quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Restrições à Imigração irão Empobrecer os EUA

E elevar o custo de vida

trump custo produção


Depois de muita incerteza, Donald Trump se sagrou o novo presidente dos Estados Unidos (EUA). Parte da mídia, talvez a maior parte, previa vitória apertada da candidata do Partido Democrata, Kamala Harris, mas tal previsão passou longe. Tanto na Câmara quanto no Senado, o partido de Trump, o partido Republicano, também saiu vitorioso. É sinal de que os americanos estão insatisfeitos com os discursos e políticas do partido de esquerda, o Democrata. 

Uma das principais medidas defendidas por Trump é a redução da imigração, tanto pela expulsão de imigrantes ilegais quanto pelo aperto das medidas para coibir e desacelerar a entrada de imigrantes. Claro que essa medida tem contornos políticos e culturais: a população reclama de perda de identidade com os influxos. Há acusações de que imigrantes ilegais cometem mais crimes. De toda forma, há também o argumento econômico - ainda que não explicitamente declarado. 

A dinâmica econômica é a seguinte. Imigrantes ilegais costumam ter menor escolaridade e qualificação técnica inferior à média da população dos EUA, logo, recebem menores salários em empregos pouco desejados. Enquanto parte dos americanos pode recusar a trabalhar em empregos de baixo status, esses imigrantes aceitam de bom grado e sorrindo essas ofertas de trabalho. Desta forma, imigrantes contribuem para a queda do salário nacional e também para a queda da inflação (relação econômica: maiores salários puxam os preços para cima). Note que a população nativa não gosta muito desses efeitos: quem gosta de saber que os salários estão caindo ou crescendo de forma mais lenta? 

Imigrantes também inflam a quantidade de trabalhadores do país. Aqui o efeito é sobre a produção. Maior contingente de pessoas significa maior produção. Consequentemente, imigrantes contribuem para o aumento do PIB. Essa relação é unânime entre economistas: trabalhadores aumentam a produção. Todavia, se imigrantes serão expulsos e a entrada de pessoas barrada, a produção sofrerá um efeito negativo pela queda de quantidade de trabalhadores. 

Desta forma, a queda da imigração carrega consigo dois efeitos: aumenta o custo de vida e reduz a produção. Poderíamos extrapolar e considerar efeitos de longo prazo, no setor de inovação. O economista vencedor do Prêmio Nobel de 2018, Paul Romer, argumenta que o tamanho da população é relevante para gerar inovação tecnológica. Maior população traduz em maior quantidade de pessoas pensando e pesquisando e em maior número de cientistas. Logo, a probabilidade de surgir inovações é maior do que em um cenário com a população reduzida. Possivelmente esse efeito é ainda maior nos EUA, economia com infraestrutura moderna e com maior mobilidade social do que em países como o Brasil. A mobilidade social é importante pois permite que pessoas pobres, como imigrantes ilegais, consigam subir na vida, atingindo melhores empregos, entre eles, de cientistas e pesquisadores. Então, pode ser que também a inovação sofra um baque nos EUA. Estou exagerando? 23% das patentes nos EUA foram criadas por imigrantes e 45% das maiores empresas do país também foram fundadas por imigrantes

Uma ironia disso tudo é que os EUA, historicamente, dependeram de enormes fluxos migratórios para se tornarem a potência que são hoje. A cultura dos EUA é uma mistura das culturas dos povos que viajaram continentes para tentar uma vida melhor na ex-colônia do Reino Unido. Hoje, ironicamente, parte das críticas à imigração é que ela tem trazido elementos culturais distintos, afetando e mudando a cultura dos americanos. Pausa e reflexão na expressão "cultura dos americanos".

Essa descrição é o argumento econômico que, a meu ver, pouco se fez presente nos debates e na formação da ideia de barrar imigrações ilegais. Me parece que o teor da medida é principalmente cultural e político. Neste caso, toda essa discussão que fiz, embora pertinente (na minha opinião), não representou papel relevante.

Como já disse em outros textos, podemos ignorar a economia e sua dinâmica, mas não deixaremos de sentir os efeitos econômicos. Assim sendo, as imigrações podem ser barradas e imigrantes ilegais expulsos, mas os impactos no custo de vida, na produção e talvez na inovação irão ocorrer. 









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