUA derrubam os mercados de ações de outros países? Note que as maiores empresas do mundo são multinacionais, muitas delas com sede nos EUA, e com ações em diversas bolsas de valores. Desta forma, as políticas dessas empresas se alastram para outros países, por exemplo nas suas subsidiárias. Outra explicação reside no fato de que os EUA costumam impactar todo o planeta. Portanto, como inovações verdes poderiam reduzir tanto o lucro quanto o crescimento de empresas norte-americanas, mercados de ações já estariam precificando esse possível evento, com quedas nas ações. Eles estariam prevendo que a queda de dinamismo econômico dos EUA terminaria por afetá-los.
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